Pode parecer ficção científica ou até mesmo teoria da conspiração o fato que, no auge da Guerra Fria, na década de 1950, a CIA realizou experimentos para o controle da mente das pessoas.
O projeto recebeu o nome de MKUltra e consistia na administração de alucinógenos em grande quantidade a vários indivíduos indefesos, sendo esse um dos experimentos mais perturbadores de toda a história.
Apesar de soar como ficção, o projeto muito foi real, dado que os Estados Unidos estavam convencidos de que a União Soviética havia desenvolvido capacidades de controle mental e precisavam desenvolver uma forma de fazer isso também.
Para dar origem ao projeto MKUltra, um amplo programa de universidades e hospitais surgiu no intuito de realizar experiências de tortura como eletrocussão, abuso verbal e sexual, além de dosar indivíduos com grandes quantidades de LSD, sendo que muitos desses indivíduos ficaram com danos cerebrais permanentes e chegavam a morrer durante o processo.

Mas… como se sabe que esse experimento foi real e não somente uma teoria da conspiração? Bem, a CIA conduziu o projeto com o maior sigilo, até mesmo fornecendo vários codinomes a ele, como MKNaomi e MKDelta. Quando finalmente o projeto chegou ao fim, na década de 1970, a maioria dos registros pertencentes a ele foi destruída por ordem do próprio diretor da CIA – isto é, quase todos: um pequeno cache mal arquivado acidentalmente foi deixado intacto e foram esses documentos que ajudaram o governo atual dos EUA a fazer diversas investigações para trazer o projeto à luz.
Hoje em dia, o público ainda tem acesso a cerca de 20.000 documentos relativos aos experimentos de controle da mente do projeto MKUltra e é possível conferir como algumas coisas aconteciam naquela época.

O MKultra surgiu no auge da Guerra Fria, quando a corrida armamentista entre os EUA e a União Soviética ficava em uma disputa cada vez mais acirrada.
O Governo dos EUA temia ficar para trás em relação à URSS e foi a partir daí que a ideia do MKUltra nasceu: em 13 de abril de 1953, o diretor da nascente CIA, Allen Welsh Dulles, sancionou o projeto MKUltra.
O programa foi liderado pelo químico e especialista em venenos Sidney Gottlieb, que era conhecido nos círculos secretos como o “Feiticeiro Negro”, sendo o objetivo principal a criação de um “soro da verdade” que pudesse ser usado contra espiões soviéticos e prisioneiros de guerra para obter informações relevantes.
Obviamente o desenvolvimento do tal soro seria algo impossível, porém os pesquisadores acreditavam que um tipo de controle da mente poderia ser alcançado colocando o sujeito em um estado mental fortemente alterado, com a ajuda de drogas altamente experimentais. Gottlieb percebeu que, para controlar a mente, era necessário “limpá-la primeiro”, fazendo isso através de privações e uso de drogas que produziam amnésia, choque e confusão.

Desde o início, os experimentos de controle da mente de MKUltra foram conduzidos com grande sigilo, sobretudo por conta da falta de ética que o projeto envolvia.
Vários pesquisadores trabalhavam injetando grandes quantidades de várias substâncias que alteram o estado psicológico das vítimas na esperança de “limpar a mente delas”: os indivíduos receberam doses de LSD, opióides, THC e o superalucinógeno BZ, criado pelo governo, além de substâncias amplamente disponíveis, como o álcool. Drogas com efeitos opostos como barbitúrico e anfetamina simultaneamente eram administradas para observar as reações dos sujeitos e, muitos deles, já estavam com seu organismo sobrecarregado de outras drogas ou de álcool.
A hipnose também foi um recurso testado para a obtenção de informações necessárias ao governo.
Os participantes do MKUltra também foram submetidos a experiências envolvendo eletroconvulsoterapia, estimulação aural e drogas paralíticas. Enquanto esse cenário terrível acontecia, o experimentador Donald Cameron, o primeiro presidente da Associação Psiquiátrica Mundial e presidente das associações psiquiátricas americanas e canadenses, induzia os pacientes a um estado de coma por drogas e repetidamente tocava fitas de ruídos ou sugestões durante o coma, na esperança de “apagar a mente” dos sujeitos.
Os resultados foram desastrosos e, na realidade, esses testes deixaram seus participantes em coma por meses a fio e sofrendo permanentemente de incontinência e amnésia e
Os participantes envolvidos eram tanto prisioneiros como pessoas viciadas em drogas, além de profissionais do sexo ou pessoas marginalizadas, além de estudantes que se voluntariavam para o processo. Segundo os arquivos oficiais, eram escolhidas pessoas “que não podiam revidar” e isso gerou uma grande polêmica mais tarde.
Após o escândalo de Watergate, no início de 1973, o diretor da CIA Richard Helms ordenou que todos os arquivos do MKUltra fossem destruídos, temendo que todas as agências governamentais fossem investigadas. Porém, em 1975 o presidente Gerald R. Ford encomendou uma investigação sobre as atividades da CIA, o que mais tarde revelou que Helms havia destruído a maioria das evidências sobre o MKUltra. Nesse mesmo ano, uma coleção de 8.000 documentos foi descoberta em um prédio de registros financeiros e posteriormente divulgada sob um pedido da Lei de Liberdade de Informação em 1977.
Depois das informações se tornarem públicas, alguns dos sobreviventes logo entraram com ações judiciais contra a CIA e o governo federal com relação às leis de consentimento informado. Em 1992, 77 participantes do MKUltra receberam um acordo, embora muitos mais tenham sido negados qualquer retribuição por causa de quão difícil foi para eles provar definitivamente que esses experimentos secretos causaram sua angústia mental.
Em 2018, as famílias de um grupo de ex-pacientes entrou com uma ação coletiva contra o governo pelos experimentos que o Dr. Cameron fez com seus entes queridos na década de 1960.
Em seguida vários comitês sobre ética foram realizados sob a tentativa de experimentos como esse não se repetirem ao longo da história. Mesmo assim, até hoje o projeto continua inspirando séries e filmes, Como Yhe Men Who Stare at Goats, a série Jason Bourne e até mesmo Stranger Things.