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Maior parte do universo é feita de energia escura

Lucas R.

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Maior parte do universo é feita de energia escura
A energia escura é responsável por 69% do universo. Saiba como ela influencia a expansão cósmica e as recentes descobertas em cosmologia.

Você já olhou para o céu noturno e se perguntou sobre os mistérios que ele guarda? Entre os mais enigmáticos desses mistérios está o conceito de energia escura  um termo que pode parecer saído diretamente de um romance de ficção científica, é um componente real e significativo do nosso universo.

O que é Energia Escura?

Em sua essência, a energia escura é uma forma de energia que permeia todo o espaço. Acredita-se que ela seja responsável pela expansão acelerada do universo. Ao contrário da matéria, que se aglomera sob a influência da gravidade, a energia escura parece ter um efeito repulsivo que faz com que o universo se expanda a uma taxa cada vez maior.

A história da energia escura começa no século 20. Astrônomos, usando telescópios avançados, observaram supernovas distantes – estrelas explodindo que brilham com uma luminosidade que pode ser vista através de vastas distâncias cósmicas. O que eles encontraram foi surpreendente. Em vez de essas supernovas se afastarem de nós a uma taxa decrescente, como se poderia esperar devido à atração gravitacional de toda a matéria no universo, elas estavam na verdade acelerando em sua fuga. Essa observação inesperada levou à conclusão revolucionária de que alguma força desconhecida – agora conhecida como energia escura – estava em ação.

Como a Energia Escura Afeta o Universo?

Imagine inflar um balão. Conforme você sopra ar nele, o balão se expande. Agora, imagine se esse balão começasse a se expandir por conta própria, mais e mais rápido. Isso é um pouco análogo ao que a energia escura faz com o universo. Ela está empurrando as galáxias para longe umas das outras em um ritmo acelerado. Isso significa que, com o tempo, as galáxias se afastarão cada vez mais, e o universo se tornará mais e mais difuso.

A Composição do Universo

Medições recentes lançaram luz sobre a composição do universo, revelando que a energia escura, a força enigmática, constitui aproximadamente 69% do conteúdo total do universo. Esta descoberta deixa os 31% restantes para a matéria, que engloba tanto os elementos tangíveis que podemos observar quanto a elusiva matéria escura.

A matéria escura, frequentemente descrita como o “poltergeist gravitacional” do universo, é responsável por movimentos e efeitos inexplicados. Como o astrônomo Mohamed Abdullah do Instituto Nacional de Pesquisa de Astronomia e Geofísica no Egito e da Universidade de Chiba no Japão esclarece, apenas cerca de 20% da matéria total é matéria bariônica ou comum. Isso inclui estrelas, galáxias, átomos e até mesmo a vida. Os 80% restantes são matéria escura, uma entidade misteriosa que pode ser composta por partículas subatômicas ainda não descobertas.

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Por outro lado, a energia escura é mais uma força do que uma substância. É o termo que os cientistas usam para descrever a força desconhecida que impulsiona a expansão acelerada do universo. Estudos repetidos mostraram consistentemente que a energia escura domina a densidade de matéria-energia do universo, geralmente girando em torno da marca de 70%.

Medindo a Energia Escura

Compreender a taxa de expansão do universo é um desafio complexo, mas é crucial para os cientistas. Determinar a densidade de matéria-energia poderia fornecer insights sobre a natureza da energia escura, sua influência na expansão do universo e cenários futuros potenciais, como expansão perpétua ou uma contração cataclísmica levando a um “Big Crunch”.

Um método eficaz para determinar a quantidade de energia escura envolve o estudo de aglomerados de galáxias. Esses aglomerados, formados ao longo dos 13,8 bilhões de anos de existência do universo, são conglomerados de matéria unidos pela gravidade. A astrônoma Gillian Wilson da Universidade da Califórnia em Merced explica que a abundância desses aglomerados hoje é sensível às condições cosmológicas, especialmente à quantidade total de matéria. No entanto, como a matéria escura contribui com a maior parte da massa, medir diretamente a massa de um aglomerado de galáxias é desafiador.

Para enfrentar isso, os pesquisadores utilizaram a técnica GalWeight para determinar a massa dos aglomerados de galáxias, contando o número de galáxias em cada aglomerado. Quanto mais galáxias um aglomerado tem, mais massivo ele é, um conceito conhecido como relação massa-riqueza (MMR). Usando este método, os pesquisadores simularam aglomerados de galáxias com proporções variáveis de energia escura e matéria. As simulações que melhor se alinharam aos aglomerados de galáxias observados indicaram um universo composto por 31% de matéria.

Essa descoberta é um refinamento da pesquisa anterior da equipe, que estimou a energia escura em 68,5% e a matéria em 31,5%. Esses resultados se alinham bem com outras medições, sugerindo que os cientistas estão à beira de determinar com precisão a densidade de matéria-energia do universo.

O astrônomo Tomoaki Ishiyama da Universidade de Chiba destaca a importância desta pesquisa, afirmando que é a primeira vez que a densidade da matéria foi medida usando o MMR. Este método se alinha perfeitamente com os resultados obtidos pela equipe Planck usando o método do fundo cósmico de micro-ondas. Ishiyama enfatiza ainda que o estudo da abundância de aglomerados é uma técnica robusta para restringir parâmetros cosmológicos, complementando outras técnicas não-aglomeradas.

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Esta pesquisa inovadora, agora publicada no The Astrophysical Journal, oferece uma compreensão mais profunda da composição do nosso universo, enfatizando a importância da exploração contínua e da descoberta no campo sempre em evolução da cosmologia.

O Futuro do Universo

À medida que continuamos a desvendar os mistérios da energia escura, uma pergunta inevitável surge: qual é o futuro do nosso universo sob a influência desta força misteriosa? Se a energia escura continua a acelerar a expansão do universo, o que isso significa para as galáxias, estrelas e, eventualmente, para a própria vida?

Estudos teóricos sugerem que, se a taxa de expansão acelerada persistir, o universo poderá enfrentar um destino conhecido como “Big Freeze” ou “Morte Térmica”. Neste cenário, o universo continuará se expandindo indefinidamente, levando a um resfriamento progressivo. As galáxias se afastarão tanto umas das outras que eventualmente se tornarão inobserváveis a partir de qualquer ponto específico. As estrelas esgotarão seu combustível e se tornarão anãs brancas, anãs marrons ou buracos negros. A atividade atômica diminuirá à medida que o universo se aproxima de um estado de entropia máxima, onde toda a energia é distribuída de maneira uniforme e nada mais pode ocorrer.

Além disso, se a energia escura for de natureza repulsiva e sua densidade aumentar com o tempo, poderíamos enfrentar um cenário ainda mais catastrófico chamado “Big Rip”. Neste caso, a força da energia escura se tornaria tão poderosa que começaria a rasgar a própria matéria, desintegrando galáxias, estrelas, planetas e até mesmo átomos.

Embora esses cenários possam parecer sombrios, é importante lembrar que eles estão a bilhões de anos de distância. Além disso, nossa compreensão da energia escura ainda está em sua infância. À medida que continuamos a estudar e entender melhor essa força misteriosa, podemos descobrir nuances ou características que alterem essas previsões. O que é certo é que a energia escura desempenha um papel fundamental na evolução do nosso universo, e sua contínua investigação é essencial para entendermos nosso lugar no cosmos.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.