Em 3 de janeiro de 1950, em Moscou, nasceram Maria e Daria (mais conhecidas como Masha e Dasha) Krivoshlyapova, gêmeas siamesas que viriam a ser submetidas a extenuantes e repetitivos experimentos, testes e até mesmo torturas por parte da União Soviética. Logo após o nascimento das gêmeas, elas foram separadas de sua mãe, sob a história de que ela teria dado à luz uma “mutante” que teria falecido logo após o nascimento.
Pouco tempo antes do nascimento das garotas, a União Soviética havia feito um anúncio para todos os hospitais com maternidade em seu território de que estava em busca de gêmeos siameses para uma pesquisa científica que vinha sendo realizada à época, com o intuito de analisar os detalhes do funcionamento do corpo destes indivíduos.
Como se tratavam de gêmeas que compartilhavam o mesmo sistema circulatório, porém tinham diferentes sistemas nervosos, elas se tornaram particularmente interessantes para o governo soviético.
Um dos principais objetivos do estudo, liderado por Pyotr Anokhin, era analisar a resposta do organismos de gêmeos siameses em condições de privação de sono, mudanças extremas de temperatura e até mesmo situações de fome.

Mentindo para a mãe das garotas que elas haviam morrido por conta de uma pneumonia, Masha e Dasha foram levadas para um instituto de pesquisa, onde foram submetidas e uma série de experimentos degradantes, humilhantes e semelhantes a sessões de tortura, que mudariam para sempre a vida das duas.
Em um dos testes, por exemplo, que tinha como intenção analisar a resposta do organismo das gêmeas à temperaturas extremas, uma das “metades” do corpo era coberta de gelo, enquanto a outra era analisada para averiguar os estímulos provocados pelo frio.
Em outros momentos, há relatos de que as irmãs receberam inclusive doses consideráveis de radiação, para analisar os efeitos causados por ela na corrente sanguínea das gêmeas siamesas. Além disso, para testar os efeitos da fome no organismo das meninas, os pesquisadores ocasionalmente alimentavam apenas uma das irmãs, posteriormente analisando os efeitos provocados pela privação de alimento na outra gêmea. Algumas interações dos “médicos” com as garotas eram documentadas em vídeos, que hoje estão disponíveis inclusive no YouTube, mostrando por exemplo a forma como elas aprenderam a ficar em pé por conta própria e a caminhar, com a ajuda de funcionários do governo soviético.
Diferenças de comportamento entre as gêmeas
Totalmente privadas do convívio familiar e sujeitadas a experimentos degradantes, não era de se esperar que a capacidade cognitiva e social das garotas se desenvolvesse de forma “normal”. Entretanto, chamou a atenção dos pesquisadores que Masha, ao contrário de sua irmã, demonstrava um comportamento muito mais agressivo, em alguns momentos até mesmo condizente com quadros de psicopatia.
Enquanto Dasha era mais “obediente”, levantando a perna que ela controlava para que as enfermeiras vestissem as meias, por exemplo, Masha muitas vezes atirava as meias contra as médicas, e se recusando a aprender a fazer tarefas como se vestir por conta própria – enquanto sua irmã, ocasionalmente, demonstrava parar de depender das enfermeiras para tudo.
Além disso, Dasha costumava se interessar mais nas tarefas de coordenação motora e de raciocínio que eram “propostas” pelos médicos soviéticos, enquanto Masha se recusasse a realizar certas tarefas, sempre com comportamentos argumentativos e uma personalidade distraída e desligada.
Conforme o tempo foi passando, Dasha passou a demonstrar maior interesse em relações com outras pessoas, romances e amizades, ao contrário de Masha, que afastava as pessoas ao seu redor e mostrava que não tinha interesse em criar tais laços em sua vida pessoal. [Esses são os 6 sinais que indicam que uma criança pode ser psicopata]

Tentativa de suicídio
Em 1964, foi descoberto que o instituto onde as garotas estavam desde o nascimento estava mantendo de forma irregular uma “criança com duas cabeças”, como foi mencionado na época. Por isso, elas foram transferidas para uma escola especializada em crianças com dificuldades motoras, onde puderam continuar seus estudos. Lá, a personalidade de Masha voltou a se mostrar completamente diferente da irmã, visto que ela possuía um comportamento obsessivo e dominador, enquanto Dasha era quieta, calma e submissa à outra gêmea.
Há relatos, inclusive, de que Masha teria agredido a irmã diversas vezes, e até mesmo colocado fim a um relacionamento que Dasha desenvolveu na escola onde estudavam. Por conta deste desentendimento e pelas constantes demonstrações de agressividade, psicopatia e falta de interesse por parte da irmã, Dasha tentou cometer suicídio por enforcamento aos 18 anos de idade, mas acabou sendo salva durante a tentativa. [10 coisas que você precisa saber sobre o suicídio]
Algumas fontes dizem que provavelmente as irmãs tinham orientações sexuais distintas, dada a forma como Masha apreciava ver mulheres em filmes e programas de televisão, e por conta da maneira como ela vestia e arrumava o visual de ambas. Para muitos, este foi um motivo crucial pelo qual Masha teria impedido o relacionamento de sua irmã e agravando ainda mais a relação conturbada que elas acabaram cultivando durante suas vidas. [A diferença entre psicopatas e sociopatas]
Reencontro com a mãe
Mais tarde em suas vidas, quando as irmãs já viviam em uma casa destinado a veteranos de guerra, onde recebiam cuidados por conta de suas necessidades especiais (elas nunca foram consideradas aptas para a vida social plena pelo governo soviético), a mãe das garotas, Yekaterina Krivoshlyapova, passou a visitá-las. No entanto, Masha ocasionalmente acabou cortando relações com a mãe e impedindo, consequentemente, que a irmã voltasse a vê-la.
Perdida e completamente abalada pela incapacidade de gerir a própria vida, Dasha acabou voltando-se ao alcoolismo. Sua irmã era incapaz de beber, por conta de um problema de refluxo, mas como ambas compartilhavam o mesmo sistema circulatório, o álcool atingia as duas irmãs. Acredita-se que, entre outras razões, Dasha usava o álcool como uma forma de fazer com que sua irmã ficasse bêbada demais para conseguir abusar fisicamente dela e agir de forma agressiva e violenta com os demais.
Dasha e Masha morreram em um intervalo de 17 horas
Ao longo de suas vidas, Masha e Dasha passaram por cinco diferentes instituições e “casa de cuidado”, e chegaram aos 53 anos de idade. O médico Lewis Spitz, especialista em casos de gêmeos siameses, ocasionalmente ofereceu para as irmãs a possibilidade de separar seus corpos. No entanto, Masha teria negado veementemente a oferta, e rejeitado qualquer chance de passarem pelo procedimento.
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Em 13 de abril de 2003, Masha buscou ajuda médica por estar sentindo fortes dores nas costas. No dia seguinte, ela faleceu. Dasha também perdeu a vida cerca de dezessete horas após a irmã, por conta de uma intoxicação no sangue causada pelo processo de decomposição do corpo de Masha. Na época, elas foram consideradas as irmãs siamesas de maior longevidade na história.
O corpo das duas fora cremado, e suas cinzas repousam em um museu de Moscou.