Uma história trágica envolvendo uma alergia alimentar chocou o Reino Unido e trouxe à tona discussões urgentes sobre segurança em estabelecimentos que servem comida. Mia St Hilaire, uma menina de 12 anos, perdeu a vida após consumir um milkshake contaminado com traços de castanhas em um café no sul de Londres. O caso, ocorrido em 2024, expôs falhas críticas no manuseio de alimentos e reforçou a importância de protocolos rígidos para evitar contaminação cruzada.
Tudo começou quando Mia pediu um milkshake no Pop Inn Cafe, localizado na Southwark Park Road. A garota, que tinha alergia severa a castanhas (como amêndoas e avelãs), não imaginava que a bebida traria consequências fatais. Minutos após ingerir o líquido, ela começou a passar mal e foi levada às pressas para o hospital. Apesar dos esforços da equipe médica, Mia não resistiu ao choque anafilático, uma reação alérgica extrema que pode bloquear as vias respiratórias em poucos minutos.

A menina morreu após beber um milkshake deste café em Londres (Google Maps).
Investigadores do Conselho de Southwark descobriram que o liquidificador usado para preparar o milkshake de Mia não havia sido lavado após o preparo de uma bebida anterior que continha castanhas. Imagens de câmeras de segurança confirmaram que o responsável pelo estabelecimento, Baris Yucel, de 47 anos, ignorou o procedimento básico de higienização do equipamento. Esse descuido permitiu que resíduos de nozes ou avelãs se misturassem ao milkshake da menina, desencadeando a reação fatal.
Em dezembro de 2023, Yucel se declarou culpado por seis acusações em um tribunal de Croydon. Entre elas estavam a falta de sinalização clara sobre alérgenos no cardápio, a ausência de informações visíveis para clientes sobre riscos de contaminação e a negligência em identificar perigos relacionados a ingredientes alergênicos. Na sentença, divulgada em janeiro de 2024, ele recebeu uma multa de £18 mil (cerca de R$ 130 mil) e foi condenado a 100 horas de serviço comunitário.
Ver essa foto no Instagram
Os pais de Mia, Adrian e Chanel, compartilharam publicamente a dor da perda e a frustração por saber que a morte da filha poderia ter sido evitada. “Pensamos nela todos os dias. Saber que algo tão simples poderia tê-la salvado só aumenta nossa angústia”, disseram em comunicado. A família também expressou esperança de que o caso sirva para alertar donos de estabelecimentos sobre a necessidade de cumprir normas de segurança alimentar.
A advogada da família, Michelle Victor, reforçou que protocolos de controle de alérgenos não são meras formalidades, mas medidas que podem salvar vidas. “Negligências como essa têm consequências devastadoras”, afirmou. A fundação britânica The Natasha Allergy Research Foundation, dedicada a pesquisas sobre alergias alimentares, também se manifestou. Em uma publicação, a instituição lembrou que alergias são condições médicas sérias e que regras de segurança existem para proteger pessoas como Mia.
O caso de Mia St Hilaire não é isolado. No Reino Unido, estima-se que 2 milhões de pessoas vivam com alergias alimentares diagnosticadas, e incidentes relacionados a contaminação cruzada são uma preocupação constante. Autoridades de saúde recomendam que estabelecimentos treinem equipes para lidar com alérgenos, higienizem equipamentos após cada uso e ofereçam informações precisas aos clientes. Para quem tem alergias graves, até uma pequena quantidade do alimento proibido pode ser suficiente para levar a uma emergência médica.
Enquanto a família de Mia busca justiça e conscientização, a história da menina segue como um alerta sobre os riscos invisíveis que podem estar presentes em um simples gesto do dia a dia, como preparar uma bebida. A multa aplicada ao dono do café, embora significativa, não apaga a dor de uma perda irreparável — mas pode, ao menos, incentivar mudanças necessárias no setor alimentício.