A teoria de que o Todo Poderoso, o Criador Universal, poderia ter compartilhado seu papel com uma esposa é proposta pela pesquisadora Francesca Stavrakopoulou, doutorada pela Universidade de Oxford e professora do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Exeter. Segundo ela, YHWH, também conhecido como Senhor ou Alá, teria sido casado com Asherah, uma deusa importante venerada em Israel na Antiguidade.
A estudiosa fundamenta sua afirmação com evidências arqueológicas, incluindo textos antigos, inscrições e ídolos encontrados na cidade canaanita de Ugarit, além de detalhes presentes na Bíblia. Ela afirma que Deus não só era uma das muitas divindades veneradas em Israel, como também dividia seu “trono” com uma esposa, que era adorada junto com ele em um templo em Jerusalém.
Segundo relata a história, os antigos israelitas praticavam politeísmo, adorando várias divindades, incluindo a deusa Asherah. Yahweh, também conhecido como Javé, era só mais uma dessas divindades. Entretanto, com o exílio dos judeus para Babilônia e a destruição do Templo de Jerusalém em 586 a.C., essa visão politeísta começou a mudar.
Foi então que surgiu uma visão monoteísta, que se concentrava na existência de um único Criador Universal. Essa crença se espalhou pelo Reino de Judá e eventualmente se tornou a base das religiões abraâmicas, que incluem o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Estas religiões se baseiam na crença na existência de um único Deus e todas elas possuem sua origem comum traçada até Abraão.
Deusa da fertilidade
De acordo com Francesca Stavrakopoulou, Yahweh, também conhecido como Deus, enfrentou uma concorrência com outras divindades como Molek, Baal e El (EL era um dos deuses adorado pelos patriarcas nas antigas mitologias) antes de alcançar a posição de Todo Poderoso entre os antigos israelitas.
Embora a Bíblia contenha o mandamento “não terás outros deuses diante de mim”, o próprio livro apresenta evidências de que outras entidades eram adoradas junto a ele. Além disso, de acordo com a pesquisadora, o Livro dos Reis sugere que Yahweh tinha uma esposa, a deusa Asherah, que era adorada junto com ele.
As evidências incluem menções a Asherah na Bíblia, uma estátua da deusa no Templo de Jerusalém, e inscrições em cerâmica do século 8 a.C. encontradas em Kuntillet Ajrud, no deserto do Sinai, que se referem ao “Casal Divino”. Estas evidências sugerem que os antigos israelitas acreditavam que Yahweh tinha uma esposa.
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Árvore sagrada
Embora a Bíblia condene a adoração de divindades, os textos sugerem que essa prática era comum em Jerusalém. Ídolos, amuletos e textos antigos revelam que Asherah era uma poderosa deusa da fertilidade, conhecida também pelos nomes Istar e Astarte. Ela era considerada uma divindade importante, poderosa e maternal.
Antes de ser associada a Yahweh, ela era consorte de El, o Deus supremo de Canaã e pai de Baal. Na Bíblia, ela é frequentemente mencionada como ha asherah e nesses casos, as escrituras não a referência como uma divindade, mas como um símbolo presente nos altares de santuários israelitas dedicados a Yahweh, muitas vezes na forma de árvores, o que explica sua ligação com o “Deus dos Hebreus”.
O estudioso J. Edward Wright, presidente de um centro de estudos judaicos e do Instituto Albright de Pesquisas Arqueológicas, confirmou que diversas inscrições hebraicas mencionam a relação entre Yahweh e Asherah. Segundo ele, a suposta esposa de Deus não foi completamente apagada da Bíblia e ainda é possível encontrar vestígios de sua existência em evidências arqueológicas e textos de países vizinhos a Israel e Judá.
Muitas traduções se referem a Asherah como “Árvore Sagrada”, mas de acordo com Wright, essa referência foi criada para “esconder” a existência da deusa. Referências a Asherah no Velho Testamento são raras e foram grandemente editadas pelos antigos autores responsáveis por reunir os textos incluídos nas Escrituras.
Conheça Ashera, a esposa de Jeová
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Aaron Broody, diretor do Museu Bade e professor de estudos relacionados com arqueologia e a Bíblia, explicou que a figura de Asherah como “árvore” inclusive foi simbolicamente cortada e queimada no exterior do Templo de Jerusalém por religiosos que tentavam purificar o culto e concentrar-se na adoração de um único Deus, YHWH.
Francesca Stavrakopoulou não foi a primeira estudiosa a mencionar a relação entre Yahweh e Asherah. Em 1967, o historiador Raphael Patai já havia apresentado a teoria de que os antigos israelitas adoravam ambas – e muitas outras – divindades. Desde então, vários outros estudiosos publicaram trabalhos e livros sobre o assunto.