Doença antiga que matou 50 milhões de pessoas é encontrada no DNA de múmia egípcia

por Lucas Rabello
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Uma descoberta revolucionária no Museu Egípcio de Turim, na Itália, revelou uma ligação inesperada entre o Egito Antigo e uma das doenças mais devastadoras da humanidade. Cientistas identificaram traços da peste bubônica em um corpo mumificado de um homem que data de aproximadamente 1780 a.C., desafiando a compreensão cronológica que se tinha dessa enfermidade histórica.

A peste bubônica, famosa por causar a Peste Negra medieval que tirou a vida de 50 milhões de pessoas, é frequentemente associada às condições insalubres da Europa medieval. A doença, transmitida por ratos e pulgas, provoca sintomas graves, como feridas na pele, inchaço dos gânglios linfáticos, febre alta e o característico escurecimento da língua antes de levar a vítima à morte.

Uma múmia antiga datada de 1780 a.C. possui traços da Peste Negra.

Uma múmia antiga datada de 1780 a.C. possui traços da Peste Negra.

Pesquisadores que analisaram a múmia de Turim chegaram a essa descoberta impressionante por meio de um estudo detalhado de tecidos ósseos e conteúdo intestinal. As amostras testaram positivo para Yersinia pestis, a bactéria responsável pela peste bubônica. Essa descoberta é a primeira identificação da doença fora dos limites geográficos da Europa e da Ásia medievais.

A equipe de pesquisa apresentou suas descobertas na Reunião Europeia da Associação de Paleopatologia, declarando: “Aqui, relatamos a presença de DNA de Y. pestis em uma múmia egípcia antiga de um homem adulto da coleção do Museu Egípcio de Turim, Itália.” Eles observaram que, embora a múmia date do final do Segundo Período Intermediário até o início do Novo Reino, sua origem exata dentro do Egito permanece desconhecida.

A análise científica revelou DNA de Y. pestis em várias amostras de tecidos, indicando um estágio avançado da doença no momento da morte do indivíduo. O relatório científico destacou: “Este é o primeiro genoma pré-histórico de Y. pestis relatado fora da Eurásia, fornecendo evidências moleculares da presença da peste no Egito Antigo, embora não possamos inferir o quão disseminada a doença estava naquela época.”

Traços da peste foram encontrados no tecido ósseo e no conteúdo intestinal da múmia antiga (LIONEL BONAVENTURE).

Traços da peste foram encontrados no tecido ósseo e no conteúdo intestinal da múmia antiga (LIONEL BONAVENTURE).

Embora a peste bubônica possa parecer um problema do passado, casos modernos continuam a surgir. Entre 2010 e 2015, autoridades de saúde documentaram 3.248 casos em todo o mundo, com ocorrências na África, Ásia, América do Sul e Estados Unidos. No entanto, ao contrário de sua contraparte histórica, a medicina moderna agora pode tratar a doença de forma eficaz com antibióticos.

Michael Marks, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, explica os padrões atuais de transmissão: “Pessoas com peste estão muito doentes. Elas não estão embarcando em aviões, basicamente. Então, a forma como a peste se espalha pelo mundo não é por indivíduos infectados (diferente da COVID), mas por animais infectados.” Ele acrescenta que o risco para países como o Reino Unido permanece “extremamente baixo, próximo de zero”, apesar dos casos contínuos nos Estados Unidos.

A descoberta da bactéria da peste em uma múmia egípcia antiga não apenas retrocede a linha do tempo dessa doença, mas também fornece novos insights sobre sua presença histórica na África. Essa descoberta abre novos caminhos para entender a evolução e a disseminação de um dos patógenos mais significativos da história.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.