Imagens chocantes revelaram a existência de um local suspeito de ser um centro de treinamento e extermínio ligado ao narcotráfico no México, gerando investigações das autoridades. O lugar, conhecido como Rancho Izaguirre, fica a aproximadamente 60 quilômetros da cidade de Guadalajara, no estado de Jalisco, e foi descoberto por voluntários do grupo Buscadores Guerrerenses de Jalisco, que atuam na busca por desaparecidos no país.

O acampamento foi encontrado próximo à cidade de Teuchitlán, no estado de Jalisco.
No local, espalhados por uma área de cerca de 8 mil metros quadrados, foram encontrados objetos pessoais abandonados, como roupas, calçados e cartas endereçadas a familiares. As cenas impressionaram até mesmo os voluntários experientes. Raúl Servín García, integrante do grupo de buscas, descreveu a descoberta como um “choque tremendo”. “A primeira coisa que vem à mente é torcer para que nenhum parente — um filho, um marido — tenha passado por ali, tenha sido torturado ou assassinado”, afirmou.

Os voluntários também localizaram crematórios no complexo
O Rancho Izaguirre possuía estruturas que sugerem atividades criminosas organizadas. Entre elas, um circuito de treinamento com arames farpados e pneus no chão, além de vários prédios em ruínas. Um elemento que chamou atenção foi um altar dedicado a Santa Muerte, figura religiosa frequentemente associada a grupos criminosos no México. Porém, os detalhes mais perturbadores estavam escondidos: ossos humanos queimados, vestígios de uma possível crematória subterrânea e centenas de cápsulas de munição espalhadas. A combinação desses elementos levou veículos da imprensa local a comparar o local a um “campo de extermínio” ou até mesmo a um “Auschwitz mexicano”.

Foram recuperados vários artigos de vestuário e calçado
Entre os itens recuperados, cadernos com anotações em código chamaram a atenção. Eles pareciam conter registros de pessoas capturadas, possivelmente vítimas do grupo que operava no local. Uma carta emocionante, escrita por alguém que pode ter sido mantido no rancho, trazia a mensagem: “Meu amor, se um dia eu não voltar, só peço que lembre o quanto eu te amei”.
Não é a primeira vez que o Rancho Izaguirre é alvo de operações. Em setembro de 2023, a Guarda Nacional mexicana invadiu o local e resgatou duas pessoas vivas, além de encontrar um corpo envolto em plástico. Na época, não houve divulgação detalhada sobre o caso, mas as novas imagens reacenderam o debate sobre as atividades no local.

Sapatos encontrados no campo
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, confirmou que o governo federal assumirá as investigações. “Primeiro, precisamos apurar os fatos, porque as imagens são obviamente dolorosas. É essencial saber o que aconteceu ali antes de qualquer coisa”, declarou. Ela reforçou a necessidade de coordenação entre as autoridades para identificar os responsáveis.

O campo também contava com algum tipo de curso de treinamento e um crematório
Embora veículos locais sugiram o envolvimento do Cártel Jalisco Nova Geração — um dos grupos criminosos mais poderosos do país —, nenhuma ligação oficial foi confirmada. O estado de Jalisco, onde o rancho está localizado, lidera um triste ranking nacional: mais de 5 mil pessoas estão desaparecidas na região, segundo dados da Comissão Nacional de Busca do México. Esse número representa cerca de 10% do total de desaparecidos em todo o país, estimado em mais de 100 mil casos desde 1960.

Um bilhete recuperado, que diz: “Meu amor, se algum dia eu não voltar, só peço que se lembre do quanto eu te amo.”
A descoberta do Rancho Izaguirre expõe a complexidade do cenário de violência no México, onde grupos de civis, como os Buscadores Guerrerenses, muitas vezes assumem a frente das investigações devido à lentidão ou falta de recursos das autoridades. Enquanto as análises forenses continuam, familiares de desaparecidos aguardam respostas que possam esclarecer o destino de entes queridos — e, quem sabe, trazer algum alívio em meio a tanto horror.