Um caso que parece saído de um filme de suspense ganhou destaque nos Estados Unidos: Stephen Craig Campbell, de 76 anos, passou mais de quatro décadas fugindo da Justiça usando a identidade de um colega falecido. Sua captura, em fevereiro de 2024, só foi possível depois que ele cometeu um erro que revelou sua verdadeira identidade.
Tudo começou em 1982, no estado do Wyoming. Campbell foi acusado de colocar uma bomba dentro de uma caixa de ferramentas deixada na casa do namorado de sua então esposa. Quando ela abriu o objeto, o explosivo detonou, arrancou um de seus dedos e provocou um incêndio que atingiu duas residências. Campbell foi preso, mas, após ser liberado sob fiança em 1983, desapareceu sem deixar pistas. Ele não compareceu ao julgamento e entrou para a lista de Procurados do Serviço de Xerifes dos EUA.
Por anos, as autoridades acreditaram que ele havia sumido sem deixar rastros. A verdade, porém, era mais complexa: Campbell assumiu a identidade de Walter Lee Coffman, um ex-colega de faculdade que morreu em um acidente de carro em 1975, aos 22 anos. Ambos haviam se formado em engenharia na Universidade do Arkansas dois meses antes da morte de Coffman.
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Campbell é acusado de usar a identidade de um homem morto por 40 anos (Escritório do Procurador dos EUA no Distrito do Novo México).
Usando documentos falsificados, Campbell começou a viver como Coffman a partir de 1984. Ele conseguiu um passaporte no nome do colega e o renovou várias vezes ao longo dos anos, sempre com sua própria foto. Em 1995, obteve uma nova carteira de motorista no estado de Oklahoma e, com ela, solicitou um novo número de Previdência Social. A fraude permitiu que ele recebesse mais de US$ 140 mil em benefícios governamentais. Em 2003, comprou uma propriedade de cerca de 18 hectares no Novo México usando a identidade falsa.
O plano quase perfeito começou a desmoronar em 2019. Ao renovar sua carteira de motorista no Departamento de Trânsito do Novo México, Campbell apresentou documentos em nome de Coffman. Funcionários desconfiaram ao descobrir registros da morte real do homem cuja identidade ele usava. Investigadores da Unidade de Prevenção a Fraudes de Passaportes confirmaram a suspeita: o “Walter Lee Coffman” vivo era, na verdade, um fugitivo procurado há décadas.
Em 19 de fevereiro de 2024, agentes federais cercaram a propriedade de Campbell no Novo México. Ele resistiu à prisão, escondendo-se com um rifle carregado com munição capaz de perfurar coletes à prova de balas. Após usar granadas de efeito moral para imobilizá-lo, a polícia encontrou 57 armas de fogo e quantidades grandes de munição em sua casa — itens que ele estava proibido de possuir devido ao histórico criminal.
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Ele supostamente obteve um passaporte no nome de Coffman (Escritório do Procurador dos EUA no Distrito do Novo México).
Jason Mower, porta-voz do escritório do xerife do condado de Sweetwater, no Wyoming, destacou a complexidade do caso: “O cartaz de procurado de Campbell estava na parede do nosso escritório desde que comecei a trabalhar aqui, há quase 20 anos. Ajudei a prender centenas de fugitivos, mas nunca ele. Todas as pistas sumiam. Agora, finalmente entendemos o porquê”.
Campbell enfrenta acusações de fraude de identidade, uso ilegal de passaporte (que pode render até 10 anos de prisão) e posse não autorizada de armas. Ele também será julgado pelo atentado à bomba de 1982, que permanece em aberto. As investigações continuam para determinar se há mais crimes ligados a suas quatro décadas de vida sob um nome falso.