Homem que passou pela ‘pior execução’ da história recebeu uma punição ‘desumana’

por Lucas Rabello
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No século XVI, a Europa era um lugar onde a justiça frequentemente se confundia com espetáculos de crueldade. Entre métodos de tortura como a “forca dos hereges” — um instrumento pontiagudo que perfurava a garganta de quem ousasse discordar da Igreja — e o “touro de bronze“, onde vítimas eram assadas vivas dentro de uma estátua de metal, a criatividade humana para infligir dor parecia não ter limites. Mas um caso em particular, ocorrido na Inglaterra sob o reinado de Henrique VIII, entrou para a história como um dos mais brutais: a execução de Richard Roose, cozinheiro acusado de envenenamento.

Em 1531, Roose trabalhava para John Fisher, bispo de Rochester, em Lambeth, Londres. Durante um jantar, ele teria adicionado um pó suspeito à sopa servida aos convidados. Dois mendigos que receberam as sobras da refeição morreram, enquanto os convidados do bispo sobreviveram, embora tenham passado por graves crises de saúde. O cozinheiro fugiu do local, mas foi rapidamente capturado e levado para a Torre de Londres, onde enfrentou interrogatórios sob tortura no cavalete, dispositivo que esticava o corpo até deslocar articulações.

Parece pouco surpreendente que esse cara estivesse envolvido nessa história.

Parece pouco surpreendente que esse cara estivesse envolvido nessa história.

Sob tortura, Roose afirmou que a substância foi colocada como uma “brincadeira”, sem intenção de matar. No entanto, Henrique VIII, conhecido por seu temperamento impiedoso, usou o caso para reforçar seu poder. Ele convocou o Parlamento e declarou que o envenenamento seria considerado ato de traição — crime até então reservado a ameaças contra a coroa. A mudança na lei permitiu que o rei condenasse Roose sem julgamento tradicional, baseando-se apenas em sua própria palavra.

A punição para traição já era horrível: o condenado era arrastado por um cavalo até o local de execução, enforcado sem que a corda quebrasse seu pescoço, e depois esquartejado e mutilado enquanto ainda vivo. Mas Henrique VIII decidiu ir além. Ele decretou que Roose seria fervido vivo em água escaldante, método até então inédito na Inglaterra. No dia 5 de abril de 1531, uma multidão se reuniu em Smithfield, área conhecida por execuções públicas. Um caldeirão gigante foi preparado, e Roose foi mergulhado três vezes no líquido fervente até morrer, em meio a gritos de agonia.

A execução chocou até mesmo uma sociedade acostumada a violências públicas. Relatos da época descrevem o horror dos espectadores, enquanto historiadores modernos apontam o caso como exemplo do autoritarismo de Henrique VIII, que manipulava leis para eliminar desafios. O próprio bispo Fisher, patrão de Roose, seria decapitado anos depois por se opor ao rompimento do rei com a Igreja Católica.

A execução de Roose foi dramatizada na série The Tudors (Showtime).

A execução de Roose foi dramatizada na série The Tudors (Showtime).

Curiosamente, o destino de Roose não foi um incidente isolado. Após sua morte, Henrique VIII oficializou a fervura como pena para envenenadores, e registros indicam que pelo menos mais duas pessoas sofreram o mesmo método antes de a prática ser abolida em 1547. O caso também revela como as acusações de envenenamento eram tratadas com paranoia na época, muitas vezes sem provas concretas — Roose, por exemplo, nunca confessou ter usado veneno, apenas um “pó desconhecido”.

Hoje, o relato da execução de Richard Roose circula em fóruns e vídeos como exemplo extremo da crueldade humana. Comentários na internet variam entre quem classifica o método como a “pior forma de morrer” e quem reflete sobre a capacidade de governantes usarem o terror como ferramenta política. A história também ilustra como as leis do período Tudor refletiam os caprichos de um monarca que não hesitava em redefinir a justiça para consolidar seu poder.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.