Escondido debaixo dos nossos pés, no interior da crosta terrestre, existe um imenso reservatório de água. E quando digo imenso, é porque ele tem três vezes o tamanho de todos os oceanos combinados.
Descoberto recentemente em 2014, esse gigantesco suprimento de água está oculto a cerca de 640 quilômetros abaixo da superfície. Mas não pense que você vai encontrar essa água balançando por aí; ela está bem guardada dentro de uma rocha azul chamada ‘ringwoodite’, no manto da Terra. “Ringwoodite?”, você pergunta. Parece nome de personagem de Tolkien, mas é na verdade uma rocha que armazena água pra valer.
Qual é a grande história com a ringwoodite, você deve estar se perguntando? Imagine ela como uma esponja gigante da Terra, só que para água. E não estamos falando de qualquer água. Não é líquida, não é sólida, não é gasosa, é algo totalmente diferente — uma quarta estrutura molecular de água, toda aconchegada nas rochas do manto.
“O ringwoodite funciona como uma esponja, absorvendo água. Tem algo muito especial na estrutura cristalina do ringwoodite que faz com que ele atraia hidrogênio e capture água”, revela o geofísico Steve Jacobsen, um dos responsáveis por essa descoberta monumental. Ele complementa, “Esse mineral pode conter uma grande quantidade de água sob as condições do manto profundo.”
Como eles descobriram esse oásis subterrâneo? Aí entram os cientistas da Universidade Northwestern, em Illinois, armados com sismômetros. Esses são equipamentos de alta tecnologia que medem as ondas sísmicas. E adivinha? Essas ondas viajam pelo mundo inteiro, não apenas na superfície, mas através do núcleo da Terra.
A investigação envolveu acompanhar a velocidade e a profundidade dessas ondas, o que os levou ao tesouro aquático dentro da ringwoodite. Se a ringwoodite contém só 1% de água, estamos falando de uma quantidade três vezes maior do que a de todos os oceanos da superfície.
Mas por que isso é tão importante, além de nos fazer repensar nossas contas de água? É um marco para entender como a Terra formou sua água, quer dizer, de onde ela veio. Isso apoia a teoria de que a água da Terra pode ter origem interna, brotando de suas próprias entranhas, em vez de ter vindo de asteroides ou cometas.
“Acho que finalmente estamos vendo evidências de um ciclo hídrico completo na Terra, que pode ajudar a explicar a imensa quantidade de água líquida na superfície do nosso planeta habitável. Os cientistas têm buscado essa água profunda desaparecida há décadas”, reflete Jacobsen.
E a busca não acabou. Jacobsen e sua equipe agora estão em missão para descobrir se essa camada úmida e selvagem é um acessório definitivo da Terra, envolvendo o planeta inteiro.