Mulher que “morreu por 24 minutos” conta como foi acordar para sua “segunda vida”

por Lucas Rabello
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Lauren Canaday, moradora da Virgínia, nos Estados Unidos, passou por um episódio raro e dramático em 2023. Ela sofreu uma parada cardíaca súbita e chegou a ser declarada clinicamente morta por 24 minutos, até que sua vida fosse recuperada por médicos após uma série de tentativas intensas de reanimação.

O caso começou com uma crise convulsiva do tipo tônico-clônica, conhecida também como convulsão de grande mal. Esse tipo de crise provoca contrações violentas nos músculos e pode interromper a respiração. “Meu marido estava no outro cômodo e me ouviu dizer ‘Oh, m\*\*\*a’. Ele correu e me encontrou inconsciente no chão. Eu tinha parado de respirar e estava ficando azul”, contou Lauren em entrevista.

Ela já fazia tratamento para epilepsia há anos, mas desta vez a situação se agravou. O marido iniciou imediatamente a manobra de RCP (reanimação cardiopulmonar) enquanto acionava os serviços de emergência. Quatro minutos depois, os paramédicos chegaram e continuaram o atendimento.

No hospital, os exames mostraram que Lauren estava com Covid-19 e havia desenvolvido miocardite, inflamação no músculo cardíaco que reduz a capacidade de bombeamento do coração. Os médicos acreditaram que esse quadro pode ter sido o gatilho para a parada cardíaca. Foram necessárias quatro descargas do desfibrilador e 24 minutos de esforço contínuo até que seu coração voltasse a bater.

Ela passou nove dias na UTI, período em que, surpreendentemente, não apresentou danos cerebrais visíveis em exames de ressonância magnética. “Fui declarada ‘cognitivamente intacta’ e até mesmo o meu eletroencefalograma é normal, apesar do histórico de crises e de ter ficado em estado epiléptico por mais de 30 minutos após a ressuscitação”, escreveu Lauren em um fórum online, onde respondeu perguntas sobre sua experiência.

Apesar da recuperação física inicial, ela relatou as dificuldades enfrentadas depois da alta hospitalar. “As pessoas acham que, quando algo tão drástico acontece, existe uma rede de apoio social, que você recebe algum tipo de assistência especial. ERRADO. Fui simplesmente mandada para casa sentindo dores fortes da cirurgia do desfibrilador e tomando dez remédios que baixaram tanto minha pressão que precisei voltar ao pronto-socorro”, contou.

Segundo Lauren, ela e o marido tiveram que enfrentar tudo praticamente sozinhos. “Nenhum assistente social apareceu para me orientar sobre como solicitar auxílio. E nos EUA isso é muito difícil de conseguir para casos de parada cardíaca. Os médicos só têm 10 minutos para cada paciente, então a maioria das respostas encontrei em grupos de sobreviventes, o que também não é fácil, já que não existem muitos de nós.”

Hi, I was clinically dead for 24 minutes. Ask me anything!
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A experiência também deixou marcas emocionais profundas. “Sinto como se minha primeira vida tivesse terminado em fevereiro e eu tivesse despertado em uma segunda vida. As pessoas acham que estou melhor porque consigo andar e até fazer trilhas devagar, mas não sabem que carrego um desfibrilador no corpo. Quando dizem que pareço bem, é estranho, porque não me sinto a mesma pessoa.”

Ela acrescentou ainda: “Às vezes parecia que o mundo teria preferido que eu não tivesse voltado, porque definitivamente não estava preparado para cuidar de mim. Faço o que posso para evitar que outros sobreviventes se sintam assim.”

Mesmo meses depois, Lauren revelou que ainda sofre com insuficiência cardíaca e problemas emocionais. “No geral, estou em pior estado do que antes de ser declarada clinicamente morta”, admitiu.

Casos como o dela são raríssimos. Segundo dados da British Heart Foundation, apenas cerca de 8% das pessoas que sofreram parada cardíaca fora do hospital em 2022 no Reino Unido estavam vivas 30 dias após o episódio.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.
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