Imagine viajar para o espaço em uma missão de oito dias e, sem aviso, descobrir que seu retorno à Terra está suspenso por meses. Foi exatamente isso que aconteceu com os astronautas da NASA Suni Williams e Butch Wilmore, que decolaram em junho de 2024 a bordo de uma cápsula Starliner, da Boeing, rumo à Estação Espacial Internacional (ISS). O plano era simples: passar uma semana em órbita, realizar testes técnicos e voltar para casa. Mas problemas inesperados transformaram a jornada em uma saga espacial prolongada.
Tudo começou quando a dupla chegou à ISS, a cerca de 400 quilômetros acima da Terra. A cápsula Starliner, desenvolvida pela Boeing para transporte de tripulações, apresentou falhas críticas no sistema de propulsão e vazamentos de hélio, comprometendo a segurança do retorno. A NASA e a Boeing decidiram que era arriscado trazer Williams e Wilmore no mesmo veículo, então a cápsula retornou à Terra vazia em julho, deixando os astronautas presos na estação espacial. Desde então, eles aguardam uma solução — e a resposta veio de uma fonte inesperada: a SpaceX, empresa concorrente da Boeing, comandada por Elon Musk.
Inicialmente, a NASA planejava usar outra cápsula Starliner para resgatá-los, mas os atrasos nos reparos da Boeing forçaram a agência espacial a mudar de estratégia. Em fevereiro de 2024, a SpaceX recebeu a tarefa de trazer a dupla de volta com sua nave Crew Dragon, já testada em missões anteriores. O retorno, porém, só está previsto para março de 2025 — mais de oito meses após o lançamento original.
Suni Williams e Butch Wilmore estão presos na ISS desde junho (NASA)
Enquanto isso, Elon Musk usou a situação para criticar o cenário político. Em uma entrevista à Fox News ao lado do ex-presidente Donald Trump, Musk afirmou que os astronautas foram “deixados no espaço por motivos políticos”. Ele não detalhou quais seriam esses motivos, mas sugeriu que o governo Biden teria negligenciado a situação: “Não queremos ser complacentes, mas já trouxemos astronautas da estação espacial muitas vezes, sempre com sucesso”, disse Musk, destacando a experiência da SpaceX. Trump ecoou a crítica, acusando Biden de “querer deixá-los no espaço”, sem oferecer explicações concretas.
A NASA, por sua vez, evitou entrar no debate político. Em comunicado recente, a agência confirmou que está acelerando os prazos para as próximas missões tripuladas. A Crew-10, da SpaceX, deve decolar em 12 de março de 2025, substituindo a Crew-9, que retornará após uma breve transição na ISS. Apesar da pressa, a NASA mantém o protocolo de segurança: “O cronograma depende da preparação da missão e da certificação final”, destacou o texto.
Para Williams e Wilmore, a jornada de volta será longa. A cápsula Crew Dragon levará aproximadamente quatro semanas para desacoplar da ISS, ajustar sua órbita e reentrar na atmosfera terrestre — um processo meticuloso para garantir que a descida ocorra sem riscos. Musk ressaltou que, mesmo com a experiência da SpaceX em resgates, a equipe permanecerá “extremamente cautelosa” durante toda a operação.
Enquanto aguardam, os dois astronautas seguem participando de experimentos científicos e mantendo a rotina da estação espacial. A NASA garantiu que sua saúde está estável, graças aos suprimentos enviados em missões de reabastecimento. Apesar do imprevisto, a dupla mantém o humor: em transmissões recentes, Wilmore brincou que está “praticando para ser o recordista de maior tempo no espaço” — uma referência informal ao fato de que, até o retorno, eles terão passado quase nove meses em órbita.
O presidente Trump e Elon Musk fizeram uma entrevista conjunta com Sean Hannity da Fox News (Fox News)
A situação expôs desafios na parceria público-privada da NASA. Enquanto a Boeing enfrenta críticas por falhas técnicas, a SpaceX consolida seu papel como alternativa confiável. Para especialistas, o episódio reforça a importância de ter múltiplas opções de transporte espacial — algo que a NASA já planejava desde o fim dos ônibus espaciais em 2011.
Enquanto isso, o mundo acompanha a contagem regressiva para o retorno de Williams e Wilmore. Se tudo correr bem, em março de 2025, a Crew Dragon pousará no oceano, encerrando uma das missões mais incomuns da história recente da exploração espacial.
