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Essa é a razão pela qual ninguém quer essa parte da África

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O mundo está repleto de países: para se ter ideia, existem 195 países no planeta e muitos deles são super requisitados e valiosos. Alguns desses países são o destino dos sonhos de muitas pessoas ou mesmo um ponto crucial para a economia de determinadas nações.

Inclusive, pela presença de ouro, petróleo ou algum outro tipo de valor agregado, muitas nações quiseram se apropriar de algumas determinadas áreas, o que ficou profundamente marcado na história como o período das grandes colonizações.

Por outro lado, existem áreas tão desafortunadas que nenhuma nação deseja reivindicar para si.

Você conseguiria imaginar que, dentro de nosso próprio planeta, existem áreas tão inabitadas quanto a superfície da Lua?

Pois é: no mundo existem muitas áreas completamente isoladas da humanidade. Algumas delas estão até mesmo estão sem dono! E, muitas dessas áreas que não pertencem a nenhuma nação estão localizadas na Antártica. São locais sem nenhuma lei, que você pode visitar a qualquer momento – se conseguir fazer isso, é claro, já que estão muito, mas muito fora do alcance dos seres humanos e possuem condições simplesmente inóspitas.

Se pensamos na Antártica, os motivos para nenhuma nação querer reivindicá-las parece muito óbvio, afinal, aparentemente lá só tem gelo, certo?

No entanto, quando pensamos na África, a história já muda: o continente africano já foi alvo de muita exploração no passado e de retirada de riquezas naturais. Além de, é claro, ter sido o berço da humanidade há milhões de anos. Com tamanho potencial, você conseguiria imaginar o porquê de algum lugar neste continente pudesse permanecer sem dono?

Estamos falando de Bir Tawil, um território localizado na fronteira entre o Egito e o Sudão – uma área de 2060 km², aproximadamente do tamanho de Luxemburgo, na Europa, que nenhum dos dois países quis reivindicar – e não somente essas duas nações, mas ninguém, nenhuma pessoa no mundo, a quis.

Por conta de não haver seres humanos por aqui, Bir Tawil não possui estradas, rodovias, prédios e nenhum sinal de vida. É uma área no meio do deserto do Saara, e a única coisa que você poderá encontrar aqui é um amontoado de pedras e areia.

Bir Tawil é um território sem leis e isso significa que qualquer um pode ir para lá e criar seu próprio país. Aliás, já teve quem tentou fazer isso!

No ano de 2014 um estadunidense de Virginia clamou a terra para si, com uma bandeira feita por seus filhos. Alguns meses depois, dois rapazes russos colocaram uma bandeira no local e reivindicaram o local, chamando de Reino da Terra Média.

Em 2017 outro rapaz indiano reivindicou a terra, chamando-a de Reino de Dixit. Eles debateram na internet entre si, com a proposta de criarem um reino, o que fez surgir muitas outras pessoas reivindicando a terra também.

Apesar de ser uma brincadeira espirituosa, que acaba envolvendo muitos participantes, na vida real sabemos que é totalmente difícil não só chegar como também permanecer em Bir Tawil que é, literalmente, no meio do deserto do Saara.

Além das condições climáticas altamente desafiadoras, para ser considerado um país, o local precisa ter uma população mínima, rodovias ou aeroportos e algum tipo de suprimento que mantenha a população vivendo ali.

Bem, mas se já viajamos para o espaço e tentamos colonizar territórios fora da Terra, isso não parece ser algo impossível não é mesmo?

Agora, uma pergunta que não quer calar: como é que essa pequena área ficou literalmente sem dono, já que poderia ter integrado ou o Egito ou o Sudão?

A resposta está na história: no século 19 o Egito fazia parte do Império Otomano, porém o Egito tinha sua própria autonomia. Tanto é que, mesmo sem aprovação dos otomanos, acabaram invadindo e conquistando o Sudão.

Os sudaneses, não concordando com a invasão, iniciaram uma rebelião em 1870. Neste contexto, o Canal de Suez, uma via navegável artificial a nível do mar localizada no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho, já havia sido construída. E, sendo assim, o Império Britânico se animou com o fato de que o canal facilitaria o transporte entre o Império e suas terras na Índia. Com as revoltas que permaneciam acontecendo e com o medo de perder o acesso pelo Canal de Suez, os britânicos decidiram invadir o Egito e tomar uma porção de terra para si.

Tanto o Egito como o Sudão passaram a ser governados pelo Império Britânico que acabou por decidir criar uma fronteira política entre os países. A fronteira seguia em linha reta, porém, algumas áreas pareciam se assimilar culturalmente mais com o Egito, enquanto outras, com o Sudão.

Em 1902 a fronteira foi revisada e passou a adquirir uma forma de “zig zag”, devolvendo a área de Bir Tawil para os Egípcios e a área de Triângulo de Hala’ib para os sudaneses.

Quando as forças britânicas deixaram ambos os países em 1956 e ambos viraram países independentes, eles tiveram de escolher como seriam estabelecidas as fronteiras.

Os egípcios preferiram a primeira opção de fronteira, de 1899, que concedia o Triângulo de Hala’ib para eles e Bir Tawil para os sudaneses. Os sudaneses, por outro lado, queriam a segunda opção, de 1902, que concedia Bir Tawil para os egípcios e o Triângulo de Hala’ib como parte do Sudão. Então, até 1992, ambos dividiram a região do Triângulo de Hala’ib, que é muito maior do que Bir Tawi e também está localizada na costa africana, fornecendo uma posição estratégica para o comércio.

Mas, o que aconteceu em 1992? Bem… petróleo foi descoberto em um território próximo ao Triângulo de Hala’ib, no mar vermelho, e quem controlasse a região teria, supostamente, o controle sobre o achado e as riquezas que isso proporcionaria. Primeiramente, o Sudão se antecipou em conceder os direitos de exploração ao uma empresa petrolífera do Canadá e o Egito alegou que isso era ilegal, usando a fronteira de 1899 como um pretexto para enviar tropas a Hala’ib e ocupar a região. O Sudão retaliou isso com uma tentativa de assassinar o presidente do Egito em 1996 durante uma visita na Etiópia e então o Egito retalhou a isso expulsando todos os sudaneses de Hala’ib.

Desde os anos 2000 Hala’ib esteve sob domínio Egípcio e a tensão entre os dois países continua até hoje. Em 2019 o Egito tentou vender os direitos de exploração das áreas do mar vermelho e o Sudão fez um monte de ameaças legais sobre isso.

E é por conta disso que Bir Tawil existe: se os sudaneses ocupassem Bir Tawil, assumir-se-ia que Hala’ib pertenceria aos egípcios. Agora, se os egípcios ocupassem Bir Tawil, assumir-se-ia que Hala’ib pertenceria aos sudaneses – e, nenhuma das nações estaria disposta a perder Hala’ib, sendo esse o motivo de Bir Tawil não pertencer a ninguém.

E, nenhum outro país tem interessem em reivindicá-la pelo simples fato de ser um deserto com pilhas e pilhas de areia e rochas, no meio de dois países.

Então… caso você tenha verba para montar, digamos, um mundo a parte… você está livre para reivindicar Bir Tawil e construir ali uma infraestrutura, aeroportos e fazer do local o seu próprio país.