Em um desenvolvimento inovador que conecta a antiga literatura nórdica com a ciência moderna, pesquisadores conseguiram identificar um esqueleto de 800 anos descoberto no castelo de Sverresborg, na Noruega. Os restos mortais, há muito conhecidos como ‘Homem do Poço’, revelaram detalhes surpreendentes sobre um ataque militar histórico ocorrido em 1197, desafiando suposições anteriores sobre esse mistério medieval.
A Ciência por Trás da Descoberta
Utilizando análise genômica avançada e técnicas arqueológicas, cientistas da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia desvendaram detalhes notáveis sobre a aparência e a origem do indivíduo. A equipe do Dr. Martin Ellegaard extraiu DNA de uma amostra de dente, revelando que o homem possuía olhos azuis, pele de tonalidade média e cabelo loiro ou castanho claro. Essas características físicas estão alinhadas com traços escandinavos típicos, mas a descoberta mais intrigante foi a origem geográfica do homem.
“A análise genômica mostrou que este indivíduo veio do sul da Noruega, e não da população local como inicialmente pensávamos”, diz o Professor Michael D. Martin. Esta descoberta sugere que as forças atacantes podem ter descartado um de seus próprios soldados no poço, em vez de uma vítima local, adicionando um desdobramento inesperado à narrativa histórica.
Um Conto de Guerra Medieval
A história do Homem do Poço está intrinsecamente ligada ao reinado do Rei Sverre Sigurdsson durante o final do século XII. O rei, que ascendeu ao poder após uma disputa de sucessão com seu tio, enfrentou inúmeros desafios à sua autoridade. Em 1197, enquanto o Rei Sverre estava estacionado em Bergen, seus inimigos lançaram um ataque surpresa ao castelo de Sverresborg, localizado a centenas de quilômetros de distância. O ataque resultou na destruição do castelo e no infame incidente do poço.
O texto nórdico Sverris saga documenta este evento com notável precisão: “Eles pegaram um homem morto e o lançaram no poço, e depois o encheram com pedras.” Este relato, provavelmente escrito por alguém próximo ao círculo íntimo do rei, fornece informações detalhadas sobre estratégias militares, locais e figuras-chave da época.
O próprio esqueleto conta uma história de violência. A análise forense revelou que o homem, estimado entre 30 e 40 anos à época da morte, sofreu traumas significativos no crânio. Os restos mostram evidências de lesão por golpe na região posterior esquerda e dois cortes profundos, embora os pesquisadores acreditem que essas feridas não foram a causa imediata da morte.
A Ciência Moderna Encontra a História Medieval
A investigação sobre o Homem do Poço começou em 1938, quando o esqueleto foi descoberto pela primeira vez. No entanto, recursos limitados na época permitiram apenas uma escavação básica e exame de alguns ossos. Foi somente em 2014 e 2016 que escavações mais abrangentes foram realizadas, permitindo aos pesquisadores recuperar restos adicionais, incluindo o crânio separado do corpo.
A capacidade da equipe de pesquisa de extrair e analisar material genético de restos tão antigos demonstra o notável avanço da ciência arqueológica. “Esses restos medievais em toda a Europa estão sendo cada vez mais estudados usando métodos genômicos”, explica o Professor Martin. Esse progresso tecnológico permite aos pesquisadores verificar relatos históricos e descobrir novos detalhes sobre eventos passados.
O caso do Homem do Poço representa mais do que apenas um enigma histórico resolvido. Ele demonstra como métodos científicos modernos podem aprimorar nossa compreensão das táticas de guerra medievais e das dinâmicas sociais. A descoberta de que o corpo pertencia a alguém do sul da Noruega levanta novas questões sobre as motivações por trás desse ato de envenenamento do poço e as complexas relações entre diferentes regiões norueguesas durante esse período turbulento.