O “alimento mais mortal do mundo” mata mais de 200 pessoas por ano e ainda é consumido por 500 milhões

por Lucas Rabello
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Você já imaginou que um dos alimentos mais perigosos do mundo está presente no prato de 500 milhões de pessoas? A mandioca, também conhecida como macaxeira ou aipim, é um exemplo fascinante de como um ingrediente comum pode esconder riscos mortais.

Nativa da América do Sul e hoje cultivada em regiões tropicais do mundo inteiro, essa raiz é a terceira maior fonte de carboidratos nos países em desenvolvimento. A Nigéria lidera a produção global, mas seu consumo se estende da África à Ásia e às Américas. O que a torna tão perigosa, porém, é a mesma característica que a mantém como base da dieta de tantos: sua capacidade de sobreviver em condições extremas.

O Perigo Escondido na Raiz

A mandioca é a base da alimentação de 500 milhões de pessoas, mas partes da planta são tóxicas.

A mandioca é a base da alimentação de 500 milhões de pessoas, mas partes da planta são tóxicas.

A mandioca carrega um segredo letal em sua composição. Suas raízes, cascas e folhas contêm substâncias que produzem ácido cianídrico — um composto tóxico capaz de causar envenenamento e até a morte. Existem duas variedades principais: a mandioca doce, com níveis mais baixos de cianeto (cerca de 20mg por quilo), e a mandioca brava, que pode chegar a concentrações 50 vezes maiores. A diferença está na adaptação da planta: variedades mais amargas são resistentes a pragas, ideais para cultivos em solos pobres, mas exigem preparo cuidadoso antes do consumo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 200 mortes por ano estão ligadas ao consumo inadequado da mandioca. Além do risco fatal, a ingestão de cianeto em doses subletais está associada a problemas neurológicos, como a ataxia, que afeta a coordenação motora. O perigo aumenta em períodos de escassez de alimentos, quando populações vulneráveis recorrem à variedade brava por ser mais acessível. Em 2017, durante a crise econômica na Venezuela, o jornal El País relatou casos de mortes de famílias que consumiram a raiz sem o processamento adequado para combater a fome.

Como Transformar o Veneno em Alimento

Quando preparada corretamente, é um alimento básico para centenas de milhões de pessoas, mas pode expor as pessoas ao ácido cianídrico se algo der errado.

Quando preparada corretamente, é um alimento básico para centenas de milhões de pessoas, mas pode expor as pessoas ao ácido cianídrico se algo der errado.

A chave para tornar a mandioca segura está em técnicas ancestrais de preparo. Comunidades tradicionais desenvolveram métodos como descascar, fermentar, secar ao sol e cozinhar a raiz por longos períodos. Um dos processos mais comuns é a imersão em água por até 24 horas, que ajuda a liberar o cianeto. Na África, por exemplo, a mandioca brava é transformada em garri, um produto fermentado e torrado, ou em fufu, uma massa cozida. No Brasil, a farinha de mandioca passa por etapas de lavagem e torração que neutralizam as toxinas.

Essas práticas mostram a habilidade humana de domesticar até os ingredientes mais hostis. Assim como o fugu (baiacu japonês), que exige chefs especializados para remover suas vísceras venenosas, a mandioca prova que o conhecimento tradicional é vital para sobreviver. Mesmo com riscos, sua popularidade persiste: são produzidas mais de 300 milhões de toneladas anualmente, garantindo segurança alimentar em regiões com poucas opções agrícolas.

A próxima vez que você provar um bolinho de aipim ou uma tapioca, lembre-se: por trás desse alimento versátil está uma história de sobrevivência, inovação e respeito aos limites da natureza.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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