Uma missão espacial que deveria durar apenas oito dias se transformou em uma espera de nove meses para os astronautas Barry “Butch” Wilmore e Sunita “Suni” Williams. A dupla partiu para a Estação Espacial Internacional (ISS) em 5 de junho de 2024, mas problemas técnicos na nave de retorno os mantiveram no espaço até 18 de março, quando finalmente pousaram na Terra com ajuda da espaçonave Crew Dragon, da SpaceX. O imprevisto, porém, trouxe à tona uma questão inusitada: os astronautas não recebem pagamento por horas extras, mesmo em situações extremas.
A NASA confirmou que, independentemente do tempo adicional no espaço, os profissionais recebem apenas o salário padrão, calculado como uma jornada de 40 horas por semana. Além disso, a agência oferece uma taxa de “despesas incidentais” de 5 dólares por dia. Para Wilmore e Williams, isso significou cerca de 1.430 dólares durante os nove meses de atraso. O salário anual de um astronauta da NASA, segundo o site da agência, gira em torno de 152.258 dólares, valor que não foi ajustado pela extensão da missão.
A política da agência não é nova. A ex-astronauta Cady Coleman, que passou 159 dias no espaço entre 2010 e 2011, recebeu aproximadamente 636 dólares em diárias — cerca de 4 dólares na época. A filha de Wilmore viralizou no TikTok ao criticar a situação, destacando que o pai ganharia “apenas 4 dólares por dia” pelo tempo extra, valor que considerou insuficiente diante dos riscos e sacrifícios envolvidos.

A dupla retornou para casa após 286 dias.
O presidente dos EUA Donald Trump entrou no debate durante uma coletiva em 21 de março. Afirmou que não sabia da falta de pagamento de horas extras para astronautas e declarou: “Se for necessário, vou pagar do meu próprio bolso”. Trump também mencionou ter pedido a Elon Musk, fundador da SpaceX, que resgatasse a dupla, acusando o governo Biden de tê-los “abandonado no espaço”. Em uma publicação na rede Truth Social, escreveu: “Elon logo estará a caminho. Espero que todos fiquem seguros. Boa sorte, Elon!!!”.
A extensão da missão impactou não apenas a rotina profissional de Wilmore e Williams, mas também suas vidas pessoais. Além de adiar planos familiares, a estadia prolongada no espaço traz riscos à saúde, como perda de massa muscular, exposição à radiação e efeitos psicológicos do confinamento. A NASA não detalhou se oferecerá suporte adicional aos astronautas, mas reiterou que segue os protocolos estabelecidos para missões de longa duração.
Enquanto a discussão sobre direitos trabalhistas no espaço ganha força, a SpaceX segue como peça-chave em operações de resgate. A Crew Dragon, que já realizou missões de emergência anteriormente, reforça a parceria público-privada na exploração espacial. Para Wilmore e Williams, o retorno à Terra encerrou um capítulo imprevisível, mas deixou perguntas sobre como as agências espaciais devem compensar profissionais em cenários de risco não planejado.
A polêmica também reacendeu debates sobre a valorização de astronautas, especialmente em missões comerciais. Enquanto empresas privadas como a SpaceX negociam contratos milionários com a NASA, os salários dos tripulantes permanecem fixos, independentemente de imprevistos. O caso dos dois astronautas pode pressionar mudanças nas políticas trabalhistas do setor — com ou sem a intervenção de Trump.