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Esta floresta ficou “presa no tempo” por mais de 100 mil anos

Leonardo Ambrosio

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Contrariando a ciência, uma floresta de mangue localizada bem no meio da Península de Yucatan chamou a atenção de um grupo de pesquisadores recentemente. A presença desta floresta a 170km de distância da costa mais próxima fez com que pesquisadores da Universidade da Califórnia estudassem a sua formação. Isso porque normalmente as florestas de mangue crescem nas proximidades de praias e regiões litorâneas.

Agora, uma combinação de pesquisas genéticas, geológicas e botânicas confirmou que este local já foi um antigo ecossistema de mangue de água salgada, que ficou “encalhado” durante a última era do gelo, quando os oceanos recuaram. É isso que defende o biólogo Felipe Zapata, na Universidade da Califórnia.

“Essa descoberta é extraordinária. Este mangue-vermelho não apenas possui suas origens impressas no seu DNA, como todo o ecossistema costeiro do último período inter-glacial se refugiou aqui”, disse o pesquisador.

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Octavio Aburto – Reprodução

Como lembra o portal ‘ScienceAlert‘, o mangue-vermelho normalmente cresce em águas salgadas dos trópicos, mas, em algumas ocasiões mais raras, são vistos também em água doce. Quando os depósitos de cálcio são ricos o suficiente, este mangue pode crescer sem nenhuma necessidade de buscar seus nutrientes no mar.

Analisando os genomas de 79 árvores, em 11 locais ao redor de Yucatan, os pesquisadores descobriram que estes mangues-vermelhos “encalhados” eram diferentes daqueles localizados no litoral. As árvores de água doce possuem mais semelhanças com um mangue localizado em uma lagoa nas proximidades do Golfo do México, o que sugere que estes dois manguezais podem ser correlatos, e dividir um mesmo ancestral.

“A análise genética populacional confirma que os manguezais do Rio San Pedro são remanescentes de um ecossistema costeiro que colonizou os lagos deste rio, provavelmente durante a última era inter-glacial. Eles ficaram para trás ao longo das margens do rio depois que os oceanos recuaram, durante a glaciação de Wisconsin”, escreveram os autores.

Executando modelos a partir de dados do nível do mar no sul do Golfo do México, os pesquisadores identificaram uma planície costeira que poderia facilmente se transformar em uma espécie de “banheira” caso o nível do mar subisse um pouco. Antes da última glaciação, todas as calotas polares derreteram, e o nível do mar estava cerca de 6 a 9 metros mais alto do que atualmente. Segundo os modelos feitos pelos cientistas, isso seria o suficiente para inundar as terras baixas de Tabasco, no México, e submergir as florestas tropicais que fazem fronteira com o rio San Pedro.

Isso significa que, ao longo de algumas gerações, os mangues-vermelhos foram capazes de se estabelecer ao redor das costas. Outras espécies menores de vegetação também colonizaram estes novos ambientes com bastante rapidez. Este ecossistema peculiar é como uma “viagem no tempo” para o último evento de aquecimento da Terra, e pode nos dar informações importantes sobre o futuro do nosso planeta.

De acordo com alguns estudos recentes, o nível do mar pode subir até cinco metros em comparação aos níveis atuais até o ano de 2300. Ainda não se sabe como os ecossistemas vão lidar com essa mudança, mas talvez os habitats naturais resilientes, como é o caso do mangue-vermelho, possam nos dar algumas ideias sobre o futuro.

“A parte mais surpreendente deste estudo é que fomos capazes de examinar um ecossistema de mangue que ficou preso no tempo por mais de 100 mil anos”, disse Octavio Aburto-Oropeza, ecologista marinho da Universidade da Califórnia.

Os autores do estudo, por fim, dizem que é importantíssimo proteger e conservar estes antigos ecossistemas para que possamos compreender melhor o nosso passado, o presente e o futuro.


Com informações do ScienceAlert. O estudo mencionado foi publicado no PNAS.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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