Manter um relacionamento saudável pode ser um desafio, mas a situação se complica ainda mais quando se está envolvido com alguém que possui traços de narcisismo. A personalidade narcisista, caracterizada por uma autoimagem inflada e necessidade constante de admiração, frequentemente cria conflitos em relações interpessoais.
Um estudo recente, publicado em 20 de fevereiro no Journal of Personality and Social Psychology, trouxe novas descobertas sobre como esses indivíduos percebem e são percebidos pelo mundo social — e os resultados são reveladores.
A pesquisa, que analisou 77 mil participantes, descobriu que os chamados “narcisistas grandiosos” — aqueles que exibem autoconfiança excessiva e senso de superioridade — têm maior probabilidade de se sentirem excluídos. Além disso, eles também são mais propensos a serem realmente rejeitados por outras pessoas em comparação com indivíduos menos egocêntricos.
Christiane Büttner, psicóloga da Universidade de Basel e autora principal do estudo, explica que a sensação de ostracismo é subjetiva: “Alguns podem ser intencionalmente excluídos, enquanto outros apenas acreditam que estão sendo deixados de lado. Narcisistas são mais sensíveis a sinais de rejeição, o que os faz perceber a exclusão com mais frequência”.
Mas por que isso acontece? Parte da resposta está nos próprios comportamentos associados ao narcisismo. Indivíduos com essa tendência costumam exibir agressividade, arrogância e falta de empatia, características que naturalmente afastam os outros. Eles também tendem a monopolizar conversas, desvalorizar conquistas alheias e buscar atenção constante. Essas atitudes, somadas à dificuldade de reconhecer erros, criam um ciclo vicioso: quanto mais o narcisista tenta se destacar, mais as pessoas podem se distanciar.
A psicóloga clínica Dra. Ramani Durvasula, que trata pacientes com transtorno de personalidade narcisista, complementa: “Eles têm uma pele emocional muito fina. Basta uma pequena suspeita de que estão sendo ignorados — como um olhar desviado ou uma postagem não curtida nas redes sociais — para que reajam intensamente”. Essa hipersensibilidade à exclusão, mesmo que imaginária, muitas vezes os leva a respostas defensivas ou hostis, reforçando o afastamento de quem está ao redor.
Para quem se vê em um relacionamento amoroso com uma pessoa narcisista, a situação pode ser especialmente desgastante. A Dra. Durvasula orienta que, em muitos casos, a estratégia mais eficaz é o desengajamento — reduzir deliberadamente o contato para proteger a própria saúde mental. Isso, no entanto, pode ser interpretado pelo parceiro como rejeição, potencialmente agravando conflitos. Quando a interação é inevitável, a recomendação é manter a educação sem ceder às demandas excessivas ou sacrificar o próprio bem-estar. “Não é necessário ser hostil, mas também não se deve buscar agradar a todo custo”, ressalta a especialista.
Embora o narcisismo seja um traço de personalidade complexo, há esperança para quem busca mudanças. Em jovens, intervenções precoces — como terapia focada em desenvolver empatia e autocrítica — podem ajudar a modular comportamentos. Para adultos, a psicoterapia ainda é a principal ferramenta, embora o processo exija reconhecimento do problema e disposição para trabalhá-lo, algo que nem sempre ocorre. Estudos indicam que abordagens como a terapia cognitivo-comportamental são úteis para lidar com questões subjacentes, como inseguranças ou traumas que possam alimentar a necessidade de autoengrandecimento.
Vale ressaltar que o transtorno de personalidade narcisista é uma condição reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, presente em cerca de 1% a 6% da população global. Seus efeitos vão além dos relacionamentos íntimos, impactando ambientes profissionais e dinâmicas familiares. Por isso, entender suas nuances não é apenas uma questão de curiosidade, mas um passo importante para criar ambientes mais saudáveis — seja aprendendo a estabelecer limites ou buscando ajuda especializada quando necessário.
