Mulher nascida intersexo explica como conseguiu ter relações apesar de não ter órgãos sexuais

por Lucas Rabello
7,2K visualizações

Jackie Blankenship é uma mulher de 40 anos que vive no Michigan, nos Estados Unidos. Sua história oferece um olhar fascinante sobre a diversidade do corpo humano. Ela tem uma condição de saúde rara chamada síndrome de insensibilidade androgênica completa.

Esta condição foi diagnosticada quando ela tinha apenas quatro anos de idade. O que isso significa em termos biológicos? Geneticamente, Jackie possui cromossomos XY, que são tipicamente masculinos. No entanto, o seu corpo é completamente insensível aos hormônios andrógenos, como a testosterona.

Por causa dessa insensibilidade hormonal, o seu desenvolvimento físico seguiu um caminho diferente. Externamente, seu corpo se desenvolveu e se apresenta como tipicamente feminino. Internamente, é uma história diferente. Jackie não nasceu com um útero, ovários ou um canal vaginal completo.

Ela também não tem um cervix. Em vez disso, ela nasceu com testículos que não desceram. Esses testículos não eram funcionais e não produziam espermatozoides. Aos 15 anos, eles foram removidos cirurgicamente. Por não ter um útero, Jackie nunca teve um ciclo menstrual. Ela também não desenvolveu pelos corporais ou pubianos.

O Processo de Criação de um Canal Vaginal

Jackie Blankenship explicou por que não tem colo do útero nem útero (SWNS)

Jackie Blankenship explicou por que não tem colo do útero nem útero (SWNS)

Uma grande parte da jornada de Jackie envolveu a preparação do seu corpo para uma vida íntima. Aos 18 anos, os médicos lhe apresentaram duas opções se ela desejasse ter relações sexuais: fazer uma cirurgia ou passar por uma terapia de dilatação vaginal.

Jackie optou pela terapia de dilatação. Ela explica que nasceu com uma espécie de “bolsa cega”, um espaço vaginal muito curto, de cerca de 2,5 centímetros de profundidade, que não tinha cervix no final. O objetivo da terapia era criar gradualmente um canal vaginal com profundidade suficiente para a relação sexual.

O processo durou aproximadamente um ano e foi uma experiência que ela descreve como traumática. Envolvia o uso frequente de dilatadores de tamanhos graduais para esticar suavemente os tecidos.

Havia uma enorme pressão psicológica. Jackie se sentiu pressionada a se preparar para um futuro parceiro, questionando se iria doer e se preocupando em “normalizar” seu corpo para um homem, mesmo que os médicos dissessem que um parceiro nunca notaria a diferença.

Vida Íntima e Maternidade

Hoje, Jackie pode manter uma vida sexual ativa. No entanto, a manutenção do canal vaginal criado através da dilatação exige que ela permaneça sexualmente ativa. Caso contrário, existe o risco de o canal perder profundidade com o tempo.

Uma das consequências de sua condição é a infertilidade. Como não tem útero, ela nunca poderia gestar um bebê. Seu desejo de ser mãe, no entanto, foi realizado de outra forma. Sua irmã, Danielle Martin, ofereceu-se para ser a gestante de seu filho.

Através do procedimento de fertilização in vitro, utilizando um óvulo de doadora e o esperma de Jim, marido de Jackie, sua irmã gestou o bebê. Jackie participou de todas as consultas médicas e exames, vivendo intensamente toda a experiência da gravidez. O resultado foi o nascimento de sua filha, Greenleigh, que hoje tem nove anos.

Jackie conseguiu ter um bebê com o marido por meio de fertilização in vitro e com sua irmã sendo a barriga de aluguel (SWNS)

Jackie conseguiu ter um bebê com o marido por meio de fertilização in vitro e com sua irmã sendo a barriga de aluguel (SWNS)nshot

Jackie cresceu em uma família onde, externamente, nada parecia diferente das outras meninas. Aos poucos, ela foi informada de que não se desenvolveria como suas irmãs, mas a compreensão total veio com o tempo. Sua infância e adolescência foram marcadas por sentir-se diferente de suas amigas, que passavam por experiências como a menstruação.

Hoje, Jackie Blankenship dedica-se a educar as pessoas sobre o que significa ser intersexo. Ela possui um podcast onde entrevista outras pessoas intersexo, compartilhando histórias e informações. Esta visibilidade, porém, tem um preço. Jackie lida com comentários cruéis de trolls na internet, que a acusam de enganar o marido ou a invalidam como mulher.

Ela atribui muito desse preconceito à ignorância. A sociedade é ensinada sobre apenas dois modelos binários de corpo, masculino e feminino. A existência de pessoas intersexo revela que a biologia é um espectro muito mais diverso e complexo. Sua luta é por mais entendimento e menos julgamento.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.
Ver todos os posts de Lucas Rabello