O Hezbollah, um grupo islâmico xiita baseado no Líbano, é amplamente considerado como a organização não-estatal mais fortemente armada do mundo, e considerada por vários países, inclusive Estados Unidos, como um grupo terrorista.. Com o apoio substancial do Irã, o Hezbollah conseguiu acumular um arsenal impressionante ao longo dos anos. De acordo com o World Factbook da Agência Central de Inteligência dos EUA, o grupo possui um arsenal que ultrapassa 150.000 mísseis e foguetes. Este número por si só já é alarmante, mas o que torna o Hezbollah verdadeiramente formidável é a diversidade e sofisticação de seu armamento.
O grupo afirma ter capacidade de atingir qualquer ponto do território israelense com seus foguetes. Embora muitos desses projéteis não sejam guiados, o que poderia limitar sua precisão, o Hezbollah também possui em seu arsenal mísseis de precisão, drones e uma variedade de mísseis antitanque, antiaéreos e antinavio. Esta combinação de quantidade e qualidade faz do Hezbollah uma ameaça significativa, não apenas para Israel, mas para toda a região.
O Irã desempenha um papel crucial como principal fornecedor de armas e apoiador do Hezbollah. Muitas das armas do grupo são modelos iranianos, embora também haja exemplares de origem russa e chinesa em seu arsenal.
Quanto ao número de combatentes, as estimativas variam. O líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou em 2021 que o grupo contava com 100.000 combatentes. No entanto, o CIA World Factbook apresenta uma estimativa mais conservadora, sugerindo que em 2022 o grupo tinha até 45.000 combatentes, dos quais cerca de 20.000 em tempo integral Independentemente do número exato, é evidente que o Hezbollah possui uma força de combate significativa, capaz de mobilizar rapidamente um grande número de combatentes experientes.
Foguetes e mísseis de ataque terrestre
O arsenal de mísseis do Hezbollah passou por uma evolução significativa desde a última guerra com Israel em 2006. Naquela época, o grupo disparou cerca de 4.000 foguetes contra Israel, a maioria dos quais eram mísseis não guiados do tipo Katyusha, com um alcance limitado de cerca de 30 km. Embora esses foguetes ainda constituam uma parte importante do arsenal do grupo, o Hezbollah fez avanços consideráveis na expansão de suas capacidades de ataque terrestre.
Uma das mudanças mais significativas, segundo Nasrallah, foi a expansão dos sistemas de orientação de precisão do grupo. O Hezbollah agora afirma ter a capacidade de adaptar foguetes com sistemas de orientação dentro do próprio Líbano, o que potencialmente aumenta a precisão e a eficácia de seus ataques. Esta capacidade, se confirmada, representaria um salto tecnológico significativo e uma ameaça aumentada para alvos israelenses.
O arsenal do Hezbollah agora inclui uma variedade de modelos iranianos mais avançados. Entre eles estão os foguetes Raad (que significa “trovão” em árabe), Fajr (“amanhecer”) e Zilzal (“terremoto”). Estes modelos oferecem uma carga útil mais poderosa e um alcance maior do que os antigos Katyushas, aumentando significativamente o potencial de dano do grupo.
Durante o recente conflito em Gaza, o Hezbollah demonstrou algumas de suas novas capacidades, disparando mísseis Katyusha e Burkan (“vulcão”) contra Israel. Os mísseis Burkan são particularmente notáveis por sua carga explosiva substancial, que varia entre 300 e 500 kg. Além disso, o grupo introduziu os foguetes Falaq 2 de fabricação iraniana, que podem transportar uma ogiva ainda maior do que seu predecessor, o Falaq 1.
Mísseis antitanque
Os mísseis antitanque guiados têm sido uma parte crucial do arsenal do Hezbollah desde a guerra de 2006, quando foram usados extensivamente contra as forças israelenses. O grupo continua a empregar estes sistemas, incluindo o míssil Kornet de fabricação russa, conhecido por sua eficácia contra blindados.
Um desenvolvimento recente e significativo é o uso do míssil guiado de fabricação iraniana conhecido como “al-Mas”. Este míssil representa um avanço tecnológico importante, pois pode atingir alvos além da linha de visão, seguindo uma trajetória arqueada que permite ataques de cima. Esta capacidade torna o al-Mas particularmente eficaz contra alvos protegidos ou escondidos, aumentando significativamente a ameaça aos veículos blindados israelenses.
Segundo um relatório do Centro de Pesquisa e Educação Alma de Israel, o al-Mas faz parte de uma família de armas desenvolvidas pelo Irã através de engenharia reversa, baseada na família de mísseis Spike israelenses. Esta informação, se precisa, destaca a sofisticação crescente do arsenal do Hezbollah e a capacidade do Irã de replicar e adaptar tecnologias avançadas de armamentos.
Mísseis antiaéreos
A capacidade antiaérea do Hezbollah tem se mostrado surpreendentemente eficaz nos conflitos recentes. O grupo conseguiu derrubar vários drones israelenses, incluindo modelos avançados como o Hermes 450 e o Hermes 900, utilizando mísseis terra-ar [[11]]. Estes sucessos marcaram a primeira vez que o Hezbollah demonstrou publicamente esta capacidade, surpreendendo muitos observadores que não acreditavam que o grupo possuísse sistemas antiaéreos tão eficazes.
Além de ataques contra drones, o Hezbollah também afirmou ter disparado contra aviões de guerra israelenses, forçando-os a deixar o espaço aéreo libanês. Embora o grupo não tenha especificado o tipo de arma utilizada nestes ataques, a mera afirmação de tal capacidade representa uma escalada significativa na ameaça percebida do Hezbollah às operações aéreas israelenses.
Drones
O uso de drones pelo Hezbollah tem se tornado cada vez mais sofisticado e frequente. O grupo tem realizado vários ataques com drones explosivos unidirecionais, bem como operações com drones capazes de lançar bombas e retornar à base [[12]]. Esta capacidade de ataque e retorno representa um avanço significativo, permitindo operações mais complexas e reduzindo o risco de perda de equipamentos.
Uma tática particularmente notável empregada pelo Hezbollah envolve o uso de múltiplos drones em um único ataque. Alguns drones são enviados para distrair as defesas aéreas israelenses, enquanto outros se dirigem aos alvos pretendidos. Esta abordagem demonstra um nível de sofisticação tática que vai além do simples uso de drones como plataformas de ataque.
O arsenal de drones do Hezbollah inclui modelos como o Ayoub e o Mersad, que são montados localmente. Analistas apontam que estes drones são relativamente baratos e fáceis de produzir, o que permite ao grupo manter um fluxo constante de novas unidades, mesmo em face de perdas em combate.
Mísseis antinavio
A capacidade antinavio do Hezbollah foi demonstrada pela primeira vez de forma dramática em 2006, quando o grupo atingiu um navio de guerra israelense a 16 km da costa, resultando na morte de quatro militares israelenses e causando danos significativos à embarcação [[13]]. Este ataque surpreendeu muitos observadores e destacou a ameaça que o Hezbollah representa não apenas para alvos terrestres, mas também para operações navais na região.
Desde a guerra de 2006, acredita-se que o Hezbollah tenha adquirido mísseis antinavio ainda mais avançados. Fontes familiarizadas com o arsenal do grupo sugerem que ele possui agora o míssil antinavio Yakhont de fabricação russa, que tem um alcance impressionante de 300 km [[14]]. Embora o Hezbollah não tenha confirmado oficialmente a posse desta arma, sua mera existência potencial no arsenal do grupo representa uma ameaça significativa para as operações navais israelenses e potencialmente para o tráfego marítimo civil na região.
A possibilidade de o Hezbollah possuir mísseis antinavio de longo alcance como o Yakhont tem implicações estratégicas significativas. Tais armas poderiam potencialmente ameaçar não apenas navios militares, mas também infraestruturas críticas como plataformas de gás offshore e portos importantes ao longo da costa israelense. Isso amplia consideravelmente o alcance estratégico do Hezbollah e complica os cálculos de segurança de Israel e de outros países da região.
Israel corre perigo?
A questão sobre se o Hezbollah tem capacidade de destruir Israel é complexa e multifacetada. Embora o grupo tenha um arsenal impressionante e capacidades militares significativas, é importante considerar vários fatores ao avaliar essa possibilidade.
Em primeiro lugar, é necessário reconhecer a disparidade militar entre as duas partes. Israel possui uma das forças armadas mais avançadas e bem equipadas do mundo, com tecnologia militar de ponta, incluindo sistemas de defesa antimísseis como o Domo de Ferro. A superioridade militar israelense em termos de poder aéreo, capacidade naval e inteligência é substancial. Isso coloca o Hezbollah em uma posição de desvantagem significativa em termos de poder militar convencional.
No entanto, o arsenal do Hezbollah não deve ser subestimado. Apesar de possuir um grande número de foguetes e mísseis, muitos deles não são guiados com precisão, o que limita sua eficácia em ataques estratégicos. Contudo, o grupo tem adquirido mísseis mais precisos e sofisticados ao longo dos anos, o que aumenta sua capacidade de causar danos significativos a alvos israelenses.
Uma guerra total exigiria que o Hezbollah sustentasse operações militares por um período prolongado, o que seria desafiador considerando seus recursos limitados em comparação com Israel. Além disso, Israel conta com forte apoio internacional, especialmente dos Estados Unidos, o que poderia ser decisivo em um conflito prolongado.
Outro aspecto importante é o impacto que uma guerra total teria no Líbano, país que abriga o Hezbollah. Um conflito em larga escala provavelmente resultaria em danos catastróficos ao Líbano, o que poderia limitar a disposição do grupo em escalar o conflito até esse ponto. O Hezbollah precisa considerar não apenas suas capacidades militares, mas também as consequências políticas e humanitárias de suas ações.
A questão da dissuasão nuclear também não pode ser ignorada. Embora Israel não confirme oficialmente, acredita-se que possua armas nucleares, o que serve como um forte fator de dissuasão contra ameaças existenciais.
O Hezbollah se especializou em táticas de guerra assimétrica ao longo dos anos. Essas táticas podem causar danos significativos e interrupções na vida cotidiana em Israel, mas é improvável que levem à destruição do país. A verdadeira ameaça do Hezbollah reside mais em sua capacidade de desestabilizar a região e infligir custos econômicos e humanos substanciais do que em sua capacidade de derrotar militarmente Israel.
É importante notar que o Hezbollah faz parte de um eixo regional apoiado pelo Irã, o que lhe confere certa profundidade estratégica. No entanto, isso não necessariamente se traduz em capacidade de destruir Israel. A rede de alianças regionais adiciona complexidade ao conflito, mas não altera fundamentalmente o equilíbrio de poder militar.
Considerando todos esses fatores, é improvável que o Hezbollah tenha a capacidade de destruir Israel no sentido literal. No entanto, o grupo certamente tem o potencial de causar danos significativos, perturbar a vida normal e representar uma ameaça séria à segurança de Israel. A verdadeira ameaça do Hezbollah reside mais em sua capacidade de desestabilizar a região e infligir custos econômicos e humanos substanciais do que em sua capacidade de derrotar militarmente Israel.
A situação permanece tensa e dinâmica, com ambos os lados continuamente adaptando suas estratégias e capacidades. A dissuasão mútua e as potenciais consequências catastróficas de um conflito total têm, até agora, impedido uma escalada para uma guerra em larga escala. No entanto, a volatilidade da região e a complexidade das relações entre os diversos atores envolvidos fazem com que a situação permaneça imprevisível e potencialmente perigosa.