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A chocante história do homem que sobreviveu a uma barra de ferro no cérebro

Poucos casos chocaram tanto a comunidade neurocientífica e a medicina como um todo quanto o de Phineas Gage, um operário estadunidense que, em 1848, teve o crânio perfurado por uma barra de metal, mas sobreviveu para contar a história.

O acidente ocorreu após a aplicação de dinamites em um rochedo, por onde passaria uma estrada. Uma falha no procedimento acabou gerando uma faísca no rochedo, o que por sua vez proporcionou uma explosão inesperada, sem que fosse dado o tempo necessário para que Phineas deixasse o local e assumisse uma posição segura. Com o impacto, uma barra de ferro de aproximadamente um metro atravessou o rosto do operário, passando por sua bochecha esquerda, destruindo seu olho e saindo pela parte direita do seu crânio.

De forma bizarra e simplesmente impressionante até os dias de hoje, o homem conseguiu sobreviver ao acidente, e sequer perdeu a consciência durante o evento traumático. Ele fora imediatamente levado a um médico local, que tratou de socorrê-lo com rapidez. Phineas não conseguiu escapar de contrair algumas infecções, mas fora isso recuperou-se muito bem, apesar de ter perdido muito sangue. Em pouco tempo, ele estava fisicamente estável e pronto para retomar sua vida.

Mudança de personalidade.

O que chamou a atenção de todos para o caso de Phineas Gage, no entanto, não foi apenas o fato de ele ter sobrevivido inacreditavelmente ao acidente, mas principalmente o que aconteceu depois. De acordo com os relatos médicos da época, o operário sofreu mudanças consideráveis em seu comportamento, assumindo uma personalidade totalmente diferente daquela que tinha antes da perfuração em seu crânio.

Anteriormente um homem que pensava com carinho nos demais, Gage supostamente tornou-se um homem grosseiro, arrogante, que não se preocupava em medir as consequências de seus atos e não pensava no mal que causava aos outros. O próprio médico que lidou com o caso, J. M. Harlow, descreveu as mudanças:

“Ele está instável, irreverente, utiliza palavrões grosseiros (o que não era de seu costume) e manifesta pouca deferência por seus companheiros. […]. Sua mente foi radicalmente mudada, de tal forma que seus amigos passaram a dizer que não se tratava mais de Gage”.

Sua mudança comportamental acabou rendendo-lhe a demissão de seu emprego, e depois disso Gage tentou a vida em outros países, chegou a se apresentar em circos e no final de sua vida voltou aos Estados Unidos. O homem faleceu em 1961, 13 anos depois do acidente, aos 37 anos de idade.

O caso de Phineas Gage serviu como um primeiro indício de que lesões nos lóbulos frontais do cérebro humano podem ocasionar alterações na personalidade, na sensação de emoções e na interação social. Alguns anos após a morte do rapaz, Harlow recebeu autorização para realizar estudos em seu cérebro, e desde então várias pesquisas vem sendo realizadas com o intuito de analisar como essas lesões podem ter afetado o funcionamento do seu sistema nervoso. Até hoje, seu caso é bastante lembrado por muitos pesquisadores, que já conseguiram traçar por exemplos algumas modificações nas conexões após a lesão, que podem explicar em partes a diferença de comportamento no rapaz. No entanto, ainda é um mistério por que exatamente a sua personalidade foi tão afetada pelo acidente.