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Gostar de Harry Potter pode ser um sinal de que você é uma pessoa mais tolerante, diz estudo

Leonardo Ambrosio

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Há aproximadamente 20 anos, o primeiro livro de Harry Potter chegava às livrarias e pouquíssimas pessoas esperavam que em duas décadas a história de fantasia se transformaria em uma das obras mais vendidas e apreciadas da literatura recente. No entanto, com sua temática fantástica, envolvendo magia, amizades, inimizades e com uma linguagem agradável para pessoas de praticamente todas as idades, a obra de J. K. Rowling garantiu seu lugar entre os livros de mais sucesso já lançados dentro deste gênero. [Agora você pode fazer uma viagem mágica no Expresso de Hogwarts da vida real]

O que você, fã da história, talvez não saiba, é que de acordo com um estudo lançado recentemente as pessoas que apreciam a história de Harry Potter possuem uma tendência a ser pessoas melhores, pelo menos no que tange a aceitar e respeitar as diferenças e conviver harmonicamente com os demais.

Expresso de Hogwarts
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Durante os testes, crianças de uma escola de ensino fundamental da Itália foram submetidas a questionamentos antes e depois de lerem algumas passagens da obra de J. K Rowling, principalmente aquelas em que certos personagens demonstravam intolerância com os demais, como a cena de Draco Malfoy insultando outros alunos de Hogwarts por serem de “sangue ruim”. E o que os autores encontraram nos resultados é que a identificação dos leitores com a história e suas nuances pode ter efeitos na personalidade de cada um.

“Os resultados de uma intervenção experimental e dois estudos mostram que ler as histórias de Harry Potter aprimora a atitude em relação a grupos estigmatizados entre aqueles que se identificaram com o personagem principal, e que ao mesmo tempo não se identificaram com o principal personagem negativo (Voldemort)”, escreveram os pesquisadores.

Não é nenhuma novidade que as histórias de Harry Potter possam ter esses efeitos principalmente em indivíduos mais jovens, que ainda estão formando suas concepções e ideologias em relação a outros seres humanos. Os que são mais familiarizados com a história sabem, por exemplo, que Harry foi uma criança criada sem seus pais (mortos em um ataque protagonizado pelo principal vilão da história), ao lado de um primo extremamente abusivo e tios controladores e violentos. Ao mesmo tempo, os personagens que se tornam amigos do protagonista durante a trama também possuem características de grupos “excluídos”. Ron Weasley, por exemplo, vem de uma família pobre, enquanto Hermione Granger possui raízes “trouxas” (pessoas não-bruxas). Ao mesmo tempo, Rúbeo Hagrid é um meio-gigante com traços humanos que vive praticamente em isolamento em uma floresta. Outro personagem importante para a história, Neville Longbottom, possui uma característica “desastrada”, com pouca destreza mágica e atitudes atrapalhadas. Entretanto, todos vivem de forma harmônica, respeitando suas diferenças e lutando contra um vilão que tem como principal obsessão a busca pelo poder e pelo controle sob os demais, além da ideia de que é necessário exterminar aqueles que não possuem o “sangue limpo” (filhos de dois bruxos, sem interferência ‘trouxa’).

Por conta de toda essa carga implícita nas histórias, um indivíduo que se identifique positivamente com o protagonista da história possui uma maior tendência a aplicar estes conceitos de respeito em sua vida pessoal, desenvolvendo traços mais humanos em relação às outras pessoas e às diferenças, conforme os pesquisadores explicam no estudo. Em outras palavras, podemos dizer que os leitores e espectadores da história de Harry Potter, ao observarem as injustiças, o preconceito e a violência no mundo da magia, passam a olhar com mais atenção também para todos esses temas no “mundo real”.

Os autores da pesquisa deixam claro em seu trabalho que o estudo levou em consideração apenas os livros da saga Harry Potter, e que por isso novas pesquisas são necessárias para analisar mais profundamente o efeito da leitura e do contato com a literatura (e o cinema, também) e a formação da personalidade dos indivíduos.

E você, acha que a identificação com obras literárias pode influenciar a personalidade de uma pessoa?

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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