O lago Roopkund, no Himalaia indiano, tem várias centenas de corpos espalhados e dentro dele, ganhando o apelido de “Lago dos Esqueletos”. Agora, uma análise das idades e genomas dos ossos revela algo muito estranho e difícil de explicar: as vítimas estão separadas por 1.000 anos e têm origens muito diferentes.
Localizado a 5.000 metros acima do nível do mar, Roopkund é maior do que qualquer montanha na Europa Ocidental ou nos Estados Unidos, por isso chegar lá não é nada fácil. Também tem apenas 40 metros de diâmetro. No entanto, algo deve ter valido a pena o esforço, porque quando uma equipe de muitas universidades testou o DNA genômico de 38 dos esqueletos de Roopkund, eles encontraram três etnias bem distintas.
Como esperado, a maioria era indígena, mas o DNA de outros 14 revela uma herança do Mediterrâneo Oriental, provavelmente das ilhas gregas. A ascendência de um único indivíduo foi traçada até o sudeste da Ásia, quase que na direção oposta.



Além disso, em vez de uma única tempestade matando todos, a datação por radiocarbono indica que os habitantes morreram entre um espaço de mais de mil anos. Mais estranhamente ainda, o grupo mais antigo parece ter vindo de muitas partes da Índia, com pelo menos dois séculos entre os mais velhos e mais jovens daquela população.
“Através do uso de análises biomoleculares, como DNA antigo, reconstrução da dieta isotópica estável e datação por radiocarbono, descobrimos que a história do lago Roopkund é mais complexa do que jamais imaginamos”, disse o professor David Reich, da Harvard Medical School, em um comunicado. “E levanta a questão impressionante de como migrantes do leste do Mediterrâneo, que têm um perfil de ancestralidade que é extremamente atípico da região atual, morreram neste local há apenas algumas centenas de anos”.
As descobertas foram publicadas na Nature Communications, marcando o primeiro relatório da bem-sucedida coleção e análise do DNA antigo do genoma completo dos ossos de Roopkund. O DNA raramente sobrevive bem em climas quentes e o lago de alta altitude é um dos poucos lugares suficientemente frio para preservá-lo.
As descobertas são tão improváveis que Reich e co-autores as verificaram várias vezes testando os isótopos dos ossos, confirmando grandes variações em suas dietas e prováveis lugares de origem.
Uma parte das lendas locais parece ser verdade: alguns dos crânios encontrados no local mostram danos consistentes em ser atingidos por grandes pedras, e quase metade eram mulheres. No entanto, nenhuma das amostras estavam relacionadas entre si. Os autores acham que eram peregrinos caminhando para um templo próximo, mas não conseguem explicar a população mais recente, ou se tampouco há de fato algum templo por ali.
Enquanto isso, o mistério continua. O que essas pessoas faziam nessa região remota do Himalaia?