Em 2021, usuários das redes sociais se depararam com um mistério intrigante no Google Maps: uma espécie de “buraco negro” no meio do oceano Pacífico. A imagem mostrava uma ilha completamente escura, como se fosse um vazio circular cercado por águas azuis. A estranha formação gerou teorias selvagens, desde censura digital até referências a fenômenos sobrenaturais. Mas a explicação, como sempre, estava na natureza.
A ilha em questão é Vostok, parte da República de Kiribati, um país insular no Pacífico Central. Com aproximadamente 0,24 km² de área, esse pedaço de terra desabitado chama atenção por sua aparência única. Ao contrário do que imaginavam os curiosos, o “buraco” não era uma falha no mapa ou um portal para outra dimensão. A escuridão vista nas imagens de satélite é resultado da vegetação densa que cobre a ilha: centenas de árvores Pisonia, cujas copas verde-escuro, aglomeradas, criam um efeito visual quase negro.
Um biólogo marinho explicou nas redes sociais: “O que parece preto é, na verdade, um verde tão intenso e compacto que absorve a luz, dando essa impressão de vazio. São florestas de Pisonia, árvores típicas de ilhas tropicais”. Essas árvores, aliás, têm um papel ecológico importante. Seus frutos pegajosos são transportados por aves marinhas, ajudando na dispersão das sementes — embora, às vezes, grudem nas penas das aves de forma excessiva, podendo até prejudicá-las.
Apesar da solução do mistério, a ilha continuou a alimentar a imaginação popular. Um vídeo do YouTube, publicado pela National Geographic em 2006, ressurgiu nas discussões. Nele, o mergulhador Enric Sala descreve Vostok como um paraíso intocado: “Acabamos de fazer o melhor mergulho das nossas vidas! Tubarões, barracudas, cardumes de peixes-cirurgião… um lugar incrível!” Sua descrição revela a riqueza dos recifes de coral ao redor da ilha, contrastando com a aparência sombria vista do espaço.
Enquanto cientistas celebravam a biodiversidade local, teorias alternativas pipocavam na internet. Em fóruns como o Reddit, usuários especulavam: “Parece censura digital”, comentou alguém, sugerindo que o “buraco” escondia algo secreto. Outros brincaram com referências à série Lost, dizendo: “Acharam a ilha do Desmond!”. A falta de habitantes humanos — a ilha é inóspita, sem fontes de água doce — só aumentou o ar de enigma.
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Sala explorou a vida selvagem dos ricos recifes de corais de Vostok (National Geographic)
Historicamente, Vostok foi avistada pela primeira vez em 1820 pelo explorador russo Fabian Gottlieb von Bellingshausen, durante uma expedição à Antártida. No século XIX, Estados Unidos e Reino Unido disputaram seu controle sob a Lei do Guano (1856), que permitia a reivindicação de ilhas com depósitos do fertilizante natural. Hoje, integrada a Kiribati, a ilha permanece intocada, protegida por sua localização remota e status de reserva ecológica.
O caso de Vostok mostra como a natureza ainda guarda surpresas — mesmo em tempos de tecnologia avançada. E, embora o “buraco negro” tenha uma explicação simples, a combinação de florestas densas, recifes vibrantes e histórias humanas fazem dessa ilha um exemplo fascinante de como o planeta esconde belezas além da nossa primeira impressão.