Família forçou filho de nove meses a crescer com chimpanzé em experimento ‘perturbador’ que teve um final trágico

por Lucas Rabello
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Na década de 1930, um experimento controverso e profundamente perturbador foi realizado, desafiando os limites entre o comportamento humano e animal. Os psicólogos especializados em comportamento animal Winthrop Niles Kellogg e sua esposa, Luella, decidiram criar seu filho de 10 meses, Donald, ao lado de uma chimpanzé chamada Gua, que tinha sete meses e meio de idade quando foi integrada à família.

O objetivo era explorar se o ambiente ou a genética desempenhava um papel maior na formação do comportamento. O experimento, que desde então foi descrito como “perturbador”, buscava responder a uma pergunta profunda: uma chimpanzé criada em um ambiente humano poderia desenvolver traços semelhantes aos dos humanos, ou seus instintos animais inatos prevaleceriam?

Gua e Donald foram criados como irmãos (YouTube/AV Geeks).

Gua e Donald foram criados como irmãos (YouTube/AV Geeks).

Por nove meses, Donald e Gua foram tratados como irmãos. Eles usavam roupas de bebê idênticas, comiam juntos em cadeirões e eram colocados para dormir com um beijo de boa noite. Os Kelloggs realizavam testes diários com a dupla, às vezes por horas a fio. Um dos testes mais angustiantes envolvia girar Donald e Gua em cadeiras até que começassem a chorar. O casal documentava meticulosamente suas observações, na esperança de descobrir insights sobre a natureza do desenvolvimento e do comportamento.

Winthrop Kellogg descreveu o propósito do experimento em seu livro The Ape and the Child: “Qual seria a natureza do indivíduo resultante que tivesse amadurecido… sem roupas, sem linguagem humana e sem associação com outros de sua espécie?” O experimento foi planejado para durar cinco anos, mas foi interrompido precocemente devido a desenvolvimentos alarmantes.

Donald começou a exibir comportamentos que preocuparam seus pais. Ele passou a grunhir para pedir comida, a lutar com Gua e até a morder — ações que pareciam mais características de um chimpanzé do que de uma criança humana. Alguns relatos sugerem que os Kelloggs também temiam que Gua, à medida que crescia e ficava mais forte, pudesse machucar Donald sem querer.

O fim abrupto do experimento teve consequências devastadoras para Donald e Gua. Gua, que havia sido criada em um ambiente familiar amoroso, foi enviada de volta a uma instalação de pesquisa. Ela foi colocada em uma “gaiola relativamente estéril” com outros chimpanzés, um contraste gritante com o lar afetuoso que ela conhecera. Segundo Theodore Dumas, que escreveu sobre o experimento, Gua morreu menos de um ano depois, pouco antes de completar três anos de idade. Embora a causa oficial da morte tenha sido pneumonia, muitos acreditam que ela sucumbiu ao trauma emocional de ser separada de sua família humana — um fenômeno frequentemente chamado de “coração partido”.

O experimento foi cancelado após nove meses (YouTube/AV Geeks).

O experimento foi cancelado após nove meses (YouTube/AV Geeks).

O destino de Donald também foi trágico. Após o experimento, ele retornou a uma criação mais convencional, mas os efeitos de longo prazo de suas experiências iniciais permanecem incertos. Em 1973, aos 43 anos, Donald tirou a própria vida, apenas um ano após a morte de seus pais. Embora seja impossível ligar definitivamente sua infância às suas lutas posteriores, o experimento sem dúvida deixou marcas profundas em sua vida.

O experimento dos Kelloggs permanece como um alerta sobre os limites éticos da investigação científica. Embora buscasse responder a perguntas importantes sobre natureza versus criação, o custo emocional e psicológico para Donald e Gua destaca os riscos profundos de tais empreendimentos. Hoje, a história serve como um lembrete da importância da compaixão e das considerações éticas na pesquisa, especialmente quando envolve seres vulneráveis — sejam humanos ou animais.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.