Um filme de terror com cena de sexo real foi “premiado” com um “anti-prêmio” devido à controvérsia em torno dele

por Lucas Rabello
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Um filme de terror provocativo que estreou no Festival de Cannes em 2009 continua gerando discussões anos após seu lançamento. Dirigido por Lars von Trier, “Anticristo” é estrelado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, que interpretam um casal lidando com o luto após a morte de seu jovem filho.

O conteúdo explícito e as imagens gráficas do filme ultrapassaram limites, levando a abandonos de sessões e relatos de espectadores desmaiando durante sua estreia em Cannes. O British Board of Film Classification (BBFC) classificou “Anticristo” como 18, citando “imagens fortes de sexo real, violência sangrenta, imagens gore intensas e uma cena de automutilação”.

A cinematografia de “Anticristo” é notável por sua beleza sombria. Von Trier empregou técnicas visuais inovadoras, incluindo o uso de câmera lenta e imagens altamente estilizadas, para criar uma atmosfera onírica e perturbadora. Essas escolhas estéticas contribuíram para a experiência imersiva do filme, mesmo que muitos espectadores achassem essa imersão desconfortável.

Revelações dos Bastidores

Em uma reviravolta incomum, dublês de corpo foram usados nas cenas íntimas do filme. Von Trier alegou que essa decisão foi tomada devido à anatomia de Dafoe, afirmando em uma entrevista: “Ele tem um p** enorme. Tivemos que retirar essas cenas do filme. Tivemos um dublê para ele porque tivemos que retirar as cenas com seu próprio p**.”

Os comentários do diretor adicionaram outra camada de controvérsia a uma produção já contenciosa. Embora o uso de dublês de corpo não seja incomum no cinema, a explicação franca de von Trier levantou sobrancelhas e alimentou ainda mais a discussão sobre a natureza explícita do filme.

Recepção e Reconhecimento

“Anticristo” polarizou público e críticos. Em Cannes, um Júri Ecumênico, que normalmente premia filmes que celebram valores espirituais, tomou a medida incomum de conceder ao filme um “anti-prêmio”. O presidente do júri, Radu Mihaileanu, criticou a representação das mulheres no filme, afirmando que sugeria que “as mulheres deveriam ser queimadas na fogueira para que os homens finalmente se levantem”.

Essa decisão não foi isenta de controvérsias. O diretor do festival de Cannes, Thierry Fremaux, reagiu contra o anti-prêmio, descrevendo-o como “uma decisão ridícula que beira um chamado à censura” e questionando sua adequação vinda de um júri ecumênico.

Apesar da controvérsia em torno da estreia do filme em Cannes, a atuação de Charlotte Gainsbourg em “Anticristo” foi reconhecida com o prêmio de Melhor Atriz. Esse reconhecimento destacou a recepção complexa do filme, que conseguiu angariar tanto críticas intensas quanto elogios profissionais.

Além das controvérsias iniciais, “Anticristo” deixou uma marca duradoura na história do cinema. O filme é frequentemente citado em discussões sobre os limites da representação gráfica na arte cinematográfica. Sua abordagem visceral do luto e da depressão, embora polarizante, abriu caminho para conversas mais amplas sobre saúde mental na mídia.

Apesar – ou talvez devido – à sua natureza controversa, “Anticristo” influenciou uma geração de cineastas de terror art-house. O filme desafiou convenções narrativas e visuais, inspirando outros diretores a explorar temas tabu e técnicas cinematográficas não convencionais. Sua influência pode ser vista em obras subsequentes que fundem horror psicológico com comentário social e artístico.

“Anticristo” continua a ser um tópico de discussão nos círculos cinematográficos, servindo como exemplo de como a arte provocativa pode desafiar o público e gerar debates sobre expressão artística, censura e os limites do conteúdo aceitável no cinema.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.