Há mais de vinte anos, o padre Carlos Martins dedica sua vida a um ministério incomum: o combate ao que ele descreve como forças demoníacas. Reconhecido como especialista em exorcismos, demonologia e guerra espiritual, o religioso acumula histórias que desafiam a lógica e alimentam debates sobre a fronteira entre o sobrenatural e a mente humana. Seus relatos, documentados em livros e entrevistas, incluem episódios violentos, fenômenos inexplicáveis e encontros que, segundo ele, confirmam a existência do maligno.
O Exorcismo que Desafiou as Leis da Física
Um dos casos mais marcantes na carreira de Martins ocorreu durante um ritual de libertação. Uma mulher supostamente possuída, descrita como fisicamente comum, teria demonstrado uma força sobre-humana. De acordo com o padre, ela agarrou um dos assistentes encarregados de contê-la — um homem de 1,83 metro e aproximadamente 136 quilos — e o arremessou pelo ar “como se fosse um boneco de pano”. O detalhe surpreendente, segundo Martins, não foi apenas a violência, mas a impossibilidade física do ato: a vítima tinha um porte que tornaria tal ação improvável até para um lutador profissional.
O episódio ganhou contornos ainda mais bizarros momentos depois. A mulher teria apontado para um interruptor de luz a cerca de 3,6 metros de distância. Uma das parafusas que fixavam a tampa do interruptor se soltou sozinha, voou em direção à sua mão e foi usada por ela para ferir o próprio braço. Para Martins, esse fenômeno — um objeto movendo-se contra as leis da física — foi uma evidência clara de influência maligna. A sessão terminou com o padre sendo golpeado no rosto com tal força que ele precisou de duas cirurgias para reconstruir parte do crânio.
O padre Carlos Martins trabalha com exorcismos há 20 anos.
Jeremy, o Bombeiro, e o Pacto na Infância
Outro caso que marcou a trajetória do exorcista envolveu um bombeiro identificado apenas como Jeremy. Na casa dos 30 anos, ele procurou Martins após sofrer desmaios frequentes e aparecer com ferimentos inexplicáveis. Durante as conversas iniciais, o padre descobriu que, aos oito anos, Jeremy havia brincado com um tabuleiro Ouija — jogo associado ao ocultismo —, o que teria desencadeado uma série de eventos perturbadores.
Jeremy relatou que, após a brincadeira, uma figura escura passou a visitá-lo durante a noite. A entidade, segundo ele, tinha um corpo humano e uma cabeça felina, além de uma escuridão tão densa que “contrastava com o ambiente, como se tudo ao redor estivesse sob a luz do dia”. A criatura teria oferecido realizar seu sonho de ser bombeiro em troca de sua alma. Anos mais tarde, já adulto e realizando a profissão, os episódios de perda de consciência e marcas no corpo o levaram a buscar ajuda espiritual.
Durante um teste para verificar a possessão, Martins entregou a Jeremy um livro com uma gota de água benta na capa. Ao tocar o objeto, o bombeiro teria se contorcido, arqueado as costas e gritado palavrões em tom ameaçador: “Ele é meu! Você nunca o terá!”. O padre então ordenou, em nome de Jesus, que o demônio liberasse Jeremy. Após uma série de comandos e orações, o bombeiro recuperou a consciência e, segundo Martins, nunca mais apresentou sintomas.
Martins afirmou que “libertou” pessoas de todo o mundo com seu trabalho
Os Limites entre a Ciência e a Fé
Apesar da convicção do padre, casos como esses geram debates acalorados. Céticos argumentam que muitos fenômenos atribuídos a possessões podem ser explicados por condições psiquiátricas, como esquizofrenia ou transtorno dissociativo de identidade. A força extraordinária, por exemplo, já foi documentada em situações de crise de adrenalina extrema. Já os objetos em movimento poderiam ser resultado de ilusões de ótica ou truques não percebidos.
Martins, no entanto, insiste que certos detalhes vão além do racional. Em entrevistas, ele destaca que os rituais de exorcismo seguem protocolos rigorosos da Igreja Católica, incluindo avaliações médicas e psicológicas para descartar causas naturais. Seu livro, “The Exorcist Files: True stories about the reality of evil and how to destroy it“, ou “Os Arquivos do Exorcista: Histórias Reais sobre a Realidade do Mal e Como Destruí-lo”, em tradução livrem reúne relatos detalhados desses casos, além de orientações sobre proteção espiritual.
Embora dedicado ao trabalho, o padre admite que preferiria nunca ter enfrentado o que chama de “manifestações do mal”. Em suas palavras, ajudar as vítimas é uma missão gratificante, mas o contato direto com o que ele enxerga como entidades malignas é algo que carrega um peso emocional intenso. Seu legado, entretanto, permanece como um dos capítulos mais controversos e fascinantes da história recente da Igreja — um convite à reflexão sobre os mistérios que ainda desafiam a compreensão humana.
