Quando você pensa no Inferno, provavelmente imagina um lugar subterrâneo cheio de fogo, onde almas sofrem eternamente sob o comando de um diabo vermelho, com chifres e um tridente. Mas e se essa imagem for mais influência cultural do que uma interpretação fiel das escrituras? O teólogo Jared Brock, após anos de estudo, desafia conceitos amplamente aceitos sobre o pós-vida, sugerindo que muito do que “sabemos” sobre o Diabo e o Inferno pode estar equivocado.
Brock, autor do livro Um Diabo Chamado Lúcifer, mergulhou em análises detalhadas de passagens bíblicas para entender como o texto sagrado descreve o Inferno e a figura de Satanás. Uma de suas descobertas mais surpreendentes está no Livro do Apocalipse, último livro do Novo Testamento. Enquanto muitos acreditam que o Diabo castiga os pecadores com fogo, Brock aponta que, em Apocalipse 12:15, a serpente (associada a Satanás) não cospe chamas, mas “água como um rio” em direção a uma mulher, tentando arrastá-la com uma inundação. Essa imagem contrasta radicalmente com a ideia popular de um inferno abrasador.
Além disso, o teólogo ressalta que a Bíblia menciona até seis lugares diferentes que poderiam ser interpretados como o “lado sombrio” do pós-vida. Tradicionalmente, ensina-se que os não arrependidos são banidos do Céu e condenados ao Inferno para sempre. Brock, porém, questiona se essa punição é eterna, física ou mesmo literal. Em entrevista ao Mail Online, ele afirmou: “São [lugares] físicos? Espirituais? Eternos? Temporários? A resposta é que simplesmente não sabemos”.
A figura do Diabo também ganha novos contornos sob a análise de Brock. A representação clássica de um demônio vermelho, com chifres, cascos e um tridente não tem base bíblica, segundo ele. “A cultura ficou obcecada com a ideia de um diabinho vermelho no ombro, nos assombrando o tempo todo”, explicou. Nas escrituras, Satanás é descrito como um ser espiritual, não físico, capaz de assumir formas atraentes para tentar as pessoas. Dois termos hebraicos são usados para defini-lo: “acusador” e “adversário”. Brock enfatiza que, ao contrário de Deus, o Diabo não é onipresente — ou seja, não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
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O diabo é realmente um demônio de pele vermelha e chifres?
Outro ponto polêmico é a história da queda de Lúcifer. O Livro do Apocalipse (12:7-9) relata uma guerra no céu, onde Miguel e seus anjos expulsam o dragão (identificado como o Diabo) para a Terra. O texto diz: “Não houve mais lugar no céu para eles. Assim, foi expulso o grande dragão, a antiga serpente chamada Diabo e Satanás, que engana o mundo todo. Ele e seus anjos foram lançados à terra”. Brock destaca que essa passagem não menciona o Inferno como destino final de Lúcifer, mas sim a Terra, o que abre espaço para reinterpretações sobre onde e como a figura maligna atua.
A discussão levanta questões fascinantes: se o Inferno não é um lugar de fogo eterno, qual seria sua verdadeira natureza? E se Satanás não é um ser físico, como ele influencia a humanidade? Brock não oferece respostas definitivas, mas convida leitores e estudiosos a revisitar os textos sagrados com olhar crítico, separando tradições culturais de possíveis interpretações literais.
Enquanto debates religiosos continuam, uma coisa é certa: as visões sobre o além estão longe de ser unânimes. E para quem busca entender o assunto, a dica de Brock é clara: vá direto às fontes. Quem sabe suas próximas leituras da Bíblia não revelarão detalhes surpreendentes que desafiam séculos de crenças populares?