Um estudo recente revelou que um exame breve e não invasivo do olho humano poderia servir como uma ferramenta crucial na identificação de indivíduos que estão envelhecendo de forma acelerada, enfrentando assim um risco maior de mortalidade precoce. Essa abordagem inovadora se concentra na análise da retina, uma camada essencial de tecido localizada na parte de trás do olho, para avaliar a idade biológica de uma pessoa, que pode diferir significativamente de sua idade cronológica.
No âmbito da investigação científica, a correlação entre o envelhecimento e seus diversos impactos na fisiologia humana tem sido há muito tempo um assunto de interesse. Tradicionalmente, a idade tem sido medida em anos, mas essa métrica não consegue capturar os processos biológicos complexos que se desenrolam em ritmos diferentes em diferentes indivíduos. A retina, com sua rede intrincada de vasos sanguíneos e células nervosas, apresenta uma janela única para o processo de envelhecimento do corpo, oferecendo percepções que vão além dos marcadores superficiais de envelhecimento.
Em 2022, uma equipe de pesquisadores introduziu um modelo de aprendizado de máquina treinado para estimar o tempo de vida de um indivíduo analisando imagens de sua retina. Esse modelo demonstrou uma precisão notável, capaz de prever as idades de aproximadamente 47.000 adultos de meia-idade e mais velhos no Reino Unido com uma margem de erro de apenas 3,5 anos. Os achados do estudo, publicados no British Journal of Ophthalmology, destacaram o potencial do exame da retina na previsão de desfechos de saúde.
O estudo observou que os participantes cujas retinas pareciam mais velhas do que sua idade real tinham mais chances de experimentar taxas de mortalidade mais altas na década seguinte. Especificamente, para cada ano que o algoritmo estimava que a retina de uma pessoa era mais velha do que sua idade cronológica, o risco de morte por qualquer causa nos próximos 11 anos aumentava em 2%. Além disso, o risco de morte por causas não cardiovasculares e não cancerígenas aumentava em 3%.
Embora as observações deste estudo sejam convincentes, os mecanismos biológicos subjacentes que ligam o envelhecimento da retina à saúde geral e à longevidade permanecem pouco claros. A pesquisa sublinha a sensibilidade da retina aos danos relacionados ao envelhecimento e sugere seu potencial como um biomarcador para avaliar o status de saúde geral de um indivíduo, particularmente em relação à saúde vascular e neurológica.
Historicamente, vários estudos apontaram a retina como um preditor de doenças como males cardiovasculares e renais. No entanto, esta pesquisa recente se destaca ao estabelecer o “gap de idade retinal” como um indicador significativo do risco de mortalidade geral. Apesar desses avanços, os autores do estudo reconhecem limitações, como a incapacidade de associar diretamente a saúde retinal com demência devido ao pequeno número de mortes relacionadas à demência dentro do coorte do estudo.
Além disso, o declínio nas fatalidades relacionadas a doenças cardiovasculares, atribuído a avanços no tratamento e prevenção médica, sugere que, embora a saúde retinal possa não estar diretamente ligada à mortalidade cardiovascular, permanece um fator importante na avaliação da saúde cardiovascular.
Exames de retina, que podem ser realizados de forma rápida e sem desconforto, oferecem uma alternativa promissora a outros métodos de avaliação da idade biológica, que podem ser caros, invasivos e demorados. A acessibilidade e eficiência dos exames retinianos poderiam revolucionar a maneira como os clínicos avaliam e monitoram o processo de envelhecimento, fornecendo uma ferramenta valiosa na detecção precoce de riscos à saúde relacionados à idade.