Fatos perturbadores sobre gêmeas que fizeram um pacto para que uma morresse e a outra pudesse viver uma vida normal

por Lucas Rabello
738 visualizações

Na década de 1960, duas irmãs gêmeas chamadas June e Jennifer Gibbons desafiaram todas as expectativas ao criar um mundo próprio, fechado até para a própria família. Nascidas no País de Gales, filhas de pais originários de Barbados, as duas cresceram em um ambiente onde se sentiam constantemente incompreendidas. Desde a infância, desenvolveram um distúrbio de fala que as levou a uma decisão radical: comunicar-se apenas entre si, usando uma versão acelerada do crioulo bajan, língua falada em Barbados. Para os outros, elas permaneciam em silêncio absoluto.

A conexão entre as irmãs era tão intensa que se tornaram conhecidas como “as gêmeas silenciosas”. Enquanto o resto da família tentava, sem sucesso, quebrar a barreira linguística, June e Jennifer mergulharam em um universo paralelo. Escreviam histórias, encenavam peças e criaram personagens fictícios, tudo em total isolamento. Mas essa cumplicidade, que as protegia do mundo exterior, também as levou a um caminho sombrio.

June e Jennifer Gibbons na escola primária. (Foto da família)

June e Jennifer Gibbons na escola primária. (Foto da família)

Na adolescência, o comportamento das gêmeas começou a chamar a atenção por motivos preocupantes. Entre os 14 e os 19 anos, elas cometeram uma série de crimes: roubos, vandalismo e até incêndio criminoso. Os atos culminaram em uma sentença judicial que as enviou para o Broadmoor Hospital, uma unidade psiquiátrica de segurança máxima na Inglaterra. Lá, permaneceram por 11 anos, sem abandonar o hábito de só se comunicar uma com a outra.

Foi durante esse período que um pacto macabro teria sido firmado. De acordo com os diários das irmãs — cada uma escrevia cerca de 3 mil palavras por dia —, elas acreditavam que uma precisaria morrer para que a outra pudesse viver livre. Em 1993, durante a transferência para uma clínica menos restritiva, Jennifer, então com 29 anos, teve uma morte súbita. A causa foi uma inflamação no coração. O mais intrigante: após o falecimento da irmã, June rompeu o silêncio de quase três décadas e começou a falar normalmente.

A história ganhou visibilidade graças a Marjorie Wallace, uma jornalista investigativa que conheceu as gêmeas aos 18 anos e dedicou parte da vida a documentar seus segredos. Em 1986, cinco anos após o início da internação, Marjorie publicou o livro The Silent Twins, que revelava detalhes íntimos da relação das irmãs. Em 2022, a obra virou o filme The Silent Twins, um drama estrelado por Letitia Wright.

Marjorie contou em entrevistas que, ao ler os diários, descobriu a complexidade do vínculo entre June e Jennifer: uma mistura de amor, dependência e rivalidade. “Elas decidiram que Jennifer seria a sacrificada para que June encontrasse liberdade”, explicou a jornalista à BBC Radio Wales. A morte da irmã deixou June em um estado de “luto e alívio”, segundo Marjorie, que mantém contato com ela até hoje.

Passados 32 anos da tragédia, June vive uma vida discreta, longe dos holofotes. Marjorie descreve-a como uma pessoa resiliente, com um senso de humor contagiante. Apesar das décadas de isolamento, June encontrou uma forma de se reconectar ao mundo — um destino que, de acordo com o pacto das gêmeas, só foi possível após o fim da relação simbiótica que as definiu por quase três décadas.

O legado de June e Jennifer continua a fascinar o público, não apenas pelo mistério em torno do pacto, mas pela reflexão sobre os limites da identidade e da conexão humana. A adaptação para o cinema trouxe nova atenção à história, garantindo que a saga das “gêmeas silenciosas” permaneça viva na cultura popular.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

Você não pode copiar conteúdo desta página