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E se o desastre de Chernobyl não tivesse acontecido?

Luciana Calogeras

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Provavelmente teríamos um mundo com mais usinas nucleares e uma história da humanidade escrita de maneira diferente. Veja só o que possivelmente aconteceria:

Ainda é um mistério o número de vítimas que Chernobyl fez – estima-se que sejam 31 pessoas, segundo o dado oficial do governo soviético, como também 200 mil, de acordo com o Greenpeace. Uma diferença muito grande, não?

Isso porque não se tem relatos sobre todos os que morreram, além de consideramos aqueles que também não nasceram, uma vez que, em países europeus onde o aborto era legalizado, ocorreu uma onda de gestações interrompidas em massa por conta do medo da contaminação.

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Entretanto, um relatório no Journal of Nuclear Medicine de 1987, que cita dados da Agência Internacional de Energia Atômica, afirma que o numero de vítimas foi sim entre 100 mil e 200 mil pessoas. Assim sendo, após o acidente, houve um “apoio popular para que a energia nuclear desaparecesse por completo”, nas palavras do sociólogo e especialista em políticas de energia nuclear Wolfgang C. Muller, da Universidade de Viena.

Na época por conta do desastre de Chernobyl, foi bem difícil esconder o medo das pessoas e as opiniões públicas sobre a energia nuclear. Tabloides britânicos faziam chamadas aterrorizantes sobre “nuvens da morte” ou mesmo sobre a “história apocalíptica”, sendo que no Brasil as manchetes perduraram até por mais de um mês com notícias sobre Chernobyl na capa.

No ano seguinte ao da tragédia, por meio de um referendo, a Itália simplesmente proibiu a energia nuclear. Seguiu-se o mesmo ocorrido com a Alemanha, nos anos 2000 e outros países da Europa, que acabaram com seus projetos todos interrompidos. Alguns dos países que mantiveram seus projetos, fizeram uma espécie de “operação tartaruga”, pela dificuldade ocasionada.

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A energia nuclear ficou com uma péssima reputação ainda mais depois do “golpe final” que aconteceu em 1979, com o incidente sem vítimas na usina de Three Mile Island, nos EUA. já deixando o mundo em alerta.  Sob a influência de Chernobyl, o governo dos EUA decidiu não liberar novos projetos, sendo as permissões revistas somente a partir de 2012.

Em resumo, usinas no mundo inteiro foram fechadas ou mesmo nunca foram abertas – como a de Shoreham, no Estado de Nova York, e a Angra 2, que era para estrear no fatídico 1986 mas não está pronta até hoje. Então, aí vai a pergunta: E se o desastre de Chernobyl não tivesse acontecido? Será que o mundo estaria perdendo com isso?

Cenário atual

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Bem, você deve suspeitar que fechar uma usina nuclear significa criar várias outras de carvão ou de gás natural, não é mesmo? Desta forma, levando em conta o procedimento adotado no mundo inteiro desde 1986, há um resultado iminente: o aquecimento global. Esta foi sem dúvida a grande perda para o mundo, uma vez que usinas nucleares não soltam gases-estufa, ao passo que as termelétricas soltam.

De acordo como Painel Internacional para Mudança Climática, a geração de energia é responsável por 25% das emissões de gases-estufa, tendo um impacto significativo no planeta.

Todavia, o debate sobre os perigos da energia nuclear ainda é feroz no mundo inteiro. Os ambientalistas não apoiam o uso da energia nuclear, mas a Union of Concerned Scientists (“União dos Cientistas Preocupados [com o Ambiente]”), que agiu de forma severa ao pedir leis mais rígidas após Chernobyl, declarou que o uso é necessário, porém as nações precisam ser cautelosas neste quesito.

Ao imaginarmos um mundo sem o desastre de Chernobyl, certamente haveria pressão por mais usinas nucleares desde as primeiras evidências de mudança climática. Até mesmo no Brasil elas seriam mais bem vistas que as hidrelétricas, já que não precisam da destruição de grandes áreas de floresta para existirem.

Porém, a história não acaba aí.

Mudanças políticas

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O mundo todo mudou após o desastre: pelo menos é o que diz Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS.  No ano de 2006, quando a catástrofe completou 20 anos, ele afirmou que “talvez o derretimento nuclear em Chernobyl tenha sido a causa real do colapso da União Soviética”.

Este relato foi feito porque Chernobyl mudou tudo na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas: a título de exemplo, US$ 41 bilhões investidos na recuperação quebraram mais ainda um país que já estava nas “últimas”.

Desta maneira, a fim de quebrar a burocracia estatal, e aumentar a confiança do povo, Gorbachev havia iniciado políticas de glasnost (“transparência”) e perestroika (“reestruturação”).

Porém, sua tentativa de ocultar a real extensão do desastre colocou em dúvida suas intenções e ao ter sido considerado alvo de desconfiança, decidiu investir mais pesado na liberalização, como forma de reagir às acusações de falta de transparência por causa de Chernobyl.

No final, tudo isso acabou não dando certo e as pessoas passaram a questionar o sistema em si – particularmente o Partido Comunista.

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No mês de agosto, do ano de 1991, uma tentativa de golpe seria dada pela linha-dura, para acabar com Gorbachev e suas reformas. O golpe falhou mas mesmo assim o país já capengava.

Gorbachev renunciou no mesmo ano, quando a bandeira soviética foi finalmente removida e a da Rússia posta no lugar.

Acabou uma era na história da humanidade para que outra se iniciasse. Sem o desastre de Chernobyl, isso talvez não tivesse acontecido ou mesmo a história poderia ter sido escrita de uma maneira completamente diferente.

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Luciana é profissional da área de tradução há mais de 15 anos, atuando também como professora de Inglês. Trabalha no Mistérios do Mundo desde 2016 como redatora e roteirista e em horas vagas é pesquisadora curiosa em diversas áreas do conhecimento.

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