Se a medicina moderna se preocupa cada vez mais com a humanidade de seus procedimentos e com os efeitos colaterais que as intervenções médicas podem provocar na saúde dos pacientes, a história nem sempre foi assim. Um exemplo perfeito para ilustrar a natureza da medicina antiga é a lobotomia, que foi amplamente utilizada a partir de meados de 1880, com técnicas ainda pouco desenvolvidas, para o tratamento de esquizofrenia, depressão e outros tantos distúrbios de ordem psicológica e psiquiátrica.
O que era a lobotomia?
O procedimento consistia no corte cirúrgico de um dos lobos do cérebro, com a intenção de aliviar os sintomas e “acalmar” pacientes com comportamentos patológicos envolvendo o cérebro. Apesar de hoje em dia ser considerada uma técnica retrógrada, com resultados questionáveis e extremamente agressiva, a lobotomia ganhou bastante popularidade na comunidade científica ainda no final do século 19 e começo do século 20.
Os primeiros cortes envolvendo o cérebro se deram em 1880, porém foi apenas no final dos anos 1930 que a lobotomia alcançou um patamar mais desenvolvido, inclusive rendendo um Prêmio Nobel ao neurologista português António Egas Moniz, em 1949. Junto com sua equipe, Moniz foi o primeiro cirurgião a aplicar procedimentos de cortes em regiões cerebrais com técnicas próximas das que consagraram a lobotomia, de fato, anos depois.
Em um primeiro momento, as principais técnicas de lobotomia envolviam a abertura de um buraco no crânio do paciente, por onde era injetado etanol. O álcool destruía as fibras que conectavam o lobo frontal do cérebro das outras partes do órgão, provocando a inutilização daquela região. Alguns anos mais tarde, o médico evoluiu seu procedimento e passou a utilizar uma espécie de arame, capaz de provocar cortes circulares no cérebro daqueles que eram submetidos à cirurgia.
Mas estas não eram as técnicas mais bizarras já empregadas nestes procedimentos, visto que o psiquiatra italiano Amarro Fiamberti, em 1945, desenvolveu uma técnica onde o lobo frontal era alcançado por meio das cavidades oculares.
Resultados e efeitos colaterais da lobotomia
Apesar de inicialmente os pesquisadores da época terem encontrado indicativos de que o procedimento era válido e funcionava, cerca de 2% a 8% dos pacientes que eram submetidos à lobotomia acabavam morrendo. Entre as causas, estavam hemorragias intracranianas, infecções e diversas outras sequelas.
O maior problema, no entanto, era que mesmo nos pacientes que supostamente “melhoravam” após a lobotomia, ocorria a aparição de diversos efeitos colaterais. Entre eles, a perda total da personalidade, de funções básicas (como falar e caminhar), entre outras. Era bastante comum, por exemplo, que os pacientes submetidos à lobotomia entrassem praticamente em um estado vegetativo após a cirurgia.
Visto que àquela época as instituições mentais muitas vezes praticavam uma série de abusos, incluindo diagnósticos tendenciosos e até mesmo o funcionamento como uma espécie de prisão para os “desajustados”, é quase incalculável o número de pessoas que tiveram suas vidas ceifadas ou totalmente afetadas por esses procedimentos. Acredita-se, no entanto, que pelo menos 50 mil operações desta natureza foram realizadas nos Estados Unidos.
Em 1950, a lobotomia começou a cair totalmente em desuso, principalmente pela aparição de fármacos e drogas eficazes no tratamento de condições mentais. Atualmente, em casos muito específicos e raros, quando há a necessidade do corte de alguma região do cérebro, felizmente você não terá nenhum martelo colocado dentro de sua cavidade ocular, visto que as técnicas são muito mais avançadas e menos invasivas.