Imagine uma caminhada tranquila num verão siberiano. O ar puro, o rio correndo suavemente, a paisagem imensa. Foi assim que começou o passeio de Olga Moskalyova, de apenas 19 anos, e seu padrasto, Igor Tsyganenkov, em agosto de 2011, na remota região de Petropavlovsk-Kamchatsky, no extremo leste da Rússia. Um momento de conexão com a natureza que, tragicamente, se transformaria num cenário de horror absoluto, transmitido ao vivo por um telefone celular.
Enquanto caminhavam próximos ao rio, o inesperado aconteceu: um urso-pardo, uma fêmea protetora, apareceu. O animal, possivelmente sentindo-se ameaçada ou defendendo filhotes próximos, atacou com ferocidade.
Olga conseguiu escapar do primeiro embate, mas testemunhou a cena mais aterrorizante: o urso investiu contra Igor com força brutal. O ataque foi rápido e fatal, com o urso esmagando o crânio e quebrando o pescoço do homem diante dos olhos da jovem. A tranquilidade da tarde siberiana evaporou-se num instante.
Com o padrasto morto, o urso voltou sua atenção para Olga. Ela tentou fugir desesperadamente, correndo cerca de 60 metros rio acima. Mas a velocidade e o poder do animal eram implacáveis. O urso a alcançou, mordeu sua perna com força e a derrubou no chão. Era o início de um ataque prolongado e selvagem.

Olga Moskalyova tinha apenas 19 anos quando ela e seu padrasto foram mortos por ataques violentos (Arquivo da Família).
No meio do caos, do medo indescritível e da dor excruciante, Olga realizou um ato que parece inacreditável: usando seu telefone celular, ela conseguiu discar repetidas vezes para sua mãe, Tatiana Moskalyova.
Imagine receber uma ligação da sua filha adolescente e ouvir, não um cumprimento, mas gritos dilacerantes misturados com rosnados: “Mamãe, o urso está me comendo! Mamãe, é tanta agonia! Mamãe, ajuda!”.
Tatiana, inicialmente chocada e pensando ser algum tipo de brincadeira de mau gosto, rapidamente percebeu o terror genuíno na voz da filha. Pior ainda, ela ouvia nitidamente através do telefone – os rosnados guturais do urso e sons horríveis de mastigação. O pânico tomou conta da mãe. “Eu poderia ter morrido ali mesmo do choque”, relatou ela mais tarde.
Desesperada, tentou ligar para o marido, sem saber que Igor já estava morto. Sem tempo a perder, Tatiana acionou freneticamente as autoridades e familiares na vila mais próxima, Termalniy, implorando que alguém fosse até o rio com urgência.
A ligação não caiu. Em meio à agonia, Olga conseguiu falar novamente com a mãe, relatando um novo nível de terror: “Mamãe, os ursos voltaram. Ela voltou e trouxe os três filhotes. Eles… estão me comendo”. A fêmea havia retornado com sua ninhada, e os filhotes se juntaram ao ataque.
Cerca de uma hora após o início do pesadelo, Olga fez uma última ligação. Sua voz, em contraste assustador com os gritos anteriores, soava estranhamente calma, talvez um sinal de que seu corpo entrara em choque profundo ou que as forças a abandonavam: “Mamãe, não está doendo mais. Eu não sinto mais a dor”, sussurrou. Então, com uma serenidade devastadora, ela disse suas últimas palavras: “Perdoa-me por tudo, eu te amo muito”.
A mãe dela se pronunciou sobre a tragédia.
Do outro lado da linha, Tatiana estava destroçada. Meia hora depois dessa última e terrível comunicação, seu cunhado, Andrei, chegou ao local acompanhado pela polícia. A cena que encontraram foi de pura barbárie: a ursa e seus filhotes ainda estavam no local, alimentando-se dos corpos de Igor e Olga. Não havia mais nada a ser feito para salvar as vítimas.
Em resposta ao ataque violento e para evitar novas tragédias, as autoridades locais mobilizaram seis caçadores experientes. Sua missão era rastrear e abater a ursa agressora e seus três filhotes, eliminando o perigo imediato que aquela família de ursos representava.
Olga Moskalyova, a jovem que viveu momentos de coragem inacreditável durante seu calvário, era descrita pela mãe como uma pessoa radiante. “Minha filha era tão divertida. Ela era tão alegre, amigável e calorosa”, recordou Tatiana com pesar. Olga havia recentemente concluído seus estudos na escola de música e, em um detalhe que aumenta a tristeza da história, obtivera sua carteira de motorista poucos dias antes do fatídico passeio.
Ela e Igor Tsyganenkov foram sepultados no mesmo dia, em 2011, suas vidas interrompidas brutalmente pela força impiedosa da natureza selvagem da Sibéria. A ligação que Tatiana atendeu naquele dia de verão permanece como um registro de sombrio de uma tragédia pessoal imensurável e do poder aterrorizante do mundo natural.