Em uma entrevista reveladora para a série Informer da VICE, um ex-moderador de conteúdo do Facebook compartilhou sua experiência ao trabalhar em uma das funções mais psicologicamente exigentes da indústria tecnológica. O relato lança luz sobre os desafios de saúde mental enfrentados por profissionais responsáveis por filtrar o conteúdo das redes sociais.
O moderador, que preferiu permanecer anônimo, descreveu sua rotina diária de revisar inúmeras postagens e tomar decisões cruciais sobre o que poderia ou não permanecer visível na plataforma. O que torna esse trabalho particularmente desafiador é a exposição constante a materiais perturbadores, que vão desde discursos de ódio até cenas explícitas de violência e conteúdo gráfico.
“O Facebook tem esses dados, mas como funcionário você não tem direito de saber a que tipo de material prejudicial foi exposto. Eu diria que entre 5% e 10% do que você vê diariamente é potencialmente traumático,” explicou o ex-moderador durante a entrevista.
Embora o Facebook tenha alertado os funcionários inicialmente sobre a possibilidade de lidar com conteúdos “perturbadores”, o volume e a gravidade desse material nunca foram devidamente comunicados. O impacto real de visualizar esse tipo de conteúdo só ficou claro para o moderador depois que ele deixou a empresa. Ele foi posteriormente diagnosticado com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
A natureza do conteúdo com o qual ele lidava era diversa e profundamente perturbadora. “Você vê corpos de pessoas mortas, assassinatos ou pessoas comemorando por terem matado alguém. Cães sendo assados vivos. Você vê essas imagens. Demorei muito para entender o quanto isso me afetou,” compartilhou o ex-funcionário.
Talvez o aspecto mais marcante de sua história seja a transformação pessoal em relação à consciência sobre saúde mental. Antes de sua experiência como moderador de conteúdo, ele admitiu ser cético sobre a existência do TEPT: “Eu nunca acreditei em TEPT. Achava que era só gente sendo fraca.” Essa perspectiva mudou drasticamente quando ele começou a enfrentar reações emocionais intensas, que exigiram intervenção profissional através de terapia.
A entrevista gerou uma resposta significativa do público, com muitos expressando preocupação com o bem-estar dos moderadores de conteúdo. Um espectador comentou: “Eu nem consigo imaginar ser uma pessoa que vê os lados mais sombrios da humanidade todos os dias!!! Meu respeito a esses moderadores por manterem a sanidade.”
O ex-moderador entrou com uma ação judicial contra o Facebook, destacando a necessidade de melhores sistemas de apoio e maior transparência em relação à exposição a conteúdos prejudiciais nesses cargos. Outro espectador comentou: “Moderadores de conteúdo fazem o trabalho que ninguém quer, mas que o mundo precisa. Muito respeito a todos esses profissionais.”
Esse relato oferece uma visão clara sobre o impacto psicológico de moderar conteúdos, uma função essencial, mas frequentemente negligenciada, para manter as plataformas de redes sociais. A experiência do moderador ressalta a importância de oferecer apoio à saúde mental e preparação adequada para os profissionais dessa área.