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Homem passou 18 anos sem poder sair do aeroporto

Homem passou 18 anos sem poder sair do aeroporto

Muitos indivíduos frequentam aeroportos por curtos períodos, seja para embarcar em viagens ou receber visitantes. Contudo, Mehran Karimi Nasseri, nascido em 1943 no Irã, viveu uma história extraordinária, passando 18 anos no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, em Paris.

Mehran viajou ao Reino Unido em 1973 para estudar na Universidade de Bradford. Durante sua ausência, envolveu-se em protestos contra o xá iraniano Mohammad Reza Pahlavi. Ao retornar ao Irã, enfrentou prisão e exílio por suas posições políticas. Ele buscou asilo político na Europa, sendo concedido o status de refugiado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados na Bélgica, em 1981.

Em 1986, Mehran decidiu se estabelecer no Reino Unido. Entretanto, seu trajeto à terra britânica se mostrou difícil. Em trânsito por Paris, seus documentos de refugiado foram roubados, impedindo sua entrada no Reino Unido e resultando em sua deportação à França.

As autoridades francesas o detiveram, mas como sua presença no aeroporto não era ilegal, ele foi solto. Sem documentos e impossibilitado de retornar ao Irã, Mehran permaneceu no Terminal 1 do aeroporto francês. Dias se transformaram em semanas e, posteriormente, em anos. Acompanhado de sua bagagem, Mehran passava o tempo lendo, estudando economia e registrando sua experiência em um diário.

Funcionários do aeroporto o conheciam e ofereciam comida e jornais. Apesar da situação, Mehran cuidava da aparência, utilizando os banheiros do aeroporto e lavanderias. Ele também recebia cartas de pessoas solidárias à sua situação.

Christian Bourguet, advogado francês de direitos humanos, interessou-se pelo caso de Mehran e passou a defendê-lo. Bourguet argumentava que a Bélgica deveria reemitir os documentos de Mehran, mas isso exigiria sua presença no país. Uma lei belga impedia o retorno de refugiados que haviam deixado o território após serem aceitos.

Em 1999, o governo belga concordou em enviar os documentos pelo correio, e as autoridades francesas concederam a Mehran uma autorização de residência. Ele foi hospitalizado em 2006 devido a uma doença não revelada e, após receber alta em 2007, foi encaminhado a um hotel próximo ao aeroporto.

Embora não tenha conseguido se estabelecer em Londres, Mehran obteve liberdade na França. Em 2008, passou a residir em um abrigo nos subúrbios de Paris. No entanto, em 12 de novembro de 2022, Mehran faleceu por causas naturais no Aeroporto Paris-Charles de Gaulle, Terminal 2F. Segundo um porta-voz, ele retornou ao aeroporto como sem-teto em meados de setembro, após uma temporada em uma casa de repouso.