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O que é a consciência?

Lucas R.

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Onde começa a consciência?
Conheça a Teoria da Informação Integrada e a Teoria do Espaço de Trabalho Global (GWT), duas teorias que tentam explicar a consciência.

Ao mergulhar no enigmático reino da consciência, pesquisadores e filósofos muitas vezes se encontram emaranhados em teorias que visam elucidar esse fenômeno profundo. A essência da consciência tem sido um tópico de debate acalorado por séculos, talvez até milênios, mas a ciência moderna trouxe uma enxurrada de teorias, cada uma com seu próprio conjunto de proponentes e detratores. A busca para desvendar as intricâncias da consciência sempre foi um desafio, e a ciência que a circunda é tão fascinante quanto complexa.

Recentemente, os holofotes se voltaram para duas teorias fascinantes que buscavam desmistificar o enigma da consciência: a Teoria da Informação Integrada (IIT) e a Teoria do Espaço de Trabalho Global (GWT). Um concurso experimental frente a frente entre essas duas teorias foi realizado, e os resultados foram revelados com muita antecipação na 26ª reunião anual da Associação para o Estudo Científico da Consciência no coração pulsante de Nova York. No entanto, os resultados não forneceram a clareza que a comunidade científica almejava. Alguns pesquisadores se inclinaram para a Teoria da Informação Integrada, enquanto outros viram mais mérito na Teoria do Espaço de Trabalho Global.

O debate emocionante não ressoou apenas nos corredores da academia; capturou a atenção de publicações renomadas como Science, Nature e até veículos mainstream como o New York Times e The Economist. À medida que o mundo se aprofundava na narrativa que se desdobrava, as teorias não apenas despertaram a curiosidade, mas também acenderam um discurso contencioso entre os conhecedores dos estudos de consciência.

A Teoria da Informação Integrada

O que é a consciência?

De um lado do debate, a Teoria da Informação Integrada do neurocientista italiano Giulio Tononi propõe uma perspectiva cativante. De acordo com a IIT, a consciência é sinônimo da quantidade de “informação integrada” que um sistema incorpora. Essa teoria se aventura em um domínio onde até mesmo sistemas simplistas, como uma grade de circuitos de computador inativos, poderiam possuir uma semelhança de consciência.

Em termos mais simples, a consciência surge de sistemas que podem tanto armazenar uma rica variedade de informações quanto integrar essa informação de uma maneira unificada.

As implicações audaciosas da IIT não apenas agitaram as águas; levaram a uma carta aberta, escrita por 124 distinguidos cientistas e filósofos da consciência, rotulando a Teoria da Informação Integrada como “pseudociência”.

Essa denúncia causou um efeito cascata em toda a comunidade científica. As críticas foram tríplices. Primeiramente, a carta opinava que a Teoria da Informação Integrada foi indevidamente colocada em um pedestal, recebendo mais cobertura da mídia do que talvez merecesse. Em segundo lugar, expressava preocupações sobre as potenciais ramificações da IIT, especialmente quando se trata de práticas clínicas concernentes a pacientes em coma, debates éticos sobre a sentiência de IA, pesquisa com células-tronco e as questões contenciosas de testes em animais e aborto. Por último, e mais veementemente, a carta apelidava a IIT de “pseudociência” devido à sua falta percebida de testabilidade empírica.

A acusação de pseudociência não foi levada de ânimo leve, e epitomizou a discordância feroz entre diferentes facções dentro do domínio da pesquisa da consciência. Os críticos argumentavam que os princípios fundamentais da Teoria da Informação Integrada não eram corroborados por evidências empíricas e, portanto, não poderiam ser testados de maneira significativa no concurso frente a frente mais cedo naquele ano. No entanto, os proponentes da IIT contra-argumentavam que a teoria de fato gera previsões testáveis, um marco de uma teoria genuinamente científica. Eles afirmavam que desacreditar a IIT como pseudociência não era apenas impreciso, mas também prejudicial ao espírito da investigação científica.

Apesar do fervor em torno da Teoria da Informação Integrada, é inegável que ela permanece uma contendora notável na arena da consciência. Uma pesquisa conduzida entre cientistas da consciência durante 2018 e 2019 revelou que quase metade dos entrevistados considerava a IIT como provavelmente ou definitivamente “promissora.” Além disso, a teoria encontrou seu lugar entre as teorias mais discutidas da consciência, ficando atrás apenas da Teoria do Espaço de Trabalho Global e da Teoria do Processamento Recorrente. As discussões em torno da IIT sublinham seu apoio significativo dentro da comunidade científica, mesmo em meio às críticas estridentes.

A Teoria do Espaço de Trabalho Global

O que é a consciência?

A Teoria do Espaço de Trabalho Global (GWT, na sigla em inglês para Global Workspace Theory) é outra proposta fascinante no domínio da ciência da consciência. Desenvolvida inicialmente pelo psicólogo cognitivo Bernard Baars nos anos 1980, essa teoria sugere que a consciência funciona um pouco como um teatro, onde várias regiões do cérebro competem para ter suas informações “no palco” do espaço de trabalho global, tornando essas informações disponíveis para uma ampla gama de processos mentais.

A ideia central da GWT é que em qualquer momento, muitos processos cognitivos e percepções diferentes estão ocorrendo no cérebro, mas apenas uma pequena parte dessas informações alcança um estado de consciência clara. O “espaço de trabalho global” é visto como uma espécie de palco ou plataforma central que permite que diferentes sistemas e processos cerebrais compartilhem informações e recursos. Quando uma informação é trazida para este espaço de trabalho global, ela se torna acessível a outros sistemas, como a memória, a atenção e o planejamento de longo prazo.

Aqui está um exemplo para ilustrar: imagine que você está em uma sala barulhenta com várias conversas acontecendo ao mesmo tempo. De repente, você ouve alguém mencionar seu nome em uma dessas conversas. De acordo com a GWT, seu nome, ao ser reconhecido, é trazido para o espaço de trabalho global, permitindo que você direcione sua atenção e recursos cognitivos para essa conversa particular.

A GWT oferece uma explicação para como e por que apenas certas informações entram em nossa consciência enquanto outras permanecem no fundo. Ao fazer isso, proporciona uma visão sobre como diferentes processos e sistemas cerebrais podem competir e colaborar para formar nossa experiência consciente.

Outras teorias que explicam a consciência

Além da Teoria da Informação Integrada e da Teoria do Espaço de Trabalho Global, aqui estão algumas outras teorias notáveis:

  1. Teoria da Orquestração Objetiva (Orch-OR): Proposta por Roger Penrose e Stuart Hameroff, essa teoria sugere que a consciência emerge de processos quânticos que ocorrem em estruturas microtubulares dentro dos neurônios.
  2. Teoria do Processamento Recorrente (RPT): Esta teoria propõe que a consciência surge de ciclos de processamento de informações recorrentes no cérebro, onde a informação é processada de forma iterativa até que uma solução ou resposta seja alcançada.
  3. Teoria da Resonância Adapitva (ART): Desenvolvida por Stephen Grossberg, a ART sugere que a consciência surge de redes neurais que estão em um estado de “ressonância” ou harmonia, facilitando a aprendizagem e a percepção.
  4. Teoria da Simulação Cerebral: Esta teoria sugere que a consciência é o resultado de simulações cerebrais que nos ajudam a prever e entender o mundo ao nosso redor.
  5. Teoria da Identidade Cérebro-Mente: Propõe que estados mentais e estados cerebrais são idênticos, e que a consciência é um produto direto da atividade cerebral.
  6. Teoria dos Campos Neurais Dinâmicos (Dynamic Neural Field Theory): Propõe que a consciência emerge de campos neurais dinâmicos que evoluem ao longo do tempo com base nas interações entre neurônios.

Cada uma dessas teorias oferece uma perspectiva única sobre a consciência e reflete a diversidade de pensamento e a complexidade do desafio que a questão da consciência apresenta. A pesquisa contínua e o debate entre essas várias teorias são vitais para avançar nossa compreensão da consciência e explorar as profundezas desse fenômeno misterioso e fundamental.

Nesta expedição espirituosa de desvendar a consciência, cada teoria, cada debate e cada descoberta nos aproximam da compreensão do grande tecido da existência. A narrativa da Teoria da Informação Integrada e seu debate subsequente é apenas um capítulo na odisseia duradoura de entender a consciência, uma odisseia que continua a cativar, desafiar e inspirar a comunidade científica e além.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.