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Isso é o que acontece em um necrotério. Você teria coragem de trabalhar ali?

Leonardo Ambrosio

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A morte é a única certeza que temos em nossas vidas, e a menos que você faleça sob circunstâncias extremamente violentas e duvidosas, provavelmente você um dia acabará em um necrotério. É neste ambiente que os cadáveres humanos são armazenados para procedimentos que visem a autópsia ou o preparo do enterro digno. Mas como será a vida dos profissionais que trabalham nestes ambientes? Será que você teria estômago para esta rotina?

Normalmente, não são todos os corpos que precisam passar pelos médicos legistas. De acordo com a lei brasileira, somente as mortes violentas, por causa desconhecida e por causa natural sem assistência médica é que precisam ser avaliadas pelo Instituto Médico Legal, órgão brasileiro que realiza autópsias.

Nestes casos, o médico legista, que é por lei formado em medicina, entra em ação para determinar exatamente as causas da morte e o que exatamente aconteceu com a pessoa antes de seu falecimento.

Em alguns países, como nos Estados Unidos, os enfermeiros e demais funcionários que ajudam os médicos legistas em seu trabalho não precisam de uma formação específica, e acabam aprendendo o dia a dia da atribuição com o tempo de serviço. Apesar do salário ser razoável, não é tão fácil assim encontrar pessoas dispostas a passar horas do dia lidando com cadáveres. De acordo com Aleksey Kupryishin, médico com 30 anos de experiência de trabalho em necrotérios, que concedeu entrevista ao portal BrightSide, as pessoas não costumam ficar muito tempo trabalhando nestas funções.

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De acordo com o especialista, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a maior parte do trabalho não é feita diretamente na sala do necrotério, junto aos corpos. A pesquisa em escritório também é muito útil, e muitas vezes você precisa gastar algumas horas analisando os resultados obtidos na pesquisa prática para chegar a uma conclusão. Por outro lado, ter uma certa experiência na lida com os cadáveres também é crucial, já que, por exemplo, conhecer os odores característicos dos cadáveres pode ser importante para determinar uma morte por envenenamento.

“Um bom olfato dá aos especialistas uma certa vantagem quando o trabalho é determinar qual veneno foi utilizado para matar alguém. Durante a pesquisa, há muitos cheiros diferentes. Se uma pessoa foi envenenada com amônia, há um cheiro de ácido carbólico, já o dicloroetano produz um cheiro de cogumelos apodrecidos, enquanto o álcool amílico cheira a óleo fúsel, o álcool butílico cheira a frutas e o metrifonato cheira a alho”, explicou o médico ao BrightSide.

Aleksey também diz que existem alguns “estereótipos” sobre a profissão, que não são exatamente verdadeiros. É dito, por exemplo, que os médicos legistas que trabalham em necrotérios costumam ser cínicos, frios e calculistas, como se isso fosse um pré-requisito para suportar a vida em um necrotério, de acordo com ele, no entanto, isso não faz o menor sentido. Além disso, muitas pessoas dizem que o trabalho do médico legista não é assim tão “perigoso” como o trabalho dos cirurgiões e outros profissionais que atuam com pessoas vivas, já que um erro não pode causar nenhuma complicação para o corpo já sem vida. Apesar de isso ser verdade, conforme constata o médico ao BrightSide, um erro no necrotério pode representar a prisão indevida de um inocente, ou a absolvição de uma pessoa realmente culpada.

Com tanto tempo lidando com a morte de forma profissional, Aleksey adquiriu também um grande conhecimento sobre como podemos evitar terminar antes da hora em uma mesa de necrotério.

De acordo com o médico, é extremamente importante que as pessoas procurem ajuda de especialistas na ocorrência de dores que não vão embora, o que muitas pessoas acabam não fazendo. Infelizmente, como sabemos, pessoas que vão muito ao médico normalmente são vistas como “neuróticas” ou “problemáticas”.

Além disso, Aleksey critica o fato dos jovens não terem o hábito de medir a pressão arterial, e que quantos aparecem dores de cabeça ou pelo corpo, tomamos um analgésico e esperamos que ela simplesmente vá embora. Isso, no entanto, pode acabar agravando algum problema mais sério.

“Certa vez, eu estava pesquisando o corpo de uma jovem estudante… Ela faleceu enquanto olhava por uma janela. Duas semanas antes, ela tinha tido uma gripe comum. Ela foi tratada, mas ainda tinha um pouco de falta de ar e chiado no peito. Nenhum desses sintomas fez com que ela se preocupasse, então ela não procurou um médico. No entanto, ela deveria. Ela tia miocardite, que é uma complicação no coração causada pelo resfriado comum”, contou o médico ao BrightSide.

Outras “dicas” do médico incluem atitudes que esperamos que você já tenha em mente, como não exagerar na velocidade no trânsito, sair o mais rápido possível de um ambiente que esteja pegando fogo, independente dos bens que você tenha que deixar para trás.

Confira alguns casos curiosos:

  • Em 2018, uma mulher dada como morta na África do Sul acabou por acordar dentro de um dos “freezers” de um necrotério, após uma falha grotesca em seu atestado de óbito. A mulher se envolveu em um acidente de carro em Carletonville, e seu óbito foi declarado pelos paramédicos que atenderam o caso.Quando um dos funcionários do necrotério foi conferir as gavetas onde estavam os cadáveres, a mulher estava viva!
  • Na Venezuela, no estado de Zulia, há um necrotério onde os cadáveres muitas vezes acabam explodindo por conta da falta de manutenção dos equipamentos de refrigeração e condições de armazenamento. Quando isso acontece, os funcionários precisam limpar salas cheias de vermes e sangue já apodrecido, bem como restos de órgãos, pele e tecido. Realmente, um trabalho que dificilmente alguém aceitaria fazer.

E você, teria coragem de trabalhar em um necrotério?

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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