Em um apartamento no norte de Londres, uma televisão permaneceu ligada ininterruptamente por três anos, até que, em janeiro de 2006, funcionários de uma associação habitacional fizeram uma descoberta perturbadora. Eles encontraram os restos mortais de Joyce Carol Vincent, que havia falecido em 2003, aos 38 anos, cercada por presentes de Natal não abertos e correspondências acumuladas.
Nascida em Hammersmith, em 1965, a história de vida de Vincent foi revelada por meio do documentário “Dreams of a Life” (O Sonho de uma Vida, no Brasil), da cineasta Carol Morley, lançado em 2011. O filme mostrou uma mulher complexa, cuja personalidade vibrante escondia um isolamento mais profundo. Vincent trabalhou em empresas renomadas, como a Ernst & Young, e era descrita por quem a conhecia como “bonita” e “inteligente”. Ela tinha quatro irmãs e manteve diversas conexões sociais ao longo de sua vida.
“Você olha para trás e pensa: Eu queria ter perguntado mais, queria ter entendido mais”, contou um ex-namorado que teve um relacionamento com Vincent por três anos, expressando o choque ao saber de sua morte. A relação entre a imagem pública de Vincent e suas lutas internas permaneceu intrigante, com colegas oferecendo relatos contraditórios sobre sua saída do trabalho, em 2001. Alguns acreditavam que ela havia deixado o emprego para viajar, enquanto outros pensavam que ela tinha aceitado outra proposta.
As circunstâncias de sua morte formaram um cenário enigmático. A polícia descartou a possibilidade de homicídio, sugerindo causas naturais, possivelmente relacionadas a uma crise de asma, embora o avançado estado de decomposição tenha tornado impossível determinar a causa exata. A cena em seu apartamento retratava uma vida interrompida — louças na pia, presentes de Natal ainda embrulhados e uma televisão que continuava ligada em um ambiente vazio.
A investigação revelou que o aluguel do apartamento não era pago há três anos, até que os funcionários da associação habitacional chegaram para retomar o imóvel. Seu corpo estava em um estado tão avançado de decomposição que foi necessário recorrer a registros dentários para identificá-la formalmente. Os presentes de Natal não abertos e outros itens encontrados no local ajudaram as autoridades a estimar o período de sua morte.
Por meio de entrevistas com ex-colegas, colegas de escola e antigos parceiros românticos, o documentário de Morley tentou entender como alguém poderia permanecer tanto tempo sem ser notado em uma cidade tão movimentada. Apesar das conexões sociais e do aparente sucesso profissional, o filme sugeriu que ninguém realmente conhecia Vincent em sua essência.
O caso gerou discussões sobre o isolamento urbano nas redes sociais. Um usuário escreveu: “Decidi que vou mandar mensagens para amigos e familiares. Visitar sempre que puder. Não quero acabar como ela. Ela não deveria ter acabado assim.” Outro compartilhou sua experiência de distanciamento social: “Sei que as pessoas estão ocupadas com suas vidas, mas às vezes você pensa: ‘Sou tão desagradável assim?’ Isso te deixa amargo, e você acaba se fechando em si mesmo.”