Elon Musk critica duramente projeto “abominável” de Trump em nova declaração poucos dias após deixar cargo na Casa Branca Elon Musk critica duramente projeto "abominável" de Trump em nova declaração poucos dias após deixar cargo na Casa Branca

por Lucas Rabello
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A relação entre Elon Musk e a administração do presidente Donald Trump passou por mudanças drásticas em um curto espaço de tempo. Poucos dias após encerrar formalmente seu cargo como “funcionário especial do governo” no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) em 30 de maio, o bilionário fundador da Tesla e da SpaceX disparou críticas ferozes contra um projeto de lei aprovado pela Câmara dos Representantes.

A atuação de Musk no governo, iniciada em janeiro, foi descrita como turbulenta, mas ele manteve publicamente a imagem de aliado próximo de Trump, sendo inclusive chamado de “primeiro amigo” do presidente.

Essa postura mudou radicalmente assim que Musk deixou a Casa Branca. O alvo de sua ira foi o chamado “big beautiful bill”, um projeto de lei de grande porte aprovado por estreita margem de apenas um voto na Câmara em 22 de maio.

O projeto incluía uma série de cortes temporários de impostos válidos até 2028. Entre as medidas, destacavam-se a isenção de impostos sobre gorjetas para trabalhadores dos setores de serviços e beleza e o congelamento de impostos sobre horas extras trabalhadas. Paralelamente, o texto redirecionava fundos substanciais para o setor militar e para o reforço da segurança na fronteira.

Musk não poupou palavras ao expressar sua indignação no Twitter (atual X). Ele classificou a legislação como uma “abominação” e repreendeu veementemente os parlamentares que votaram a favor.

“Sinto muito, mas simplesmente não aguento mais. Este projeto de gastos do Congresso, enorme, ultrajante e cheio de emendas de interesse local, é uma abominação nojenta. Vergonha daqueles que votaram a favor: vocês sabem que fizeram errado. Vocês sabem”, escreveu o empresário.

Em uma sequência de posts, Musk aprofundou suas críticas econômicas: “Ele aumentará massivamente o já gigantesco déficit orçamentário para US$ 2,5 trilhões (!!!) e sobrecarregará os cidadãos americanos com uma dívida esmagadoramente insustentável”. Ele acusou o Congresso de estar “falindo a América” e sugeriu uma limpeza política nas próximas eleições: “em novembro do próximo ano, demitimos todos os políticos que traíram o povo americano”.

A motivação por trás de ataques tão contundentes gerou especulação. Fontes citadas pelo New York Post sugeriram que o rompimento poderia ter múltiplas causas. Uma delas seria a decisão dos republicanos na Câmara de eliminar créditos fiscais para veículos elétricos, benefício que anteriormente impulsionou as vendas da Tesla.

Outro fator apontado foi a impossibilidade de Musk permanecer à frente do DOGE além do limite estatutário de 130 dias. Além disso, a Administração Federal de Aviação (FAA) teria optado por não utilizar o sistema de satélites Starlink, da SpaceX, no controle de tráfego aéreo nacional. Outro ponto de atrito foi a remoção de Jared Isaacman, aliado de Musk, da liderança da NASA, supostamente por suas “associações prévias” – interpretadas como referência a doações anteriores para democratas.

Esta não foi a primeira manifestação de Musk contra o projeto. Em uma entrevista anterior à CBS, ele já havia expressado “decepção” com a legislação, argumentando que ela “minava o trabalho que a equipe do DOGE está fazendo”. A porta-voz da Casa Branca na época, Karoline Leavitt, respondeu às críticas de Musk de forma lacônica, afirmando: “O presidente já sabe qual era a posição de Elon Musk sobre este projeto. Isso não muda sua opinião”.

O “big beautiful bill” continha outras disposições além dos cortes de impostos. Ele abria caminho para deduções fiscais de até US$ 10.000 em juros de empréstimos para carros fabricados nos EUA e impunha uma taxa de US$ 200 em silenciadores de armas. Controvérsias maiores surgiram com as medidas para compensar a perda de receita tributária.

O projeto propunha cortes no Medicaid (programa de saúde para pessoas de baixa renda) e nos benefícios do SNAP (programa de assistência alimentar), principalmente através da restrição de fundos para imigrantes indocumentados e da proibição do uso de verbas públicas para cobrir serviços de transição de gênero para crianças e adultos.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) estimou que essas mudanças resultariam em 8,6 milhões de pessoas a menos com cobertura de saúde. As alterações no Medicaid, no SNAP e em outros programas sociais representariam uma economia estimada em um trilhão de dólares para os cofres públicos, ao custo de reduzir significativamente a rede de proteção social para milhões de americanos. O episódio marcou uma virada pública e ruidosa na relação entre um dos homens mais ricos do mundo e a administração que ele, até pouco tempo atrás, assessorava de dentro.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.