No último dia 22 de abril, o astrologo e influenciador digital John Moe The, de 21 anos, foi detido em sua casa na cidade de Monywa, em Mianmar, após causar alvoroço nas redes sociais. Com mais de 300 mil seguidores no TikTok, ele havia afirmado que um terremoto “extremamente forte” atingiria o país em 12 dias, gerando medo generalizado na população. O alerta, porém, não só falhou em se concretizar como também levou o jovem a ser acusado de espalhar notícias falsas pelo governo militar local.
O caso ocorre em um momento sensível para Mianmar. Menos de um mês antes, em 28 de março, um terremoto de 7,7 graus de magnitude sacudiu o centro do país, seguido por um segundo tremor de 6,4 graus apenas 12 minutos depois. Segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) e do Centro de Geociências da Alemanha (GFZ), o epicentro do primeiro abalo estava a cerca de 10 quilômetros de profundidade. O desastre deixou mais de 3 mil mortos, de acordo com a BBC, e foi sentido até mesmo na Tailândia, onde departamentos de prevenção de desastres registraram vibrações em quase todas as regiões.
Foi nesse clima de tensão que John Moe The publicou um vídeo em 9 de abril, orientando seus seguidores a “não permanecerem em prédios altos durante o dia” e a “fugir de edifícios carregando objetos importantes” quando o suposto novo terremoto ocorresse. O influenciador chegou a afirmar que o tremor atingiria “todas as cidades de Mianmar”, recomendando até mesmo que as pessoas se mudassem temporariamente para áreas rurais. A mensagem viralizou rapidamente, e relatos locais indicam que muitas famílias acamparam em espaços abertos ou alugaram casas fora da capital Yangon para se proteger.
A reação das autoridades foi imediata. Após uma denúncia anônima, agentes invadiram a residência do jovem e o prenderam sob a acusação de disseminar informações falsas. Em comunicado divulgado dois dias depois, o governo militar afirmou que “ações eficazes serão tomadas contra ele, assim como contra quem produzir, compartilhar ou espalhar fake news”.

Estrela do TikTok é presa após prever novo terremoto em Mianmar
Apesar do pânico gerado pelas previsões de John Moe The, a comunidade científica é categórica: é impossível prever terremotos com precisão. O USGS, referência global em estudos sísmicos, reforça que nenhum pesquisador ou instituição no mundo consegue antecipar a ocorrência de grandes abalos. “Não sabemos como fazer isso, e não esperamos descobrir num futuro próximo”, declarou a agência em seu site oficial.
Especialistas explicam que, embora seja possível identificar áreas de risco e monitorar atividades tectônicas, a tecnologia atual não permite determinar a data, a hora ou a intensidade exata de um terremoto. Por isso, alertas como o do influenciador são considerados pseudociência – especialmente quando vinculados a métodos como a astrologia, como era o caso de John Moe The.
O episódio revela um desafio crescente em regiões com acesso limitado à educação científica. Nan Nan, moradora de Yangon, contou à agência AFP que a maioria de seus vizinhos acreditou no vídeo do TikTok. “Muitos não ousaram ficar em seus apartamentos e passaram a noite nas ruas na data prevista”, disse. O medo, embora compreensível diante do trauma recente, mostra como a desinformação pode se espalhar rapidamente em contextos de vulnerabilidade.
Enquanto John Moe The aguarda julgamento, o caso segue gerando debates sobre o papel das redes sociais em situações de crise – e os limites entre a liberdade de expressão e a responsabilidade de comunicar.