Em 2020, uma jovem saudável do Reino Unido começou a sentir um desconforto nas costas que mudaria para sempre a história de sua família. Kate Drummond, então com 25 anos, era ativa, cheia de energia e sem histórico de problemas de saúde. Mas uma dor persistente na região lombar, inicialmente atribuída ao home office durante a pandemia, se transformou em uma jornada médica frustrante e, finalmente, em um diagnóstico devastador. Sua irmã, Kelly Drummond, hoje compartilha essa história para alertar sobre a importância de reconhecer os sinais do corpo e buscar respostas, mesmo quando os primeiros diagnósticos parecem claros.
Tudo começou no verão de 2020. Kate notou uma sensação incômoda nas costas, que aparecia e desaparecia. Como milhões de pessoas na época, ela trabalhava em casa e assumiu que a dor estava relacionada à má postura ou à cadeira desconfortável de seu escritório improvisado. Mesmo ajustando a rotina e tentando alongamentos, o desconforto persistiu. Em janeiro de 2021, a dor começou a se irradiar para o quadril. Atleta e acostumada a treinos intensos, Kate imaginou que poderia ser resultado de excesso de exercícios ou mudanças em sua rotina fitness.
Nos meses seguintes, porém, o quadro se agravou. O quadril passou a apresentar inchaço leve e uma temperatura mais alta ao toque. Preocupada, ela procurou um médico, que prescreveu analgésicos e solicitou exames de sangue. Os resultados mostraram níveis elevados de marcadores inflamatórios, indicando que algo mais sério poderia estar ocorrendo. Em maio daquele ano, Kate foi encaminhada ao pronto-socorro de um hospital local para investigação. Após novos exames de sangue e um raio-X, recebeu um diagnóstico preliminar de ciática — condição que afeta o nervo ciático, causando dor, formigamento ou fraqueza nas pernas.
De acordo com o serviço de saúde público do Reino Unido, a ciática geralmente melhora em algumas semanas ou meses, mas raramente se manifesta apenas como dor nas costas. O texto informativo do NHS também destaca que pacientes jovens com sintomas severos são incomuns. Apesar disso, os médicos atribuíram o quadro de Kate à condição, mencionando que ela era uma das pacientes mais jovens já atendidas com esse diagnóstico.
A dor, no entanto, não diminuiu. Pelo contrário: a mobilidade de Kate piorou, e atividades simples do dia a dia se tornaram um desafio. Determinada a encontrar respostas, ela optou por buscar uma ressonância magnética particular em julho de 2021. O exame revelou um tumor do tamanho de uma toranja na região pélvica, além de múltiplas lesões na coluna vertebral. Uma biópsia no Hospital de Birmingham confirmou o que nenhum dos profissionais havia suspeitado até então: um sarcoma de Ewing, um tipo raro de câncer que se origina nos ossos ou tecidos moles.
O sarcoma de Ewing é conhecido por causar dor progressiva, inchaço e sensibilidade na área afetada. No caso de Kate, a doença já estava em estágio avançado. Em poucas semanas, as células cancerígenas se espalharam para pulmões, fígado, crânio, mandíbula e outros ossos. O tratamento começou imediatamente, com radioterapia de emergência e quimioterapia. Kelly descreve que, mesmo diante do prognóstico incerto, a irmã manteve uma postura positiva e corajosa.
Mas em janeiro de 2022, o quadro mudou drasticamente. Os rins e o fígado de Kate começaram a falhar, e sua saúde entrou em declínio rápido. Em 17 de março daquele ano, menos de um ano após o diagnóstico inicial de ciática, ela faleceu. A família descobriu mais tarde que o tumor provavelmente estava presente há até dois anos antes da detecção.
Kelly, personal trainer de profissão, reflete sobre a rapidez com que a situação evoluiu. “O sarcoma de Ewing é agressivo, mas Kate só recebeu um diagnóstico terminal nas últimas semanas”, explica. “Isso mostra como as coisas podem mudar de forma abrupta.” A dor lombar inicial, que parecia inofensiva, escondia uma doença que se espalhou pelo corpo em questão de dias. A demora no diagnóstico correto levanta questões sobre a importância da persistência em buscar respostas médicas.
A história de Kate não é apenas um alerta sobre os sintomas do câncer ósseo, mas também um exemplo de como condições raras podem ser subestimadas, especialmente em pacientes jovens e saudáveis. O sarcoma de Ewing afeta principalmente crianças e adolescentes, mas também pode ocorrer em adultos até os 30 anos. Segundo o NHS, os sinais incluem dor que piora à noite ou durante atividades físicas, inchaço local e, em alguns casos, febre sem causa aparente.
Kelly enfatiza a necessidade de autoconhecimento e advocacy na saúde. “Se uma dor persiste, não importa sua idade ou estilo de vida: insista por exames detalhados”, diz. “Kate confiou nos profissionais, mas seu caso mostra que, às vezes, é preciso ir além.” Ela também destaca a importância de não normalizar sintomas prolongados, mesmo que pareçam comuns.
Em memória da irmã, Kelly se dedica a campanhas de conscientização, especialmente durante o Mês de Conscientização sobre o Câncer em Adolescentes e Jovens Adultos, organizado em abril pela Bone Cancer Research Trust, instituição britânica que apoia pesquisas e pacientes com câncer ósseo. A iniciativa busca educar o público e profissionais de saúde sobre os sinais precoces de doenças como o sarcoma de Ewing, que muitas vezes são confundidas com lesões comuns ou condições menos graves.
Kate era descrita por amigos e familiares como uma pessoa vibrante, com um senso de humor contagiante e uma risada inesquecível. Sua jornada, marcada por erros de diagnóstico e pela velocidade assustadora da doença, serve não apenas como um chamado para a ação, mas também como um incentivo para valorizar cada momento. “Ela diria para as pessoas rirem mais e aproveitarem a vida sem adiar os planos”, conclui Kelly.
Enquanto a medicina avança, histórias como a de Kate reforçam um princípio básico: o corpo humano envia sinais, e ouvi-los pode ser a diferença entre um tratamento eficaz e uma tragédia evitável. A persistência em buscar clarificações, mesmo diante de diagnósticos iniciais, é uma lição que permanece relevante para qualquer pessoa que enfrente sintomas persistentes ou inexplicáveis.