“Gênio” recusou prêmio de $ 1.000.000 após resolver um dos problemas matemáticos mais difíceis do mundo

por Lucas Rabello
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No universo da matemática, poucos problemas foram tão desafiadores quanto a Conjectura de Poincaré, um enigma que intrigou especialistas por quase um século. Proposta em 1904 pelo matemático francês Henri Poincaré, a conjectura explorava conceitos complexos relacionados às formas tridimensionais e suas propriedades.

A essência do teorema girava em torno de espaços que, embora se parecessem com o espaço tridimensional convencional, possuem limites finitos. Poincaré sugeriu que, se em um espaço desses fosse possível contrair qualquer laço fechado até transformá-lo em um único ponto, aquele espaço seria equivalente a uma esfera tridimensional. No entanto, provar isso matematicamente se mostrou uma tarefa extremamente complicada.

O enigma permaneceu sem solução até que, em 2002, o matemático russo Grigori Perelman apresentou uma resposta definitiva. Por meio de um artigo publicado online, Perelman demonstrou que havia desvendado o problema que há décadas desafiava os maiores matemáticos do mundo. Durante os anos seguintes, estudiosos em todo o planeta analisaram seu trabalho, eventualmente confirmando que ele havia resolvido um dos problemas mais complexos da topologia.

A conquista de Perelman chamou a atenção do Instituto Clay de Matemática, localizado em Cambridge, Massachusetts, EUA. Em 2010, a instituição ofereceu ao matemático um prêmio de 1 milhão de dólares como reconhecimento por sua solução. Entretanto, sua resposta foi inesperada: Perelman recusou a premiação.

Perelman recusou o prêmio em dinheiro de US$ 1 milhão por resolver o problema e chamou a comunidade matemática organizada de "injusta" (Reddit).

Perelman recusou o prêmio em dinheiro de US$ 1 milhão por resolver o problema e chamou a comunidade matemática organizada de “injusta” (Reddit).

“Não gosto das decisões deles, considero-as injustas”, explicou Perelman na ocasião. Ele acreditava que Richard S. Hamilton, outro matemático que havia desenvolvido uma ferramenta essencial para resolver o problema — a equação de Ricci Flow —, merecia dividir o reconhecimento. A escolha do Instituto Clay de atribuir o prêmio exclusivamente a ele não o agradou.

Este episódio não foi a única vez que Perelman rejeitou uma honraria importante. Em 2006, ele também recusou a Medalha Fields, frequentemente descrita como o “Prêmio Nobel da Matemática”. Na ocasião, ele declarou: “Não estou interessado em dinheiro ou fama; não quero ser exibido como um animal no zoológico.” E acrescentou: “Não sou um herói da matemática. Nem mesmo sou tão bem-sucedido; é por isso que não quero que todos fiquem me observando.”

Após essas recusas, Perelman tomou uma decisão ainda mais drástica: distanciou-se completamente da comunidade matemática. De acordo com Sergei Kisliakov, diretor do Instituto de Matemática Steklov, em São Petersburgo, onde Perelman trabalhava, o matemático abandonou o campo em 2006. “Ele cortou todos os laços com a comunidade e quis encontrar um trabalho que não tivesse relação com a matemática”, afirmou Kisliakov. “Não sei se conseguiu isso.”

Kisliakov também comentou sobre a peculiaridade de Perelman: “Ele tem princípios morais bastante incomuns. Ele reage de forma muito intensa a pequenas injustiças.” Essa sensibilidade às questões éticas parece ter influenciado tanto sua decisão de rejeitar os prêmios quanto seu afastamento definitivo do mundo da matemática.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.