A incrível história de José Alvarenga – que sobreviveu 438 dias à deriva no Pacífico

por Lucas Rabello
Publicado: Atualizado em 44,8K visualizações

Em novembro de 2012, José Salvador Alvarenga partiu para o que deveria ser uma rotina de pesca ao largo da costa do México. Mal sabia ele que essa excursão comum se transformaria em uma extraordinária história de sobrevivência que cativaria o mundo. A incrível jornada de resistência e resiliência de Alvarenga durou impressionantes 438 dias, durante os quais ele derivou pelo Oceano Pacífico com recursos limitados e sem esperança de resgate à vista.

José Alvarenga, um pescador de 36 anos de El Salvador, vivia no México há anos antes de sua viagem fatídica. Naquele dia de novembro, ele e um companheiro mais jovem, Ezequiel Córdoba, embarcaram em uma viagem de pesca de 24 horas. No entanto, seu pequeno barco foi apanhado por uma tempestade severa que durou 5 dias, danificando o motor e os equipamentos de comunicação. A dupla encontrou-se à deriva no vasto Oceano Pacífico, sem meios de pedir ajuda ou navegar de volta à costa.

Deixados com apenas alguns suprimentos básicos, sem rádio e sem motor, Alvarenga e Cordoba ficaram efetivamente à deriva.

Conforme os dias se transformavam em semanas e as semanas em meses, Alvarenga enfrentou desafios inimagináveis. Sem comida ou água doce disponível, ele teve que depender de sua engenhosidade e instintos de sobrevivência para continuar vivo. Ele pegava peixes, pássaros e tartarugas com as próprias mãos, bebendo o sangue deles para se manter hidratado e comendo a carne crua para se sustentar. A água da chuva tornou-se um recurso precioso, coletada sempre que possível para evitar a desidratação.

Eles estavam confiando em serem vistos por aviões ou por algum barco à distância. Infelizmente, nada disso chegou perto de acontecer.

Caso prefira, temos uma versão em vídeo dessa história. A versão em texto continua mais abaixo:

Tragicamente, Ezequiel Córdoba não sobreviveu à provação. Incapaz de se adaptar às condições adversas e à dieta não convencional de animais crus e sangue, ele faleceu após cerca de quatro meses no mar. Alvarenga foi deixado sozinho, enfrentando não apenas os desafios físicos da sobrevivência, mas também o impacto mental do isolamento e do luto.

Por seis dias após a morte de Ezequiel Cordoba, Jose Alvarenga deixou seu corpo intocado. Deixado sozinho pela primeira vez em quase meio ano, ele contemplou o suicídio. Finalmente, ele se livrou do corpo de Córdoba e, com fé renovada, se esforçou para sobreviver.

A Vontade de Sobreviver de José Alvarenga

Ao longo de sua provação, a vontade de viver de Alvarenga permaneceu notavelmente forte. Ele manteve a esperança de que eventualmente seria resgatado e reencontrado com sua família. Essa fortaleza mental desempenhou um papel crucial em sua sobrevivência, pois ele se recusou a desistir, mesmo nos momentos mais sombrios.

As técnicas de sobrevivência de Alvarenga foram tanto criativas quanto desesperadas. Ele improvisou anzóis com partes do barco e usou garrafas plásticas para coletar água da chuva. Ele até recorreu a beber sua própria urina quando a água da chuva era escassa – o que ele descobriu ser uma péssima ideia. Sua habilidade de se adaptar ao ambiente e fazer uso dos recursos limitados disponíveis foi fundamental para sua sobrevivência.

Os desafios psicológicos talvez tenham sido ainda mais assustadores que os físicos. Alvarenga teve que combater a solidão, o desespero e o constante medo da morte. Ele manteve a mente ativa cantando, rezando e conversando consigo mesmo. Ele até criou companheiros imaginários para manter-se são durante os longos períodos de isolamento.

O Resgate Milagroso

Depois de derivar mais de 10.780 quilômetros pelo Oceano Pacífico, a jornada de Alvarenga finalmente chegou ao fim em janeiro de 2014, após 438 dias no mar. Ele chegou à costa do Atol de Ebon, uma parte remota das Ilhas Marshall. Residentes locais o descobriram, fraco e desorientado, mas milagrosamente vivo.

A aparência de José Alvarenga era chocante para aqueles que o encontraram. Ele tinha cabelos longos e emaranhados e uma barba espessa. Seu corpo estava inchado devido à dieta rica em sal, e ele não conseguia andar sem ajuda. Apesar de sua condição física, ele estava coerente e capaz de comunicar sua incrível história aos seus socorristas.

A notícia da sobrevivência de José Alvarenga rapidamente se espalhou pelo mundo, cativando audiências com sua natureza quase inacreditável. Muitos foram céticos inicialmente, achando difícil acreditar que alguém pudesse sobreviver tanto tempo no mar. No entanto, exames médicos e investigações subsequentes confirmaram a veracidade de sua história.

A Vida de José Alvarenga Após a Provação

Jose Alvarenga ao ser levado de volta ao México

Jose Alvarenga ao ser levado de volta ao México

O retorno de José Alvarenga à civilização não foi sem desafios. Ele teve que se readaptar à vida normal, lidar com a atenção da mídia e enfrentar as consequências psicológicas de sua provação. Ele foi reunido com sua família em El Salvador, incluindo uma filha que não via há anos.

A experiência deixou uma marca indelével em Alvarenga. Ele sofria de pesadelos e tinha dificuldade em se readaptar a uma dieta normal. No entanto, ele também ganhou uma nova perspectiva sobre a vida e uma profunda apreciação pelas coisas simples que antes dava como certas.

O livro e o processo

Após seu incrível resgate e retorno à civilização, José Salvador Alvarenga enfrentou não apenas desafios pessoais, mas também legais. Em 2015, ele foi alvo de um processo de US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 3 milhões na época) movido pela família de Ezequiel Córdoba, seu companheiro de pesca que não sobreviveu à provação no mar.

A família de Córdoba alegava que Alvarenga havia canibalizado o corpo de Ezequiel para sobreviver, uma acusação que ele veementemente negou.

Paralelamente a esse desafio legal, Alvarenga decidiu compartilhar sua extraordinária história com o mundo através de um livro. Intitulado “438 Dias: Uma Incrível História de Sobrevivência no Mar”, em tradução livre. O livro foi escrito em colaboração com o jornalista Jonathan Franklin e publicado em 2015.

Nesta obra, Alvarenga detalha sua jornada de sobrevivência, descrevendo os desafios físicos e psicológicos que enfrentou durante os 14 meses à deriva no Oceano Pacífico. O livro oferece um relato em primeira mão de suas técnicas de sobrevivência, seus momentos de desespero e esperança, e como ele conseguiu manter sua sanidade durante o isolamento prolongado.

A publicação do livro não apenas ajudou Alvarenga a processar sua experiência traumática, mas também serviu como uma forma de responder às acusações e esclarecer os eventos que ocorreram durante sua provação.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.