Você sabia que um adolescente de 17 anos foi diagnosticado com uma doença pulmonar irreversível após usar vape por três anos? O caso, divulgado recentemente, trouxe à tona um problema pouco conhecido: a “bronquiolite obliterante”, popularmente chamada de “pulmão de pipoca”. Mas por que esse nome curioso? A resposta remonta a uma fábrica de pipoca de micro-ondas nos Estados Unidos, onde trabalhadores desenvolveram a mesma condição décadas atrás. A causa? Um produto químico chamado diacetil, usado para dar sabor artificial de manteiga.
O professor Donal O’Shea, especialista em química da RCSI University of Medicine and Health Sciences, explica que o diacetil continua sendo um risco atual. Presente em líquidos aromatizados para cigarros eletrônicos, essa substância se transforma em uma toxina quando aquecida e inalada. Ao chegar aos pulmões, provoca inflamação e cicatrizes nas estruturas mais finas das vias aéreas, os bronquíolos. O resultado é uma redução permanente da capacidade respiratória, como se os pulmões fossem gradualmente “sufocados” por dentro.
Apesar da proibição do diacetil em vapes na União Europeia e no Reino Unido, o perigo persiste. Produtos ilegais ou fabricados em regiões sem regulamentação rigorosa ainda podem conter a substância. Nos Estados Unidos, por exemplo, seu uso permanece autorizado. Além disso, pesquisas revelam que outros compostos químicos presentes nos aerossóis de vape representam ameaças semelhantes. Formaldeído e acetaldeído – conhecidos por seus efeitos tóxicos – são frequentemente detectados nos vapores inalados pelos usuários.
Um dado alarmante mencionado pelo professor O’Shea é a existência de mais de 180 tipos diferentes de aromatizantes em produtos para cigarros eletrônicos. Quando aquecidos, muitos desses compostos se decompõem em novas substâncias cujos efeitos sobre o sistema respiratório ainda não foram totalmente estudados. Isso significa que mesmo sabores aparentemente inofensivos, como menta ou frutas tropicais, podem esconder riscos imprevisíveis à saúde pulmonar.
O tratamento para o “pulmão de pipoca” é limitado e paliativo. Medicamentos como broncodilatadores e corticoides ajudam a controlar sintomas, mas não revertem os danos. Em casos extremos, apenas um transplante de pulmão poderia oferecer alguma esperança – procedimento complexo e de disponibilidade limitada. Por isso, especialistas reforçam que a única estratégia eficaz é a prevenção total do uso de vapes, especialmente entre jovens.
Vale destacar que os riscos não se restringem ao diacetil. A combinação de múltiplas substâncias químicas inaladas simultaneamente cria um “efeito coquetel” ainda pouco compreendido pela ciência. Cada tragada expõe os pulmões a uma mistura complexa de partículas ultrafinas, metais pesados e compostos orgânicos voláteis. Com o tempo, essa exposição cumulativa pode desencadear não só a bronquiolite obliterante, mas também outras doenças respiratórias crônicas.
Embora a indústria do vaping muitas vezes apresente seus produtos como alternativa segura ao cigarro tradicional, estudos recentes contradizem essa narrativa. A facilidade de acesso e os sabores atraentes – especialmente para o público adolescente – mascaram um cenário preocupante. Dados de saúde pública indicam aumento significativo no número de jovens com problemas respiratórios graves associados ao uso precoce e prolongado de cigarros eletrônicos.
Diante desse quadro, autoridades médicas globais reforçam a necessidade de campanhas educativas transparentes. A compreensão dos mecanismos de dano pulmonar causado pelos componentes do vape – desde substâncias aromatizantes até subprodutos da combustão eletrônica – é crucial para orientar escolhas conscientes. Enquanto pesquisas avançam para desvendar todos os efeitos a longo prazo, a mensagem central permanece clara: quando se trata de saúde respiratória, não existe nível seguro de exposição a toxinas inaláveis.