Google Maps mostra duas pessoas enterradas em túmulos sob pista de aeroporto, e a razão bizarra é explicada

por Lucas Rabello
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Se algum dia você passar pelo Aeroporto Internacional de Savannah/Hilton Head, nos Estados Unidos, talvez note algo incomum nas laterais da pista. Entre as faixas de pouso e decolagem, duas placas discretas marcam um local improvável: os túmulos de Catherine e Richard Dotson, um casal enterrado ali há mais de 140 anos. E não estão sozinhos. Junto deles, repousam dois parentes, John Dotson e Daniel Hueston, todos sob o asfalto de uma das áreas mais movimentadas do aeroporto. Como isso aconteceu? A história mistura tradição familiar, guerra e um pedaço de terra que resistiu ao tempo.

No século XIX, o local onde hoje aviões sobem e descem era conhecido como Cherokee Hill, uma propriedade rural pertencente aos Dotson. Nascidos em 1797, Catherine e Richard viveram décadas de matrimônio no local, cultivando a terra e criando raízes na comunidade. Quando Catherine faleceu em 1877, seguida por Richard em 1884, foram sepultados no cemitério da família, que abrigava cerca de 100 túmulos. Por quase 60 anos, o local permaneceu intacto, até que a Segunda Guerra Mundial mudou tudo.

Catherine e Richard Dotson estão enterrados sob a pista do aeroporto de Savannah/Hilton Head.

Catherine e Richard Dotson estão enterrados sob a pista do aeroporto de Savannah/Hilton Head.

Na década de 1940, o governo dos EUA precisava expandir suas bases aéreas para treinar tropas e operar aeronaves como os bombardeiros B-24 Liberator e B-17 Flying Fortress. A região de Savannah, pela localização estratégica, foi escolhida para abrigar o Chatham Field, uma instalação militar. A família Dotson já não era dona da terra, mas o cemitério ainda existia quando as autoridades decidiram construir a pista. A solução padrão era remover os restos mortais, e a maioria dos corpos foi transferida para o Cemitério Bonaventure, famoso por suas esculturas e carvalhos centenários.

Porém, os bisnetos de Catherine e Richard intervieram. Eles argumentaram que o casal dedicara a vida àquela terra e merecia descansar ali eternamente. O pedido foi atendido, mas com uma condição: as sepulturas ficariam sob o concreto da nova pista. Assim, em vez de lápides tradicionais, placas metálicas foram instaladas para marcar o local exato dos túmulos. Hoje, quem observa o trecho oeste da pista 10/28 — que tem quase 3 km de extensão — pode ver as pequenas estruturas próximas à grama, discretas, porém preservadas.

Seus parentes, Daniel Hueston e John Dotson, também estão enterrados nas proximidades (Aeroporto de Savannah/Hilton Head).

Seus parentes, Daniel Hueston e John Dotson, também estão enterrados nas proximidades (Aeroporto de Savannah/Hilton Head).

Curiosamente, a presença dos Dotson quase passou despercebida por anos. O aeroporto, inaugurado em 1960 como terminal civil, só revelou publicamente a história décadas depois, em registros históricos. A justificativa para manter os túmulos no lugar vai além do respeito à família: remover os restos mortais exigiria paralisar operações em uma pista crucial, que recebe mais de 200 voos diários. Além disso, escavações poderiam danificar a estrutura asfáltica, criando riscos para a aviação.

Os Dotson não são os únicos “moradores” permanentes do aeroporto. John Dotson (provavelmente um filho) e Daniel Hueston, cujo parentesco exato não é detalhado nos registros, também permanecem no local. Apesar do barulho constante de turbinas e do movimento intenso, o aeroporto garante que as placas são mantidas e inspecionadas regularmente, seguindo protocolos de preservação histórica. Para os passageiros, é uma curiosidade rara: um cemitério ativo sob uma pista ativa, onde o passado e o presente coexistem — literalmente — em camadas.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.