Imagine estar ao lado de alguém que está partindo. A respiração, antes suave, começa a fazer um barulho diferente, como um crepitar ou um borbulhar úmido. Esse som específico, que pode surgir nas últimas horas de vida, tem um nome: o estertor terminal, também conhecido como “estertor da morte”. Não é um sinal de dor ou sofrimento para quem está morrendo, mas é uma mudança importante que muitas famílias e cuidadores presenciam e podem achar perturbadora.
Por que esse barulho acontece? Tudo está relacionado ao relaxamento natural do corpo durante o processo final da vida. Conforme a pessoa entra em um estado de consciência reduzida ou inconsciência, os reflexos naturais que controlam a deglutição – o ato de engolir – começam a enfraquecer significativamente ou até desaparecer. A saliva, que normalmente é engolida sem sequer percebermos, passa a se acumular na parte de trás da garganta e nas vias respiratórias superiores.
Quando a pessoa continua respirando, o ar que entra e sai dos pulmões precisa passar por essa camada de secreções líquidas acumuladas. É exatamente essa passagem do ar através do muco e da saliva que cria o som característico: um ruído úmido, crepitante, que pode lembrar um ronco leve ou um borbulhar.
Alguns profissionais comparam o som ao ar tentando atravessar uma camada de líquido. É um efeito físico, como soprar ar através de um canudo dentro de um copo d’água.
É fundamental entender que, embora o som possa parecer angustiante para quem ouve, a pessoa que está morrendo e produzindo o estertor terminal geralmente está inconsciente ou profundamente sedada nesse estágio.
Isso significa que ela não está ciente do som e, mais importante, não está sentindo dor, sufocamento ou ansiedade por causa dele. O corpo está seguindo seu curso natural, e o som é uma consequência da diminuição das funções físicas.
A equipe médica e de cuidados paliativos conhece bem esse fenômeno. Embora o estertor em si não cause desconforto ao paciente, as equipes podem tomar algumas medidas para tentar reduzir o ruído, principalmente pensando no conforto emocional dos familiares e amigos presentes.
Medicamentos específicos, como certos anticolinérgicos, podem ser administrados com o objetivo de secar um pouco as secreções. Alterar a posição da pessoa, deitando-a de lado e com a cabeça ligeiramente elevada (cerca de 30 graus, por exemplo), também pode ajudar, pois a gravidade favorece a drenagem das secreções para longe das vias aéreas, minimizando o ruído.
Muitas pessoas que vivenciaram esse momento com entes queridos expressam um misto de alívio e tristeza ao entender o que é o estertor terminal. Saber que é um processo natural, previsto, e não um sinal de agonia ou asfixia, pode trazer algum conforto em um momento de extrema dor.
Alguns compartilham que, sem essa explicação, o som ficou gravado em sua memória como algo assustador, associado ao sofrimento. Outros agradecem por poderem reconhecer o som quando ele aconteceu, entendendo que fazia parte do caminho natural do fim da vida, permitindo-lhes focar em oferecer presença e conforto, sem o pânico adicional causado pelo desconhecido.
O estertor terminal é um lembrete físico do processo complexo e delicado que é o fim da vida. Ouvir esse som é uma experiência marcante, mas compreender sua origem fisiológica – a perda do reflexo de deglutição e o acúmulo de secreções – transforma um ruído potencialmente assustador em uma informação clara sobre o que está acontecendo no corpo da pessoa amada, oferecendo um ponto de apoio em um momento de profunda despedida.