Em 1992, uma simples compra de café no McDonald’s resultou em um dos processos mais significativos na história da segurança do consumidor no setor de alimentação. Stella Liebeck, então com 79 anos, sofreu graves queimaduras ao derramar uma xícara de café da rede de fast-food em seu colo enquanto estava no carro de seu neto, estacionado.
O incidente causou queimaduras de terceiro grau em 16% do corpo de Stella, atingindo principalmente as coxas internas e a região genital. A gravidade das lesões foi impressionante. Relatórios médicos indicaram que o líquido escaldante queimou várias camadas da pele, expondo músculos e tecidos adiposos. O tratamento médico foi prolongado, exigindo uma internação de oito dias e múltiplos enxertos de pele, um procedimento em que a pele saudável de outra parte do corpo é usada para cobrir áreas danificadas. Durante o tratamento, Stella perdeu cerca de 9 kg, o que representava aproximadamente 20% de seu peso corporal.
As investigações legais revelaram fatos preocupantes sobre as práticas de serviço do McDonald’s. Kenneth Wagner, advogado de Stella, apresentou evidências de que a empresa exigia que as franquias servissem o café a temperaturas em torno de 88 °C. “Nossa posição era de que o produto era perigosamente inseguro e que a temperatura deveria ser mais baixa”, afirmou Wagner durante o julgamento.
O caso revelou que o incidente de Stella não era isolado. Registros judiciais mostraram que outras 700 pessoas haviam relatado queimaduras causadas por bebidas quentes do McDonald’s antes do caso dela. Inicialmente, Stella buscou um acordo de apenas US$ 20.000 para cobrir suas despesas médicas. No entanto, o McDonald’s ofereceu apenas US$ 800, o que levou o caso a julgamento.
O processo, concluído em 1994, resultou na decisão do júri de conceder a Stella US$ 200.000 em danos compensatórios, posteriormente reduzidos para US$ 160.000. Além disso, ela recebeu US$ 2,7 milhões em danos punitivos, que foram reduzidos para US$ 480.000. O valor final do acordo entre as partes permaneceu confidencial.
A vida de Stella mudou permanentemente após o incidente. Ela faleceu em agosto de 2004, aos 91 anos. Segundo sua filha, as queimaduras e os processos judiciais tiveram um impacto profundo sobre o bem-estar de Stella. “Não havia qualidade de vida” para ela após a conclusão do julgamento, relatou sua filha.
O caso gerou um amplo debate sobre segurança do consumidor e responsabilidade corporativa na indústria de fast-food. Embora alguns inicialmente tenham considerado a ação judicial como algo trivial, as evidências apresentadas em tribunal demonstraram a gravidade das lesões e as circunstâncias evitáveis que levaram ao incidente. A temperatura do café do McDonald’s tornou-se um ponto central de discussão, com especialistas testemunhando sobre os perigos das altas temperaturas mantidas pela empresa na época.