A Fossa das Marianas é o lugar mais profundo do oceanos, e é também uma área que intriga os cientistas há muito tempo. Localizada no Pacífico Ocidental, a leste das Ilhas Marianas, a fossa é notável por ter vários ambientes e estruturas únicas, incluindo respiradouros que borbulham enxofre líquido e dióxido de carbono, além de vulcões de lama ativos e vida marinha adaptada a pressões mil vezes maiores do que a pressão ao nível do mar.

O ‘Challenger Deep’, localizado no extremo sul da Fossa das Marianas, é de fato o ponto mais profundo do nosso oceano. Sua profundidade, no entanto, é um pouco difícil de se medir de forma exata a partir da superfície.
Mas em 2010, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA utilizou pulsos de som enviados através do oceano e cravou que o Challenger Deep possui algo em torno de 10995 metros. Uma estimativa de 2021, utilizando sensores de pressão, apontou para uma profundidade um pouco menor: 10935 metros.
E o curioso é que o segundo lugar mais profundo do oceano também está na Fossa das Marianas. O ‘Sirena Deep’, que fica a 200km a leste do Challenger, tem 10809 metros de profundidade. Apenas para colocar isso tudo em proporção, o Monte Everest (ponto mais alto do planeta) tem 8848 metros. Em outras palavras, a Fossa das Marianas tem mais profundidade do que o Monte Everest tem de altura.
A Fossa das Marianas tem mais de 2500km de comprimento, o que significa mais de cinco vezes o comprimento do Grand Canyon. E como o território de Guam pertence aos Estados Unidos, e as 15 Ilhas Marianas do Norte são governadas por uma comunidade também dos EUA, o país têm jurisdição sobre a Fossa das Marianas.
Em 2009, o ex-presidente George W. Bush estabeleceu o ‘Mariana Trench Marine National Monument’, que criou uma reserva marinha protegida de aproximadamente 506 mil km². O monumento inclui a maior parte da Fossa das Marianas, 21 vulcões submarinos e áreas ao redor de três ilhas.
Como foi formada?
O fenômeno por trás da formação da Fossa das Marianas intrigou os cientistas por muito tempo. Hoje, sabe-se que sua formação se deu por um processo que ocorre em zonas de subducção, onde colidem duas placas maciças de crosta oceânica. Em uma zona de subducção, um pedaço de crosta oceânica é empurrado e puxado por baixo do outro, afundando no manto da Terra, a camada sob a crosta.
Onde os dois pedaços se cruzam, uma trincheira profunda se forma acima da curva na crosta que está afundando. Neste caso, a crosta do Oceano Pacífico está dobrando abaixo da crosta filipina. A crosta do Pacífico tem cerca de 180 milhões de anos de idade. A placa filipina, por sua vez, é mais jovem e menor.
Curiosamente, por mais profunda que seja a trincheira, ela não é o ponto mais próximo do centro da Terra. Como o planeta se projeta no equador, o raio nos polos é cerca de 25km menor que o raio no equador. Assim, partes do fundo do Oceano Ártico estão mais próximas do centro da Terra do que o Challenger Deep.
A pressão da água no “piso” da fossa é superior a 8 toneladas por polegada quadrada. Isso é mais de mil vezes a pressão sentida ao nível do mar, ou o equivalente a ter 50 jatos jumbo empilhados em cima de uma pessoa.
Que tipo de vida marinha sobrevive na Fossa das Marianas?

Expedições científicas recentes descobriram formas de vida surpreendentemente diversificadas na Fossa das Marianas. As criaturas que vivem nas partes mais profundas da Fossa das Marianas sobrevivem em completa escuridão e extrema pressão. A alimentação por lá também é muito limitada, porque o profundo desfiladeiro está longe da terra.
O material vegetal terrestre raramente chega ao fundo da trincheira, e o plâncton morto que afunda da superfície precisa cair por milhares de metros até chegar ao fundo do Challenger Deep. Por isso, alguns micróbios dependem de produtos químicos, como metano ou enxofre, enquanto outras criaturas devoram a vida marinha que está abaixo delas na cadeia alimentar. Os três organismos mais comuns no fundo da Fossa das Marianas são xenofióforos, anfípodes e pequenos pepinos-do-mar.
Unicelulares, os xenofióforos se assemelham a amebas gigantes, que se alimentam cercando e absorvendo seus alimentos. Os anfípodes são necrófagos brilhantes, parecidos com camarões, comumente encontrados em trincheiras no fundo do mar. Como eles sobreviveram lá embaixo é algo bastante misterioso, já que as conchas de anfípodes se dissolvem facilmente nas altas pressões da Fossa das Marianas.
Mas em 2019, pesquisadores japoneses descobriram que pelo menos uma espécie habitante da Fossa das Marianas usa o alumínio extraído da água do mar para sustentar suas conchas. Durante a famosa expedição de James Cameron, em 2012, os cientistas também avistaram tapetes microbianos no Sirena Deep. Esses aglomerados de micróbios se alimentam de hidrogênio e metano liberados por reações químicas entre a água do mar e as rochas.
Um dos principais predadores da região é um peixe aparentemente vulnerável. Em 2017, os cientistas relataram que haviam coletado espécimes de uma criatura incomum, apelidado de “Caracol das Marianas”, que vive a uma profundidade de cerca de 8 mil metros. O corpo pequeno, rosado e sem escamas do peixe-caracol dificilmente parece ser capaz de sobreviver em um ambiente tão hostil, mas esse peixe é cheio de surpresas, relataram os pesquisadores em um estudo publicado naquele ano na revista ‘Zootaxa’. O animal parece dominar o ecossistema ao seu redor, indo mais fundo do que qualquer outro peixe, e explorando a ausência de competidores ao devorar as abundantes presas invertebradas que habitam a trincheira.
Quem já mergulhou no lugar mais profundo dos oceanos?
O local foi descoberto em 1875 pela HMS Challenger, usando equipamentos de navegação de última geração para a época. Em 1951, quase 100 anos depois, a trincheira foi sondada novamente pela HMS Challenger II. Mas a primeira embarcação tripulada a chegar no fundo do Challenger Deep foi o “Trieste”, em 1960, tripulado por Don Walsh, tenente da Marinha dos EUA, e Jacques Piccard, cientista suíço. O submersível atingiu uma profundidade de 10911 metros.
Em 2012, James Cameron tornou-se o piloto da segunda missão para chegar ao fundo do Challenger Deep. O cineaste pilotou sozinho o submersível Deepsea Challenger, captando imagens para a National Geographic. Ele mergulhou um pouco menos em relação ao recorde original, atingindo uma profundidade de 10908 metros. O recorde seria quebrado alguns anos depois, em 2019, pelo explorador e empresário Victor Vescovo, que pilotava o DSV Limiting Factor. Ele chegou a 10927 metros. E mais recentemente, em 2021, uma expedição espanhola coletou rochas do manto do fundo da Fossa das Marianas, contendo vários tapetes microbianos que estão sendo estudados por grupos de cientistas.