Um experimento científico curioso acompanhou duas irmãs gêmeas idênticas ao longo de quase duas décadas. A proposta era simples, mas reveladora: apenas uma delas receberia injeções regulares de toxina botulínica, popularmente conhecida como Botox, enquanto a outra não faria o tratamento. O resultado trouxe uma comparação direta e incomum sobre os efeitos dessa substância no envelhecimento da pele.
A gêmea que passou pelas aplicações começou o tratamento aos 25 anos e recebeu entre duas e três sessões anuais de injeções na testa e entre as sobrancelhas. Algumas aplicações também foram feitas nos chamados “pés de galinha”, pequenas linhas que se formam nos cantos externos dos olhos. Já sua irmã seguiu a vida sem esse tipo de intervenção.
O médico responsável foi William Binder, que documentou o processo com registros fotográficos. As primeiras imagens foram feitas em 2006, quando ambas tinham 38 anos. Na comparação, a irmã que usava Botox apresentava a pele visivelmente mais lisa, com menos rugas na testa e menos marcas ao sorrir, enquanto a outra exibia linhas mais evidentes.

Foi assim que as gêmeas apareceram no início do estudo (American Medical Association)
Diferenças ao longo do tempo
Seis anos depois, as distinções se tornaram ainda mais marcantes. A gêmea que não fez uso do Botox apresentava um rosto mais arredondado, com mandíbula mais larga e aspecto levemente inchado. Já sua irmã mantinha feições mais suaves e menos vincos, mesmo com o passar dos anos.
As duas afirmaram utilizar protetor solar regularmente, o que reduz a influência dos raios ultravioleta no surgimento de rugas. Ambas também levavam estilos de vida saudáveis e não utilizavam retinóis para cuidados com a pele. Porém, havia uma diferença significativa: enquanto uma vivia em Munique, a outra morava em Los Angeles, cidade com índice de radiação solar mais elevado.

A gêmea da direita tomou injeções regulares de Botox (American Medical Association)
No estudo, Binder sugeriu que o uso prolongado de Botox não apenas reduz a contração dos músculos responsáveis pelas linhas de expressão, mas também pode levar a mudanças de comportamento, já que o paciente tende a evitar certos movimentos faciais que acentuam rugas. O trabalho concluiu que o tratamento regular ajuda a prevenir o aparecimento de marcas profundas, especialmente na região dos olhos, e que não foram registrados efeitos adversos após mais de uma década de aplicações constantes.
O experimento da médica em si mesma
Outro exemplo marcante veio da médica Bita Farrell, especialista com mais de 20 anos de experiência em aplicações de toxina botulínica. Para demonstrar os efeitos, ela própria decidiu aplicar a substância em apenas um lado do rosto. Farrell injetou Botox nos músculos inferiores da face, incluindo o DAO, responsável por puxar os cantos da boca para baixo, e o platisma, que influencia expressões e movimentos do pescoço.

O lado sem aplicação estava muito mais móvel do que o que havia recebido Botox duas semanas antes (Instagram/@drbitafarrell)
Duas semanas após o procedimento, ela mostrou o resultado em vídeos. O lado tratado apresentava menos mobilidade, enquanto o não tratado continuava a contrair-se de forma natural. Farrell destacou que essa diferença altera diretamente a aparência: quando os músculos que puxam a face para baixo ficam relaxados, os músculos responsáveis por levantar as bochechas ganham predominância, criando um efeito de sustentação.
Segundo a médica, isso suaviza linhas conhecidas como sulcos nasolabiais e “linhas da marionete”, além de dar a impressão de uma mandíbula mais definida e maçãs do rosto mais volumosas. Ela também apontou que o relaxamento do platisma pode contribuir para deixar o pescoço com aspecto mais firme.
Esses exemplos, tanto com as gêmeas idênticas quanto com a própria médica, mostram como um mesmo recurso pode produzir resultados notáveis quando analisado em longo prazo ou até em comparações diretas no mesmo rosto.