Em 2015, a NASA conduziu uma jornada científica sem precedentes quando o astronauta Scott Kelly partiu para uma missão de um ano na Estação Espacial Internacional (ISS), enquanto seu irmão gêmeo idêntico, Mark Kelly, permaneceu na Terra.
Essa situação única deu aos pesquisadores uma oportunidade extraordinária de estudar como as viagens espaciais prolongadas impactam o corpo humano.
Dez equipes de pesquisa nos Estados Unidos analisaram meticulosamente as mudanças fisiológicas, moleculares e cognitivas que ocorreram durante e após a missão de Scott, comparando seus dados com as medições de Mark, que serviu como “controle terrestre”.
Transformações Físicas na Microgravidade
A ausência de gravidade no espaço causou várias mudanças físicas notáveis no corpo de Scott Kelly. Sua massa corporal diminuiu 7% durante a missão, atribuída a uma combinação de exercícios estruturados e uma dieta rigorosamente controlada a bordo da ISS.
Em contraste, Mark, que permaneceu na Terra, apresentou um aumento de 4% em sua massa corporal. O estudo também revelou um padrão interessante no metabolismo ósseo de Scott: durante os primeiros seis meses, seu ciclo de degradação e reconstituição óssea ocorreu mais rapidamente, em parte devido ao volume maior de exercícios realizados nesse período. Além disso, uma mudança visível foi o aumento de altura de Scott em 5 centímetros, resultado do alongamento da coluna vertebral causado pela microgravidade no espaço.
Scott (à direita) e Mark (à esquerda) agora já passaram um tempo no espaço.
Adaptações Genéticas e Moleculares
O estudo revelou mudanças fascinantes no nível molecular, especialmente na estrutura do DNA e na expressão genética de Scott. Os pesquisadores focaram nos telômeros, as extremidades protetoras dos filamentos de DNA, que geralmente encurtam com o envelhecimento.
Durante o voo espacial, Scott experimentou alterações significativas na dinâmica do comprimento dos telômeros, mudanças que também foram notadas logo após seu retorno. Essas alterações mostraram uma correlação com os níveis de vitamina B-9 de Scott, evidenciando o papel crucial da nutrição na manutenção da saúde celular, tanto no espaço quanto na Terra.
Além disso, foram detectadas modificações na expressão genética de Scott, algumas das quais persistiram por mais de seis meses após sua volta. Dano ao DNA também foi observado, atribuído à exposição à radiação no espaço, mas as mudanças na expressão genética demonstraram a notável capacidade de adaptação do corpo humano a ambientes extremos.
A massa corporal de Scott diminuiu no espaço, enquanto a de seu irmão aumentou.
Efeitos Neurológicos e Sensoriais
Durante sua missão no espaço, Scott manteve um desempenho cognitivo sólido, mostrando consistência em sua atenção mental, orientação espacial e capacidade de reconhecer emoções. No entanto, após retornar à Terra, ele apresentou uma redução na velocidade e precisão em tarefas cognitivas, mudanças que persistiram por seis meses.
Esses efeitos foram possivelmente relacionados à readaptação à gravidade terrestre, à reexposição à atmosfera e à agenda intensa que enfrentou após o pouso. Um dos achados mais intrigantes envolveu alterações na visão e na estrutura dos olhos de Scott. O estudo sugeriu que os deslocamentos de fluidos no corpo devido à ausência de gravidade podem explicar por que os astronautas frequentemente enfrentam problemas de visão durante missões espaciais.
Essas mudanças oculares representam um desafio significativo para futuras missões espaciais de longa duração, já que a manutenção da visão dos astronautas é fundamental para o sucesso e a segurança das missões.
